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INICIAL DO NOME:

ISHIRO NAGAMI

OCORRÊNCIA

Morto em São Paulo – SP, em 4 de setembro de 1969

DADOS PESSOAIS
Filiação: filho de Keizo Nagami e Kikue Nagami
Data e local de nascimento: 1941, em São Paulo (SP)
Profissão: professor do cursinho Equipe, em São Paulo
Atuação política: militante da ALN
Data e local da morte/desaparecimento: Morto em São Paulo – SP, em 4 de setembro de 1969
Organização política: Ação Libertadora Nacional (ALN).

RELATO DO CASO

Ishiro Nagami nasceu em 1941, em São Paulo (SP), filho de Keizo Nagami e Kikue Nagami. Morto em 4 de setembro de 1969. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Era professor do cursinho Equipe, em São Paulo. De acordo com documentos dos órgãos de segurança, Ishiro usava o codinome Charles e teria ligações com José Wilson Lessa Sabag, assassinado por órgãos de repressão um dia antes da morte de Ishiro, e Otávio Ângelo, militante da ALN banido do Brasil em março de 1970, em troca da libertação do cônsul japonês em São Paulo. Ishiro Nagami foi sepultado pela família no Cemitério de Guarulhos (SP) (Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

Ishiro Nagami teria morrido junto com Sérgio Roberto Corrêa rua da Consolação, em São Paulo, na madrugada de 4 de setembro, quando o Volkswagen em que se encontravam explodiu, supostamente por estarem transportando explosivos (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 101-102; Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

Um recorte, provavelmente de revista, sem nome e sem data, encontrado nos arquivos do DOPS/SP noticiou:

Eram 5h20m da madrugada de quinta-feira, dia 4, e a rua ainda estava quase deserta. A explosão danificou um prédio de quatro andares situado a 20 metros de distância. Dois guardas correram para o local e ainda viram um Chevrolet Bel-Air, que seguia atrás do Volks, afastar-se rapidamente. No meio dos destroços, a polícia encontrou panfletos, dois revólveres, uma pistola automática. Presumem as autoridades que os ocupantes transportavam uma bomba-relógio que detonou antes da hora ou uma carga de nitroglicerina, capaz de explodir pelo próprio balanço do veículo. Os dois homens foram identificados: Ishiro Nakami [sic] e Yoshihiro Omo [sic]. O primeiro era o dono do carro; no seu apartamento foram confiscados 14 quilos de dinamite e presas duas pessoas (apud Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

 

Percival de Souza, em seu livro Autópsia do Medo [em anexo], acrescenta mais dados a esta versão, indicando contradições na versão oficial:

 

A repressão justificava sua postura com uma série de argumentos. Um deles foi a explosão de um carro Volkswagen na madrugada de 4 de setembro de 1969 na Rua Consolação, em São Paulo, bem em frente ao número 770, próximo à Rua Maria Antônia, onde funcionava o Hotel Pink. O carro era um Fusca modelo do ano, azul, placa 44-5275, e estava em movimento seguido por um Chevette que, após a explosão, se desviou dos destroços e fugiu, tendo a persegui-lo sem êxito a viatura da Radiopatrulha. Dois ocupantes do Fusca morreram nessa explosão da bomba que eles mesmos transportavam. O general Luiz Felipe foi lá cheirar a pólvora e concluiu: “Essa foi roubada de Mogi das Cruzes”. Uma das vítimas era o jovem motorista Ishiro Nagami, que não morreu na hora, embora jogado junto à calçada. Um carro da polícia levou-o ao Hospital das Clínicas e aí o rapaz, quase morto, ainda foi forçado a dizer onde morava. A seu lado no Fusca ia alguém que a princípio se pensou ser uma mulher, por causa dos chumaços de cabelos longos. Teve o seu corpo completamente despedaçado, com partes dele indo parar a mais de 50 metros do local da explosão, junto com ferros retorcidos que voaram em todas as direções. Um dos bancos dianteiros estava a cerca de 20 metros da carcaça do carro, virado para baixo e cheio de carne humana. Duas pernas inteiras estavam no asfalto, separadas do corpo à altura do joelho. Três armas que estavam no carro ficaram intactas, embora também arremessadas para fora: um revólver calibre 38, outro calibre 32 e uma pistola 6,35 mm. Também não foi destruída a carteira de habilitação de Ishiro. Quanto à segunda vítima da explosão no Fusca, era homem também. Ao amanhecer, [o local estava] cheio de gente do II Exército, do Dops e da Polícia Federal [...]. Indócil, o delegado Hélio Tavares, da Rudi, ofendia um jornalista, a seguir espancado por milicianos da Força Pública. O delegado Tavares iria trabalhar no Dops, transformando-se num dos principais auxiliares do delegado Sérgio Fleury (apud Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

