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INICIAL DO NOME:

ARNALDO CARDOSO ROCHA

OCORRÊNCIA

de acordo com versão oficial foi morto na emboscada da rua Caquito, em 15 de março de 1973, na Penha, Zona Leste da Cidade de São Paulo (SP), junto com Francisco Emanoel Penteado e Francisco Seiko Okama.

DADOS PESSOAIS
Filiação: João de Deus Rocha e Annette Cardoso Rocha.
Data e local de nascimento: 28 de março de 1949, em Belo Horizonte (MG)
Profissão: Ex-soldado do Exército, trabalhou no Colégio Militar, na Pampulha, na capital mineira
Atuação política: Militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e (ALN)
Data e local da morte/desaparecimento: de acordo com versão oficial foi morto na emboscada da rua Caquito, em 15 de março de 1973, na Penha, Zona Leste da Cidade de São Paulo (SP), junto com Francisco Emanoel Penteado e Francisco Seiko Okama.
Organização política: Ação Libertadora Nacional (ALN).

Arquivos

RELATO DO CASO

De acordo com versão oficial, morto na emboscada da rua Caquito, em 15 de março de 1973, na Penha, Zona Leste da Cidade de São Paulo (SP), junto com Francisco Emanoel Penteado e Francisco Seiko Okama, Arnaldo Cardoso da Rocha nasceu em 28 de março de 1949, em Belo Horizonte (MG), filho de João de Deus Rocha e Annette Cardoso Rocha. Dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN). Cursou o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginásio no Colégio Padre Machado, em Belo Horizonte. Iniciou sua militância política no Partido Comunista Brasileiro (PCB), quando cursava o colegial (atual ensino médio), influenciado pelo pai, um antigo militante comunista. Não chegou a concluir o 2° grau em razão dos rumos que o movimento estudantil tomou, após o golpe de Estado de 1964. Era bastante reservado em relação à sua militância política. Ex-soldado do Exército, trabalhou no Colégio Militar, na Pampulha, na capital mineira. Ao deixar a militância no PCB, com outros jovens, participou da Corrente, passando a viver na clandestinidade em 1969. Em seguida, ingressou na ALN. Em 1971, passou a integrar o Comando Nacional da ALN. Perseguido pela repressão, em 1972 foi para o exterior. Esteve em Cuba, voltando logo ao Brasil. Atuou na região Nordeste e, após a morte do dirigente da organização, Iuri Xavier Pereira, em 14 de junho de 1972, Arnaldo passou a atuar em São Paulo (SP). Sua família soube da sua morte pela televisão. Viajou para São Paulo, conseguindo resgatar seu corpo e enterrá-lo no Cemitério Parque da Colina, na sua cidade natal. Arnaldo era casado com Iara Xavier Pereira, também militante da ALN. Não chegou a conhecer o filho, Arnaldo Xavier Cardoso Rocha, nascido a 5 de setembro de 1973. Em 1994, aos 20 anos, seu filho, estudante de Engenharia Florestal em Viçosa (MG), faleceu tragicamente em um desastre automobilístico (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

Segundo a versão oficial divulgada em 16 de março de 1973 nos jornais Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, pouco antes das 14h30min, os três militantes teriam sido localizados na rua Caquito, no bairro da Penha, por um carro que patrulhava a zona leste. Ao receberem voz de prisão, teriam reagido a tiros. Dois deles teriam morrido no local, em frente ao número 247, e um conseguido fugir, mas foi morto perto do local, ao enfrentar a tiros outro grupo de agentes. A mesma versão consta das requisições de exame necroscópico encaminhadas pelo DOPS/SP ao IML/SP e nos laudos necroscópicos assinados pelos legistas Isaac Abramovitc e Orlando Brandão (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

As reais circunstâncias dessas mortes não foram restabelecidas, mas a versão oficial foi questionada na década de 1980, quando Iara Xavier Pereira e Suzana K. Lisbôa estiveram na rua Caquito em busca de informações. Conversando com alguns moradores da rua, souberam que dois meninos teriam assistido ao ocorrido e conseguiram localizar um deles, que relatou em detalhes o que vira ao se deparar com o tiroteio enquanto andava de bicicleta com um amigo. Segundo ele, “[…] um rapaz moreno corria rua abaixo e, após cambalear, dobrara as pernas e caíra de bruços, quase em sua frente”. Talvez o pavor o tenha feito guardar muitos detalhes da cena, fundamentais para que se concluísse que a pessoa que vira cair era Arnaldo Cardoso Rocha, visto que um dos militantes era nissei e Penteado era louro. Ao tombar, foi imediatamente colocado no banco traseiro de um Volkswagen verde, ao lado de uma mulher com uma mecha de cabelos brancos, uma agente não identificada, mas que, segundo um testemunho, havia participado de outras operações de agentes do DOI-CODI/SP (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

