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INICIAL DO NOME:

JOSÉ CAMPOS BARRETO (ZEQUINHA)

OCORRÊNCIA

Desaparecido em Salvador-BA após ser assassinado no povoado de Pintada, município de Ipupiara-BA, no dia 17 de setembro de 1971

DADOS PESSOAIS
Filiação: José de Araújo Barreto e Adelaide Campos Barreto
Data e local de nascimento: 2 de outubro de 1946, em Brotas de Macaúbas (BA)
Profissão: Operário metalúrgico
Atuação política: Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8)
Data e local da morte/desaparecimento: Desaparecido em Salvador-BA após ser assassinado no povoado de Pintada, município de Ipupiara-BA, no dia 17 de setembro de 1971
Organização política: Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Arquivos

BIOGRAFIA

Nasceu em 2 de outubro de 1946, em Brotas de Macaúbas (BA), filho de José de Araújo Barreto e Adelaide Campos Barreto. Morto em 17 de setembro de 1971. Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Zequinha, como era chamado pela família, era o mais velho dos sete filhos. (Dossiê Ditadura, p. 276) O casal camponês morou por um tempo no povoado do Pé do Morro, mas em 1951 mudaram-se com os filhos para o Buriti Cristalino. Eles mantinham um padrão de vida simples, possuíam uma loja de tecidos ao lado de casa, plantavam na roça, cuidavam do gado e seus sete filhos ajudavam no afazeres. Zequinha, Olderico, Ana, Maria Dolores, Otoniel, Ednalva e Olival foram criados dentro de uma educação muito rigorosa, seus pais eram católicos fervorosos, exigiam perfeição nas tarefas por acreditarem que era a melhor forma de torná-los cidadãos de bem. Zequinha, ao completar 12 anos, foi enviado para um seminário em Garanhuns – PE. No primeiro ano de estudos, dona Nair recebeu uma carta do diretor, a qual parabenizava, ela e seu marido, pela excelente formação de Zequinha. Ele foi submetido a um teste para definir em que grau iria entrar na escola, acabou tirando a melhor nota da turma, o que gerou grande satisfação. Ele tinha férias do seminário uma vez por ano. No mês de dezembro retornava ao Buriti e a família Barreto ficava completa. Passou dois anos em Garanhuns e depois foi transferido para Campina Grande, na Paraíba. Em 1964, quando retornou do seminário, disse que não queria ser padre. A partir daí a opção foi ir para São Paulo trabalhar, pois lá não tinha muitas opções para trabalhar. Já com 18 anos, foi servir ao Exército. (Zequinha Barreto: a trajetória de um Revolucionário)

 

Chegou no Forte de Quitaúna, em Osasco, mesmo quartel que Carlos Lamarca serviu,  com grande desejo de fazer carreira militar. Seguiu passo a passo as orientações e as normas rígidas do seu ofício. Saía de casa bem cedo, em silêncio arrumava seu uniforme verde, fazia a barba, observava atentamente ao espelho, muita disciplina nos detalhes e seguia para o quartel. Ficou muito empolgado, contou para o tio que um senhor que ele conheceu poderia ajudá-lo a ir para Agulhas Negras, a primeira escola militar das Américas, instalada no Rio de Janeiro. Ao completar dois meses de serviço militar, ele chegou em casa com uma medalha e falou  para o tio Pedro Ferreira que tinha sido promovido a cabo. (Zequinha Barreto: a trajetória de um Revolucionário)

 

Quando terminou o tempo de serviço obrigatório e Zequinha foi dispensado, apesar do seu excelente desempenho. O Brasil já estava em plena Ditadura e ele foi buscar emprego nas fábricas. Em Osasco, havia um grupo que se reunia na Vila Yolanda para discutir as dificuldades dos trabalhadores. Os diálogos entravam pela madrugada e ali estavam os amigos: Zequinha Barreto, Antonio Roberto Espinosa, Osni Gomes, João Joaquim da Silva, Roque Aparecido da Silva e o irmão João Domingues da Silva, entre outros. O papo entre camaradas era pautado pelas notícias do dia, pela viola de Zequinha, e em qualquer período o assunto era política. Os trabalhadores de Osasco, assim como em todo o Brasil, viram seus sonhos de mudança devidamente ameaçados pelo regime ditatorial quando os sindicatos foram tomados. As eleições para presidência sindical eram compostas pelos interventores designados pelo regime. Tudo uma farsa. Enquanto isso, o arrocho salarial atormentava os operários e as lideranças envolvidas nas causas trabalhistas foram violentamente perseguidas. Era preciso arranjar uma maneira de colocar um novo representante, alguém que iria comprometer-se não só com a política salarial, pois a situação se agravava, mas também com outras reformas a serem feitas. Para melhorar as condições dos operários, era preciso o enfrentamento dos “patrões”. Ainda em 65 começaram as primeiras lutas contra o “arrocho”.