 

Embora Sérgio e Ishiro tenham sido vítimas do mesmo acidente, o primeiro deu entrada no IML às 9 horas e Ishiro somente às 11 horas, segundo o laudo de necropsia de ambos, corroborando a informação de Percival de Souza. A perseguição de um carro, o Chevette, e da radiopatrulha, que poderiam ter provocado a explosão no carro das vítimas e, principalmente, o fato de Ishiro ter morrido no hospital, após ser “interrogado”, enfatizam a necessidade de mais investigações para esclarecer o caso. De modo similar a outros casos analisados na CEMDP, a Ishiro não foi garantido o direito ao tratamento médico necessário (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 101-102; Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

Segundo o recorte de jornal, sem data e nome, os órgãos de segurança informaram que os policiais localizaram o endereço de Ishiro pelos seus documentos de motorista. Na rua Jaguaribe, 619, teriam prendido dois professores do cursinho Equipe e apreendido mais de 50 cartuchos de dinamite roubados da Indústria de Explosivos Rochester, em Mogi das Cruzes (SP), em dezembro de 1968 (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 101-102; Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

O relator do caso de Ishiro (100/03) na CEMDP, Belisário dos Santos Júnior, procurou o jornalista Percival de Souza, o qual declarou que os fatos mencionados em seu livro “[...] correspondem in totum ao que foi possível reconstruir, com o recurso da história obtida através da via oral, mesmo porque a maioria dos documentos oficiais da repressão política foi destruída” (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 101-102; Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

O caso foi indeferido por unanimidade, em 26 de agosto de 2004, em função de a Comissão Especial ter considerado não comprovada a responsabilidade do Estado por sua morte (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 101-102; Dossiê Ditadura, 2009, p. 147-149).

 

 

Fontes e documentos consultados: Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964-1985), IEVE, 2009, p. 147-149. Direito à memória e à verdade – Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Brasília: 2007, p. 101-102. 

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

Órgão/Período

Nome

Função

conduta

Vivo/óbito

Observações

 

Luiz Felipe

General

Omissão de socorro e interrogatório em pessoa quase morta.

 

Ishiro Nagami não morreu na hora, e ficou jogado junto à calçada. Um carro da polícia levou-o ao Hospital das Clínicas e o rapaz, quase morto, ainda foi forçado a dizer onde morava.

II Exército – Dops – Polícia – Federal – RUDI

 

 

Hélio Tavares

Delegado

Omissão de socorro e interrogatório em pessoa quase morta.

 

Futuro auxiliar do delegado Sérgio Fleury no DOPS.

Ishiro Nagami não morreu na hora, e ficou jogado junto à calçada. Um carro da polícia levou-o ao Hospital das Clínicas e o rapaz, quase morto, ainda foi forçado a dizer onde morava.

 

DOCUMENTOS CONSULTADOS

  1. Documentação principal

 

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observações

Anexo

Documentos do Dossiê da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos

 

Consta no conjunto de documentos do Dossiê da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos, nas folhas 11, a certidão de óbito, nas folhas 14, 15 e 16,  trecho do livro Autópsia do Medo, de Percival de Souza, e na folha 24 reportagem da época com informações sobre o caso.

001-Ishiro-Nagami.pdf

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

 

Documento

Fonte

Observação

Anexo

Documentos do Dossiê da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos

 

Consta no conjunto de documentos do Dossiê da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos, nas folhas 69, 70 e 71 requisição de exame necroscópico, nas folhas 72, 73 e 74 laudo necroscópico.

001-Ishiro-Nagami.pdf

 

 

 

 

 

 

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

 

Nome

Relação com o morto/desaparecido

Informação

Fonte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

 

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”.

 

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Ishiro Nagami foi morto sob responsabilidade de agentes públicos vinculados à repressão política.  

 

Recomendações: Cabe ao estado brasileiro esclarecer em que circunstâncias se  deram a prisão, os interrogatórios e a morte de Ishiro Nagami e responsabilizar os agentes públicos  que  cometeram tais crimes. Recomenda-se também a retificação de seu atestado de óbito.

Que o Estado brasileiro reconheça e declare a condição de anistiado político de Ishiro Nagami, pedindo oficialmente perdão pelos atos de exceção e violações de direitos humanos que foram praticados contra esse morto político.

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