O laudo de necropsia de Arnaldo descreve sete tiros, dos quais dois provavelmente correspondem aos que o fizeram tombar junto à testemunha: um no terço inferior da coxa direita, que fraturou o fêmur, e outro no terço médio da tíbia direita. Outros dois tiros são dignos de nota: o tiro fatal foi no canto externo do supercílio direito, local idêntico registrado no laudo de Francisco Seiko Okama, e o outro causou diversas fraturas na mão direita, característica da lesão de autodefesa, quando o atirador está próximo à vítima prestes a ser executada (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

Não foi realizada perícia de local, apesar da referência a um intenso tiroteio, e não foram localizadas fotos dos corpos dos militantes. Uma informação divulgada 19 anos depois, quando a revista Veja publicou duas matérias (em 20 de maio e em 18 de novembro de 1992), com base em depoimento do ex-agente do DOI-CODI/SP, Marival Chaves do Canto, que revelaram como atuavam os infiltrados nas organizações clandestinas durante a ditadura, chamados de “cachorros”, esclareceu em parte como se deu o cerco policial. De acordo com as reportagens: “Cachorro” não foi o cidadão que, no calor de um interrogatório violento, forneceu uma informação a seus carrascos. Foi o sujeito que se tornou um funcionário regular do porão, com direito a salário e, por mais estranho que isso possa parecer, até mesmo a um contrato de trabalho. Encapuzados, alguns chegaram a interrogar colegas da mesma organização. Um desses “cachorros” foi o médico João Henrique Ferreira de Carvalho, apelidado pelo DOI-CODI/SP de Jota, e citado como modelo de infiltração pela antiga Escola Nacional de Informações (Esni) (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

Segundo Marival Chaves do Canto, a atuação de João Henrique “permitiu a eliminação de pelo menos umas vinte pessoas. […] A partir de 1973, Jota delatou todos os comandos da ALN” (Veja, de 18 de novembro). A revista citou nominalmente, entre os que morreram em consequência dessas delações, Antônio Carlos Bicalho Lana, Sônia Maria de Moraes Angel Jones, Issami Nakamura Okama, Ronaldo Mouth Queiroz, Luiz José da Cunha, Wilson Silva, Ana Rosa Kucinscki e os três militantes mortos na Penha (Arnaldo Cardoso Rocha, Francisco Seiko Okama e Francisco Emanoel Penteado) (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

Arnaldo, que conseguira escapar da perseguição dos agentes de segurança diversas vezes desde a morte de José Júlio de Araújo, em agosto de 1972, relatou aos companheiros que, em algumas dessas perseguições estava presente uma mulher com uma mecha de cabelos brancos, semelhante à descrita pelo menino que testemunhou sua prisão (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

De acordo com as citadas reportagens da revista Veja, entretanto, Jota teria iniciado sua atuação como agente infiltrado no fim de 1972, sem, contudo, apresentar comprovação a respeito dessa informação. Em 2 de março de 1973, Arnaldo escapou de uma perseguição, ferido na perna, e o fato foi noticiado como um tiroteio envolvendo traficantes, conforme relatou o jornal Folha da Tarde, de 16 de março de 1973. Nesse dia, ele havia acabado de ter um encontro com Jota, evidenciando que o encontro dos órgãos de repressão política com os três militantes não fora casual, conforme a versão oficial. Isso que ficou evidenciado pela revista Veja, de 20 de maio de 1992: Em março de 1973, por exemplo, três integrantes da organização [ALN] foram fuzilados no bairro da Penha, em São Paulo. Um deles [Arnaldo] fora contatado por Jota dias antes, e a partir de então uma equipe do DOI não perdeu o seu rastro (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