 

Os eventos organizados pelos sindicatos, não passavam de encontros com as autoridades, e assim permaneceu até o início de 1966. Mesmo que os representantes sindicais estavam diretamente ligados aos donos das fábricas, os trabalhadores, na medida do possível, tratavam de pressioná-los de alguma forma. Nessa época, foi organizada uma reunião em que convidaram a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria, com a participação de todos os sindicatos, ainda com foco na revisão da política salarial. Elaboraram um manifesto que continha uma análise da legislação salarial do governo e partiram para propostas de modificações. O clima ainda estava relativamente pacífico e os resultados insatisfatórios. A campanha permaneceu durante todo o ano de 1966 até o início de 1967.

 

Organizaram então um ato público, quando convidaram o ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, que nem sequer apareceu. O ministro mandou um representante que não se pronunciou durante todo o evento, o que acabou frustrando os desejos de mudança quanto às causas dos trabalhadores. Todavia, clima efervescente em Osasco permaneceu, garantindo ações que iriam dar novo rumo à cidade e, tão logo, em vários cantos do país. Zequinha mostrou-se um exímio articulador dos trabalhos de base. Era um camarada bem quisto, marcado pela serenidade e bastante inteligente. Fora convidado para fazer contato com as organizações socialistas: o Comando de Libertação Nacional (Colina) de Minas Gerais, através do militante João Batista; o Partido Operário Comunista (POC) e com a Ação Libertadora Nacional (ALN) que era liderada por Carlos Marighella.

 

A sua capacidade lhe garantia uma vaga em um cargo mais confortável na fábrica, chegou a comentar com o tio, que questionou porque ele não aceitava, pois ele poderia melhorar suas condições e também ajudar a família. Zequinha retrucou, disse que sua família era o povo brasileiro. Continuou seu trabalho e os estudos, gostava muito de ler, era um operário e estudante, como muitos trabalhadores de Osasco. Matriculou-se no Colégio Estadual Antônio Raposo Tavares (Ceneart), chegou a ser colega de Roque em 1967. Barreto terminou o curso clássico, cujo foco era disciplinas das ciências humanas e ele gostava muito de filosofia, assim como gostava muito de política, mantinha seus estudos lendo toda a literatura clássica sobre o socialismo e o combate ao imperialismo. Questionava a conjuntura política brasileira, o sangue que corria nas suas veias já carregava o desejo de mudanças profundas.

 

Ainda em 1965, através de um decreto do regime militar, foi extinta União dos Estudantes de Osasco (UEO), o mesmo que extinguiu a União Nacional dos Estudantes (UNE) e as Uniões Estaduais Estudantis (UEE). Os estudantes de Osasco participaram de uma reunião, espalharam-se em uma escada para discutir a criação de outro núcleo e nasceu o Círculo Estudantil de Osasco (CEO). A participação efetiva de Zequinha o levou à presidência. A proposta agora era mais incrementada, enquanto a UEO tratava apenas de organizar e conduzir mobilizações táticas e reivindicatórias, o CEO ultrapassou essa margem e partiu para a contestação, almejando a consolidação de um projeto político e operário. Para discutir os direitos trabalhistas, era preciso articular um processo de resistência e os trabalhadores pensavam mesmo em revolução. Nos diversos encontros, trabalhadores e estudantes refletiam sobre a situação de Cuba, sobre a luta no Vietnã. O CEO organizava cursos de formação política, leitura de textos clássicos como: Lênin, Marx, Che Guevara, entre outros.

 

O sentimento de coletividade era uma característica própria do Barreto. Na fábrica, ele assumiu a tarefa de sensibilizar seus companheiros, ampliar a discussão sobre as causas dos trabalhadores e de uma participação mais efetiva na reivindicação. Uma coisa que favoreceu muito sua tarefa foi exercer a função de apontador, aquele funcionário que soma as horas trabalhadas, acrescenta os prêmios de produção, o valor do Descanso Semanal Remunerado, os vales de adiantamento, de refeição e lançava tudo na ficha do trabalhador. O metalúrgico Odin Jiorjon relatou: “Cada dia ele almoçava num lugar, para discutir com um pessoal diferente, falar de política. Se tinha dois sujeitos falando de futebol no banheiro e chegava Barreto, já começava a falar de greve, de política. Era um camarada decidido”. (Citação do livro Obscuros heróis de Capricórnio: contribuição à memória brasileira de Orlando Miranda)

 

 

Em 1966, trabalhou na Lonaflex e na Bromoveri fazendo as mesmas ações de organização com os trabalhadores, que o chamava não de Zequinha, mas pelo seu sobrenome Barreto. Mais tarde foi para a Cobrasma. O ano de 1968 foi um ano marcante e decisivo para os trabalhadores que estavam vivendo na pele o arrocho salarial imposto pela ditadura. O 1º de Maio de 1968 organizado pelo movimento operário e estudantil de Osasco e São Paulo gerou impulso para a grande greve de 1968, a Greve da Cobrasma. Estudantes e operários saíram bem cedo em caravana com destino à Praça da Sé para fazer valer o dia do trabalhador. Quando o grupo chegou à praça rompeu o cordão de isolamento e, em pouco tempo, os manifestantes tomaram o palanque, outros começaram a jogar pedras, expulsaram o governador Abreu Sodré e outras pessoas que estavam à frente do evento. Zequinha juntou-se com outras pessoas logo após a expulsão e, todos que estavam presentes foram convidados a ir até a Praça da República. Saíram em passeata pela Avenida São João. Começam a discursar pessoas de peso na luta dos trabalhadores, como Mirando Barbosa que integrava a Ação Popular Marxista Leninista do ABC paulista; O José Cobertino Novaes da construção civil e o Manoel Dias do Nascimento. Zequinha fez o último discurso falando da importância da luta contra o imperialismo norte-americano; que tinha muito respeito ao maior líder da juventude latino-americana - Ernesto Che Guevara; exigindo o fim da ditadura; o apoio à revolução cubana; o fim do arrocho salarial e o apoio à greve de Contagem-MG. A manifestação não foi reprimida. Lamarca acompanhou o evento, manteve a tropa do 4º RI sob seu comando, caso Abreu Sodré mandasse a polícia atacar, ele autorizaria seus soldados a defender os trabalhadores. Zequinha e a classe trabalhadora de Osasco deram início aos trabalhos de articulação da greve da Cobrasma. (Zequinha Barreto: a trajetória de um revolucionário)

 