Na CEMDP, os três casos foram relatados em conjunto por Luís Francisco Carvalho Filho, que registrou outras fragilidades da versão oficial: “[…] as armas que teriam sido encontradas em poder dos militantes só foram formalmente apreendidas pela autoridade militar em 19 de março, quatro dias depois, e não há notícia de que tenham sido submetidas a exame pericial”. Em depoimento, Amílcar Baiardi, preso no DOI-CODI/SP na época, afirmou que viu, pela janela, à distância, dois jovens feridos jogados na quadra de esportes daquele órgão da repressão, aparentemente sendo interrogados em meio a regozijos e comemorações ruidosas dos agentes. Ali foram deixados, por mais de uma hora, até serem recolhidos por um rabecão do IML. Amílcar calcula que os viu depois do meio-dia. Estavam com vida. Um tinha traços orientais e era chamado pelos agentes de “japonês”. Quando foi libertado, Amílcar teve acesso aos jornais e associou o fato à morte dos três militantes da ALN. Prosseguiu o relator em seu parecer: Outra evidência de que os militantes não foram conduzidos diretamente para o IML é o registro oficial de suas vestes. Segundo a requisição do IML e os próprios legistas, os três militantes estariam sem calças. […] O fato é que os próprios registros oficiais demonstram que, antes dos corpos chegarem ao IML, os três militantes foram conduzidos para algum lugar. Se chegaram sem calças ou despidos, este dado é importante porque contraria a versão oficial. Com efeito, não há uma explicação razoável para o fato dos três militantes não usarem calças e o único lugar para onde poderiam ser levados, naquelas circunstâncias, era o DOI-CODI. Luís Francisco Carvalho Filho concluiu pelo deferimento do caso: A palavra “eliminação”, por outro lado, pelo extraordinário clima de tensão política e de guerra daquela época, não causava tanta estranheza. “Segurança elimina três terroristas”, registrou a imprensa no dia seguinte. Se eliminar faz parte da lógica da guerra, não faz parte da lógica do Direito, que disciplinava as ações dos agentes do poder público. Seu dever, naquele momento, era cumprir a ordem de prisão da Justiça Militar. Registra-se que o número de tiros (15 certeiros) confere credibilidade à tese dos requerentes, de que os militantes foram executados. Mostra disposição de matar, não de deter (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

Na CEMDP, os casos de Arnaldo Cardoso Rocha (255/96), de Francisco Emanoel Penteado (180/96) e de Francisco Seiko Okama (235/96) foram aprovados por 6 votos a favor e 1 contra, o do general Oswaldo Pereira Gomes, em 24 de abril de 1997. Em homenagem a Arnaldo Cardoso Rocha, a cidade de Belo Horizonte deu o seu nome a uma rua no bairro Itapoã (Direito à memória e à verdade, 2007; Dossiê Ditadura, 2009).

Fontes e documentos consultados: Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964-1985), IEVE, 2009, p.424-427. Direito à memória e à verdade – Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Brasília: 2007, p.335-337. 109ª audiência pública da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva no dia 25 de fevereiro de 2013.

 

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

Órgão/Período

Nome

Função

conduta

Vivo/óbito

Observações

DOI-CODI/SP, 1970-1974.

Major Carlos Alberto Brilhante Ustra

Comandante do DOI-CODI/SP, no período de 1970 a 1974

Sequestro, tortura e

assassinato

vivo

 

DOI-CODI/SP - 1973

João Henrique Ferreira de Carvalho, apelidado pelo DOI-CODI/SP de Jota

Agente infiltrado

Infiltração e delação

 

Jota é citado como modelo de infiltração pela antiga Escola Nacional de Informações (ESNI), delatou os três militantes Arnaldo Cardoso Rocha, Francisco Seiko Okama e Francisco Emanoel Penteado.

Jota mapeava e monitorava militantes e  organizações. É responsável pela entrega de vários militantes para tortura e morte por agentes do estado.

DOI-CODI/SP - 1973

Agente não identificada

Agente

Prisão

 

Agente não identificada, mulher, com uma mecha de cabelos brancos, segundo um testemunho, havia participado de outras operações de agentes do DOI-CODI/SP Arnaldo, que conseguira escapar da perseguição dos agentes de segurança diversas vezes desde a morte de José Júlio de Araújo, em agosto de 1972, relatou aos companheiros que, em algumas dessas perseguições estava presente uma mulher com uma mecha de cabelos brancos, semelhante à descrita pelo menino que testemunhou sua prisão

IML, 1969.

Isaac Abramovitc

Médicos legistas

Falsificação de laudo necroscópico

vivo

 

IML, 1969.