Em Osasco, existiam vários grupos diretamente ligados na organização da classe trabalhadora. A Polop, o movimento trotskista, e outros agrupamentos menores sem nomes definidos somavam forças com o sindicato. Muitas idéias surgiam na hora de pensar as estratégias do movimento. O terreno estava fértil para grandes reivindicações naquele ano. A ditadura, através do Ministério do Trabalho, agia destituindo as diretorias dos sindicatos. Estima-se que, de 1964-1970, pelo menos 563 sindicatos tenham sido alvo de interventores. Quatro, das seis confederações de empregados, também foram tomadas. O governo do presidente Castelo Branco havia estabelecido uma legislação que praticamente proibia o direito de greve. Organizaram comissões em algumas fábricas como: a Barreto-Keller, Lonaflex, Cobrasma, Braseixos e outras indústrias pequenas. Imaginavam que o movimento poderia se estender até o ABC e quem sabe até a baixada santista. Nessa época, Zequinha trabalhava na Cobrasma como apontador de produção. Esta função lhe permitiu uma movimentação muito grande dentro da fábrica. Tratava de sensibilizar todos para mobilizarem-se, estava muito animado e confiava que o evento poderia se espalhar pelo país. No decorrer dos encontros da comissão organizadora, escolheram a data da greve: dia 16 de julho. Quando a greve começou, foi organizada uma reunião com os trabalhadores e durante os debates, decidiram que o maior objetivo era o aumento salarial e essa foi a única alternativa luta contra o arrocho. Naquele momento, concluíram também que os menores e as mulheres estavam dispensados. Os engenheiros da Cobrasma ficaram retidos dentro de uma sala, onde faziam os modelos das peças que depois seguiriam para a moldagem manual. Embaixo dessa sala, funcionava um tanque de gasolina. Já sentiam um clima diferente, volta e meia chegava uma notícia de que tinha um grupo de policiais querendo invadir a Lonaflex e poderiam chegar até a Cobrasma. Os grevistas não se sentiram intimidados, queriam resolver a situação através do diálogo para o atendimento às causas daquele momento. Por volta das 19h00, chegou o batalhão da polícia. Havia uma linha de trem paralela com a Cobrasma de onde saiam os vagões. O portão da fábrica estava trancado, do lado de fora ficaram os soldados com suas cavalarias, e, dentro da empresa, em uma distância de aproximadamente três metros, estavam os operários. Zequinha subiu em um vagão e gritou: - Atenção soldados! Daí, ele começou a discursar, conclamando aos soldados para não reprimir os trabalhadores, falou sobre a importância da greve, argumentou que ali dentro da empresa tinha pais, avôs e avós daqueles soldados, que todos estavam lutando para ter um salário digno. Naquele momento, o discurso de Zequinha pareceu tocá-los de uma maneira que resolveram recuar. José Ibrahim descreve aquele momento: “Foi uma cena impressionante, toda a massa se colocou atrás dele e os soldados vacilaram. A oficialidade da força pública teve que usar firmeza para fazê-los avançar”. Os soldados foram ao encontro dos seus superiores e não demoram muito tempo. Voltaram decididos a invadir, o impulso dos comandantes foi taxativo. Barreto viu que a situação ia ficar incontrolável e precisava tentar impedir que os soldados avançassem para reprimi-los. Acendeu uma tocha, correu para perto do depósito de gasolina e gritou: “Ou vocês param, ou vai todo mundo pro inferno!”. Com essa intervenção, ele favoreceu à fuga dos grevistas. Zequinha, muito solidário, foi ajudar os seus companheiros a pular o muro. Saiu quase por último e terminou surpreendido pelos soldados, que o levaram preso. Zequinha, muito solidário, foi ajudar os seus companheiros a pular o muro. Saiu quase por último e terminou surpreendido pelos soldados, que o levaram preso. Então, Jarbas Passarinho disse aos jornais: “A Cobrasma está sob controle. José Campos Barreto foi preso”. Zequinha estava planejando que Olderico fosse morar em São Paulo, mas depois do episódio, seu tio Isai, o irmão de dona Nair, mandou um telegrama dizendo: “Querida Nair, aqui greve, não mande Olderico agora”. Em seguida, Isai mandou uma página do jornal com a seguinte manchete “Tudo normal na região do ABC”, com uma foto de Zequinha algemado. Ele permaneceu 98 dias preso no DOPS-SP, passando os últimos dias no presídio do Carandiru e ao sair passou a viver clandestinamente. Foi torturado durante muitos dias, a polícia quis saber o nome dos organizadores da greve, mas ele nada respondia. Estando à frente da manifestação, Barreto tornou-se um prisioneiro valioso, possivelmente, a coisa que o exército mais desejava, era isolá-lo da sociedade. Pois, ao colocar-se à frente das negociações, chamou a atenção de todos. Os militares o consideraram o “elemento mais ativo na greve de Osasco”, como está descrito nos documentos emitidos pelo quartel general do II exército. (Zequinha Barreto: a trajetória de um revolucionário)

 

No dia 28 de agosto de 1968, o ministro do Superior Tribunal Militar (STM), general Pery Beviláqua, questionou a legitimidade da prolongada prisão. No relatório, ele argumentou que a greve de Osasco não assumia esse caráter (crime contra a segurança nacional) e competia ao Ministério do Trabalho através da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) ou à Justiça Federal julgar o caso. Beviláqua frisou que crime seria se a greve acarretasse paralisação do serviço público ou atividades essenciais, com a finalidade de coagir os poderes da República. Na ocasião, os trabalhadores estavam reivindicando melhoria salarial e, sendo assim, a Justiça Militar era incompetente para cuidar do caso. Cerca de 400 trabalhadores acabaram presos mas não ficaram mais do que uma semana. Barreto conseguiu um habeas corpus e passou a viver na clandestinidade. Militou na VPR e, no começo de 1970, voltou à Bahia com o irmão Olderico, já militando no MR-8. (Zequinha Barreto: a trajetória de um revolucionário)

 

Zequinha passou a viver na clandestinidade. Ficou um período no Rio de Janeiro como militante da VAR-Palmares. Entre 1969 e 1970 percorreu diversos locais mas seu destino foi a Bahia. Em Salvador, em contato com militante do MR-8 que disse que precisava de um local para o capitão Carlos Lamarca passar um tempo longe dos seus perseguidores. Zequinha se encarregou da tarefa de abrigar o capitão ao lado da sua família no povoado do Buriti Cristalino, chegaram lá em junho de 1971.

 

 

CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE OU DO DESAPARECIMENTO FORÇADO

O exército brasileiro encomendou a Operação Pajussara. Foi assim denominada pelo líder, o então major Nilton Albuquerque Cerqueira, chefe da 2ª Seção do Exército na Bahia, em homenagem à sua praia favorita de Alagoas. Ele e Sérgio Paranhos Fleury, chefe do esquadrão da morte de São Paulo, foram os principais cabeças da operação. Iara Iavelberg foi um dos primeiros alvos, descobriram o apartamento que ela estava em Salvador e foi morta no dia 20 de agosto de 1971.

 

Aproximadamente 215 homens estavam envolvidos na caça a Lamarca e Zequinha. Já havia confirmação de que o exército chegara a Oliveira dos Brejinhos. Os irmãos Olderico e Otoniel viveram um momento de tensão. Zequinha tinha ido a Brotas de Macaúbas, mas tinha marcado um encontro em três horários diferentes e nada de aparecer. Olderico pensou: foi preso! Discutiu com Otoniel que providências deveriam tomar e, de repente, ouvem o irmão assobiando “A Internacional”, uma canção definida como senha. Lamarca veio junto, ainda brincou: - Volte imediatamente. Vá se entregar à repressão. Só assim saberemos se os planos que fizemos aqui vão dar certo.

 

Zequinha ficou rindo e explicou o motivo da demora. Uma mula solta no pasto deu trabalho para pegar. A última reunião aconteceu no final da tarde. Ficariam no acampamento: Lamarca, Zequinha e Santa Bárbara. Por volta de meia noite, Olderico e Otoniel foram para casa, já haviam planejado uma história para contar, caso o exército chegasse. Durante a madrugada, Santa Bárbara resolveu voltar para a casa da família Barreto, sem que seus companheiros percebessem.

 

A equipe “ALFA” localizou o “aparelho rural” por eles chamado de Fazenda Buriti [segundo o relatório da Operação Pajussara]. Na manhã de 28 de agosto de 1971, Maria Dolores, irmã de Zequinha, 15 anos, tinha saído bem cedo para buscar água em um riacho perto. Na época, o povoado não tinha água encanada. Por volta das seis e meia da manhã, Dolores retorna com a lata d’água na cabeça e de longe avistou homens com metralhadoras cercando a frente da sua casa. Ela estava no meio de uma roça, pegou um caminho diferente para tentar chegar pelos fundos. Entrou pelo mato, passando por trás de umas pedras.

 

Dolores sabia do que se tratava, embora não conhecesse Lamarca, sabia que tinha um amigo de Zequinha na propriedade da família. Ela queria avisar seus irmãos. Não adiantou. Tanto o muro da frente da casa e a cerca dos fundos estavam tomados pelo exército. Os homens preparavam-se para o ataque, Dolores passou no meio deles e nem foi percebida. Viu que não dava para entrar em casa e optou por entrar na casa de alguém. Muitos fecharam a porta, o terror dos moradores instalava-se naquele momento. Dolores conseguiu se esconder e teve que sair do povoado. (Zequinha Barreto: a trajetória de um revolucionário)

 

Em 28 de agosto de 1971, a Operação Pajussara, sob o comando do DOI-CODI da 6ª Região Militar, invadiu o povoado do Buriti Cristalino, na região de Brotas de Macaúbas. Na casa de Zequinha, mataram um de seus irmãos, Otoniel, e feriram Olderico. Seu pai, José de Araújo Barreto, de 64 anos, foi preso e torturado. Zequinha e Lamarca ouviram os tiros em Buriti Cristalino, desmontaram o acampamento no sertão e fugiram para dentro da mata. Caminharam, durante vários dias, cerca de 300 quilômetros, em fuga. Fracos e doentes, eles procuraram ajuda e alimentação nas casas dos camponeses. Zequinha chegou a ser visto pelos moradores carregando Lamarca nos ombros, pois estava doente. Lamarca e José Campos Barreto foram encontrados descansando sob uma árvore, na região conhecida como Pintada. Estavam fracos, desidratados, doentes e sem força pela falta de alimentação e caminhada de muitos dias no agreste. Segundo o relatório da Operação Pajussara, […] foi fácil e rápido exterminá-los: Zequinha despertou com o barulho da aproximação dos agentes e acordou Lamarca. Tentou correr, mas foi metralhado por um soldado, gritando, antes de cair morto: Abaixo a ditadura! Os agentes estabeleceram um pequeno diálogo com Lamarca, já ferido, e logo também o executaram com rajadas.