Orlando Brandão

Médicos legistas

Falsificação de laudo necroscópico

 

 

DOCUMENTOS CONSULTADOS

  1. Documentação principal

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observações

Anexo

Declaração

 

Declaração de Iara Xavier sobre sua convivência marital com Arnaldo Cardoso da Rocha, deixando como fruto dessa união Francisco Xavier da Rocha, já falecido.

001-Declaracao-Iara.pdf

Documentos de identificação

 

Documentos com identidade falsa.

002-Documentos-com-identidade-falsa.pdf

Certidão de óbito

IML

Certidão de óbito onde consta a versão oficial da morte.

004-Certidao-de-obito.pdf

Auto de exibição e apreensão

Ministério do Exército – II Exército

Auto de exibição e apreensão de arma de fogo datado de 19 de março de 1973, quatro dias depois da prisão.

005-Auto-de-exibicao-e-apreensao-DOPS-SP.pdf

Guia de recolhimento

Ministério do Exército – II Exército

Guia de recolhimento de duas armas de fogo, que de acordo com o documento estavam em poder de Arnaldo Cardoso da Rocha.

006-Guia-de-recolhimento.pdf

Relatório de informações

Ministério da Marinha

Relatório de informações do Ministério da Marinha, p. 16, onde consta o nome de Arnaldo Cardoso da Rocha.

007-Relatorio-da-Marinha.pdf

Relatório de informações

Ministério da Aeronáutica

Relatório de informações do Ministério da Aeronáutica, p. 14, onde consta o nome de Arnaldo Cardoso da Rocha.

008-Relatorio-Ministerio-da-aeronautica.pdf

Declaração

 

Declaração de Amílcar Baiardi, onde consta a informação de que viu dois dos três jovens expostos no pátio do DOI-CODI – SP

009-Declaracao-Amilcar-Baiardi.pdf

Carta

 

Carta de João de Deus Rocha para Iara Xavier.

010-Carta-de-Joao-de-Deus-Rocha.pdf

Reportagens

 

Conjunto de notícias sobre o confronto na Penha e a morte dos três integrantes da ALN.

011-Reportagens.pdf

Dossiê

 

Trecho do dossiê da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, onde consta investigações sobre o caso de Arnaldo Cardoso da Rocha.

012-Dossie.pdf

Série de Documentos no DOPS

DOPS-SP

Série de Documentos no DOPS-SP, onde constam informações sobre Arnaldo Cardoso da Rocha, inclusive de seus nomes falsos.

013-Serie-de-Documentos-no-DOPS.pdf

 

2. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

Documento

Fonte

Observação

Anexo

Requisição e Laudo necroscópico

IML

Requisição e Laudo necroscópico assinado pelos legistas Isaac Abramovitc e Orlando Brandão, onde consta a versão oficial da morte.

003-Requisicao-e laudo-necroscopico.pdf

 

 

 

 

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

Nome

Relação com o morto/desaparecido

Informação

Fonte

Iara Xavier Pereira e Suzana Lisbôa

 

 

 

Iara Xavier Pereira e Suzana Lisbôa estiveram na rua Caquito em busca de informações. Conversando com alguns moradores da rua, souberam que dois meninos teriam assistido ao ocorrido e conseguiram localizar um deles, que relatou em detalhes o que vira ao se deparar com o tiroteio enquanto andava de bicicleta com um amigo. Segundo ele, “[…] um rapaz moreno corria rua abaixo e, após cambalear, dobrara as pernas e caíra de bruços, quase em sua frente”. Concluiu-se que a pessoa que vira cair era Arnaldo Cardoso Rocha, visto que um dos militantes era nissei e Penteado era louro. Ao tombar, foi imediatamente colocado no banco traseiro de um Volkswagen verde, ao lado de uma mulher com uma mecha de cabelos brancos, uma agente não identificada, mas que, segundo um testemunho, havia participado de outras operações de agentes do DOI-CODI/SP. Arnaldo, que conseguira escapar da perseguição dos agentes de segurança diversas vezes desde a morte de José Júlio de Araújo, em agosto de 1972, relatou aos companheiros que, em algumas dessas perseguições estava presente uma mulher com uma mecha de cabelos brancos, semelhante à descrita pelo menino que testemunhou sua prisão.

(Direito à memória e à verdade, 2007, p.335-337; Dossiê Ditadura, 2009, p.424-427).