 

O objetivo da operação fora cumprido, sem que o relatório contenha qualquer descrição de resistência ou combate por parte de Barreto e Lamarca. Segundo os moradores, os corpos foram levados para Brotas de Macaúbas e jogados no campo de futebol da cidade, onde foram chutados por oficiais, soldados e policiais. Depois, colocados em um helicóptero, foram transportados para Salvador. A família ainda tentou localizar o corpo de José Campos Barreto. A ordem da Operação Pajussara assinada pelo então major chefe da 2ª Seção do Estado-Maior da 6ª Região Militar e comandante do DOI de Salvador, Nilton de Albuquerque Cerqueira, era “[…] localizar, identificar, capturar ou destruir o bando terrorista que atua na região de Brotas de Macaúbas. Para isso: 1. Numa 1ª fase intensificará a busca de informes. 2. Numa 2ª fase, após localizar e identificar o bando de terroristas, isolará e investirá à área de treinamento para capturá-lo ou destruí-lo”.

 

A versão do guerrilheiro trocando tiros com os militares, imortalizada no filme dirigido por Sérgio Rezende, em 1994, foi desmentida na CEMDP. Durante a apreciação do caso, houve pedidos de indeferimento e de vistas, antes da maioria dos integrantes votarem pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado nas mortes de Lamarca e Zequinha. O relator dos casos de Carlos Lamarca e de José Campos Barreto, de números 038/96 e 273/96, Paulo Gustavo Gonet Branco, propôs o indeferimento, e Nilmário Miranda pediu vistas.

 

 

Após os depoimentos a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” e a Comissão Nacional da Verdade receberam o pedido da família Barreto para auxílio na localização dos restos mortais de Otoniel Campos Barreto e José Campos Barreto. O ofício encaminhado diz: “A Operação Pajussara, criada especificamente para matar o Ex-Capitão do Exército, Carlos Lamarca, o principal líder da luta contra a ditadura  no Brasil, foi executada em duas etapas distintas. A primeira, comandada pelo chefe do “Esquadrão da Morte de São Paulo”, o delegado Sérgio Fernandes Paranhos Fleury, foi deflagrada na madrugada de 28 de agosto de 1971, no povoado de Buriti Cristalino, no município de Brotas de Macaúbas, no Estado da Bahia, onde o alvo principal foi a casa do senhor José de Araújo Barreto, (pai de Otoniel e José Campos Barreto), na qual foram ceifadas as vidas de Otoniel Campos Barreto,  e a do professor do local, Luiz Antonio Santa Bárbara, além de ferir e prender Olderico Campos Barreto, irmão de Otoniel. É válido ressaltar que na tarde do mesmo dia, foram sepultados no cemitério  local, os corpos de Otoniel e de Santa Bárbara, sendo os mesmos, na manhã do dia seguinte, arrancados e levados para Salvador. Fleury deixa a região em  7 de setembro e logo depois, inicia-se a segunda etapa, liderada pelo então major Nilton Cerqueira, à qual, termina em 17 de setembro de 1971, culminando com o duplo assassinato do Ex-Capitão Carlos Lamarca e seu companheiro, o ex-seminarista José Campos Barreto, ambos, exauridos, dormindo ao pé de uma árvore, segundo testemunhas, Lamarca já vinha há dias, sendo carregado pelo seu companheiro Zequinha. Os corpos dos “guerrilheiros” foram levados para Salvador, permanecendo até 25 de setembro no IML, quando, separadamente foram sepultados no Cemitério do Campo Santo em Salvador. A Diocese local, através do Bispo Dom Luiz Cápio, vem realizando desde setembro de 2001, no povoado de Pintada, a celebração dos mártires de sua jurisdição. As celebrações foram evoluindo a cada ano, materializando-se na edificação de um Memorial, que tem como finalidade, além da preservação da memória, um espaço específico em sua estrutura, para acolher os restos mortais de todos, que, segundo Dom Luiz, não tiveram direito a um sepultamento digno. Na 13ª edição, já foi possível o traslado de Jota e Manoel Dias, líderes comunitários, assassinados por pistoleiros de aluguel, que ocuparam seus espaços em duas vitrines a eles reservadas, que, sob a bênção de Dom Luiz, acompanhado por 12  sacerdotes, uma clara alusão ao calvário, realizou-se a mais comovente celebração. E, diante da multidão, Dom Luiz anuncia para 2014, o traslado dos outros, assassinados pela famigerada “Operação Pajussara”. Para tanto, pede o empenho dos familiares para ajudá-lo, sobretudo,  na burocracia da localização dos restos mortais. E é este o ponto crucial para a família Barreto, que, há mais de 15 anos vem insistindo junto ao IML e o Cemitério do Campo Santo em Salvador e obteve-se apenas a resposta, dada a uma petição emitida pela saudosa  advogada, Dra. Ronilda Noblat, onde o IML respondeu evasivamente: “Não há ninguém sepultado com os nomes de José e Otoniel Campos Barreto. Se foram aqui sepultados, foram como indigentes.  O intrigante, é que, os jornais da época, davam até o nº das sepulturas.Diante do exposto, vem os familiares de José e Otoniel Campos Barreto, solicitar o empenho das aludidas Comissões,  sentido de localização e traslado dos restos mortais de seus entes queridos para o Memorial erguido na comunidade de Pintada, município de Ipupiara – BA”. (Anexo 010-pedido-familia-barreto.pdf).

As fotografias da época indicam que Luiz Artur de Carvalho cuidou dos sepultamentos das vítimas da Operação Pajussara. Um documento do Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, administradora do Cemitério do Campo Santo, em Salvador, cedido à Comissão da Verdade “Rubens Paiva” e à CNV, contém a informação da quantia de 15 cruzeiros pagos pelas covas simples onde foram enterrados José Campos Barreto e Otoniel Campos Barreto no cemitério.  Quem fez o pagamento foi Rogério Muñoz Martinez. (Anexo 012-mapa-de-inhumacoes-santa-casa.jpg)

 

 

IDENTIFICAÇÃO DO LOCAL DA MORTE OU DO DESAPARECIMENTO FORÇADO

Desaparecido em Salvador, no cemitério do Campo Santo, após ser assassinado no povoado de Pintada, município de Ipupiara-BA  no dia 17 de setembro de 1971

IDENTIFICAÇÃO DA AUTORIA

1. Cadeia de Comando do(s) órgão(s) envolvido(s) na morte ou desaparecimento forçado

 

 

2. Autorias de graves violações de direitos humanos

 

 

Nome

Órgão

Função

Violação de direitos humanos

Conduta praticada pelo agente (descrita pela fonte)

Local da grave violação

Fonte documental/testemunhal sobre a autoria

NILTON ALBUQUERQUE CERQUEIRA

I Exército/Guanabara-RJ

General

 

Assassinato e ocultação de cadáver

Povoado de Pintada-BA

Relatório da Operação Pajussara

 

Dossiê Ditadura (p. 274)

DALMAR CARIBÉ

Exército/DOI-CODI/BA

Cabo

 

Assassinato

Povoado de Pintada-BA

Relatório da Operação Pajussara

 

No livro “Lamarca: o capitão da guerrilha” consta que Dalmar o atingiu com um tiro pelas costas.

 

ARGUS LIMA

General de Brigada

 

6ª Região Militar

 

Assassinato

 

Relatório da Operação Pajussara

 

Agus Lima assinou o relatório da referida operação.

No livro “Lamarca: o capitão da guerrilha” consta que ele ordenou a volta das tropas voltarem para assassinar Zequinha e Lamarca.

ANTONIO BARBOSA

Juiz

Fórum de Brotas de Macaúbas

 

Informante

 

Informou o paradeiro de Zequinha e Lamarca. No livro “Lamarca: o capitão da guerrilha” consta que ele viajou até a cidade de Itaberaba para avisar às tropas da 6ª Região Militar no dia 7 de setembro de 1971.

GENÉSIO NUNES ARAÚJO

Carcereiro

Delegacia de Polícia Civil de Brotas de Macaúbas

 

Informante e guia

 

Auxiliou a “Equipe Cão” comandada pelo major Nilton Cerqueira até os assassinatos de Zequinha e Lamarca.

JESUS

Soldado

Polícia Militar da Bahia

 

Assassinato

 

O soldado estava com o Major Nilton Cerqueira e demais agentes no momento do assassinato de acordo o livro “Lamarca: o capitão da guerrilha”

NICOLAU SANTOS

Mineração Boquira

Motorista

 

Condutor da equipe

 

No Relatório da Operação Pajussara consta que a referida mineração deu suporte para todo o trabalho dos agentes.