 

Amílcar Baiardi, preso no DOI-CODI/SP na época.

 

Em depoimento, Amílcar Baiardi, preso no DOI-CODI/SP na época, afirmou que viu, pela janela, à distância, dois jovens feridos jogados na quadra de esportes daquele órgão da repressão, aparentemente sendo interrogados em meio a regozijos e comemorações ruidosas dos agentes. Ali foram deixados, por mais de uma hora, até serem recolhidos por um rabecão do IML. Amílcar calcula que os viu depois do meio-dia. Estavam com vida. Um tinha traços orientais e era chamado pelos agentes de “japonês”. Quando foi libertado, Amílcar teve acesso aos jornais e associou o fato à morte dos três militantes da ALN. Prosseguiu o relator em seu parecer: Outra evidência de que os militantes não foram conduzidos diretamente para o IML é o registro oficial de suas vestes. Segundo a requisição do IML e os próprios legistas, os três militantes estariam sem calças. […] O fato é que os próprios registros oficiais demonstram que, antes dos corpos chegarem ao IML, os três militantes foram conduzidos para algum lugar.

(Direito à memória e à verdade, 2007, p.335-337; Dossiê Ditadura, 2009, p.424-427).

 

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

Manoel Aurélio Lopes

DOPS/Escrivão de Polícia

Manoel Aurélio Lopes, escrivão do DOPS, desde 19 de setembro de 1969, assina os autos de exibição e apreensão das armas de fogo, convidado para depor, faz o seguinte depoimento, confirmando as torturas ocorridas no local: “Inicialmente, me encaminharam para a Delegacia Especializada em Ordem Política e Social, localizada do segundo andar, à época, a qual tinha como titular, Dr. Ivair de Freitas Garcia e, posteriormente, outras autoridades. E ali, como é que se diz "debutamos" na função de escrivão de polícia. Oitivas, interrogatórios, e tal” (...) trabalhei com o Dr. Edsel Magnotti, Ivair de Freitas Garcia, e outros delegados diversos, porque de vez em quando mudavam as autoridades na unidade (...) Dr. Lúcio Vieira e, posteriormente, Dr. Wanderico de Arruda Moraes”. (..) “Nesses termos que a senhora colocou, eu nunca vi. O máximo que eu vi foi usar a lata de leite ninho, o cidadão nu, subir com os dois pé, um em cima de cada lata de leite, encostado na parede, segurando duas folhas de papel com os braços abertos. O cara deixava cair a folha, o “fulano” reagia. Essa aí eu assisti e está aí. Os femininos nunca participei, via pessoas do sexo feminino sentada lá na cadeira do dragão, e no DOPS puseram até os auto-falantes na frente e depois enlouquecia até o próprio interrogador. Mas, tudo bem. Então tiveram que neutralizar, porque o som era muito estridente, então modificaram” (...) “Estão interrogando, não vou interromper, a menos que haja motivo. “Eu quero falar com o Joca”. “Está na sessão de pau”, por exemplo. Tudo bem, dou um sinal, o cara me conhece, o cara sai aqui fora, preenche, assina, faz o que precisa, e eu não me meto, porque não é da minha área”.

Recomenda-se consultar a audiência na íntegra.

109ª audiência pública da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva no dia 25 de fevereiro de 2013.

Marival Chaves do Canto

 

A Revista Veja publicou duas matérias (em 20 de maio e em 18 de novembro de 1992), com base em depoimento do ex-agente do DOI-CODI/SP, Marival Chaves do Canto, que revelou como atuavam os infiltrados nas organizações clandestinas durante a ditadura. Segundo Marival a atuação de João Henrique (Jota) “permitiu a eliminação de pelo menos umas vinte pessoas. […] A partir de 1973, Jota delatou todos os comandos da ALN” (Veja, de 18 de novembro). Entre os que morreram em consequência dessas delações, Arnaldo Cardoso Rocha, Francisco Seiko Okama e Francisco Emanoel Penteado.

Revista Veja, 20 de maio de 1992 e 18 de novembro de 1992

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Arnaldo Cardoso da Rocha foi morto sob tortura pelos agentes do DOI-CODI/SP, em 1973.

Recomendações: Retificação do Atestado de Óbito; recomenda-se a instalação de um memorial em homenagem à morte dos militantes, no local em que eles foram presos, na Rua Caquito, 247. Recomenda-se maior investigação e punição dos agentes envolvidos no caso.

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