LUIZ ARTUR GOMES DE CARVALHO

Departamento de Polícia Federal

Coronel e chefe do departamento

 

Ocultação de cadáver

 

Conhecido torturador, esteve no dia do assassinato de Iara Iavelberg e se encarregou de fazer e controlar os sepultamentos das vítimas da Operação Pajussara, conforme Anexo 011-processo-cemdp-otoniel.pdf

JURACI SOUZA

 

 

 

Informante

 

Era morador da região. Informou o local onde estavam Zequinha e Lamarca de acordo o livro “Lamarca: o capitão da guerrilha”

CLAUDEMIRO PACHÊCO

 

 

 

Informante

 

Era morador da região. Informou o local onde estavam Zequinha e Lamarca de acordo o livro “Lamarca: o capitão da guerrilha”

CHARLES PITTEX

Instituto Médico Legal Nina Rodrigues-BA

Médico-legista

 

Falsificação de laudo necroscópico

 

Na guia de óbito consta o nome do legista Charles Pittex e o declarante das Informações foi Rogério Muñoz Martinez que fez o sepultamento do corpo no cemitério do Campo Santo, consta como causa da morte “anemia aguda”.

ROGÉRIO MUÑOZ MARTINEZ

 

 

 

Ocultação de cadáver

 

Na guia de óbito consta o nome do legista Charles Pittex e o declarante das Informações foi Rogério Muñoz Martinez que fez o sepultamento do corpo no cemitério do Campo Santo, consta como causa da morte “anemia aguda”. (Anexo 011-guia-de-obito-zequinha.jpg) (Anexo 012-mapa-de-inhumacoes-santa-casa.jpg)

 

 

 

FONTES PRINCIPAIS DA INVESTIGAÇÃO

Conclusões da CEMDP; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE. Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. Livro “Lamarca: o capitão da guerrilha” dos jornalistas Emiliano José e Oldack Miranda e o livro-reportagem “Zequinha: a trajetória de um revolucionário” da jornalista Thaís Barreto.

 

1. Documentos que elucidam as circunstâncias da morte ou desaparecimento forçado

 

Identificação da fonte documental (fundo e referência)

Título e data do documento

Órgão produtor do documento

Informações relevantes para o caso

Arquivo da Comissão de Familiares

(Anexo 001-fotos-morto-iml-ba.pdf)

Fotos de Zequinha morto no IML-BA

IML-BA

 

Arquivo da Comissão de Familiares

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf e 004-processo-cemdp.pdf)

Processo da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos

 

Processo nº 273 da CEMDP

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 4-14)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Requerimento de acordo a lei 9.140 – 25 de março de 1996

 

Requerimento feito pela advogada Maria Danielle Estenssoro, que teve procuração dos familiares para cuidar do processo na CEMDP

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 15)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Certidão de Nascimento

 

Certidão de José Campos Barreto

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 16-41)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Cópias do relatório da Operação Pajussara

 

Cópias anexadas no processo da CEMDP

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 42-43)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Declaração de Lourival Soares Pereira

 

Depoimento do morador de Buriti Cristalino sobre José Campos Barreto para a CEMDP.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 44-45)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Declaração de Claudionor Pereira Vasco

 

Claudionor morava em Brotas de Macaúbas e deu depoimento à CEMDP sobre José Campos Barreto.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 46-47)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Declaração de Olival Campos Barreto

 

Olival é irmão de Zequinha e deu depoimento à CEMDP sobre o que aconteceu no dia 28 de agosto de 1971.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 48-49)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Declaração de Maria Dolores Campos Barreto

 

Maria Dolores é irmã de Zequinha e registrou seu depoimento à CEMDP sobre o que aconteceu no dia 28 de agosto de 1971.

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 50)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Certidão de Óbito de José de Araújo Barreto

 

Pai de Zequinha.

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 51)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Certidão de Óbito de Adelaide Campos Barreto

 

Mãe de Zequinha.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 52-54)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Cópia da primeira versão do caso de Zequinha no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a  partir de 1964

 

 

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 55-61)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Reportagens

 

 

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 62)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Requerimento da localização do corpo

 

Os familiares ressaltam que desconhecem o paradeiro do corpo de José Campos Barreto

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 63-99)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Anexo o requerimento da Maria Pavan – viúva do Lamarca.

 

O requerimento que pede o reconhecimento de Carlos Lamarca através da lei 9.140 foi anexado ao processo de José Campos Barreto.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 100-108)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Voto de Nilmário Miranda sobre o caso de Carlos Lamarca

 

 

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 109-108)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Voto de Osvaldo Pereira Gomes

 

O general votou contra o processo do capitão Lamarca. O voto foi anexado ao processo de Zequinha.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 115-131)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Voto de Suzana Lisbôa

 

Suzana votou pelo deferimento do processo de Carlos Lamarca.  Voto anexado no processo de Zequinha.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 133-140)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Voto Luiz Francisco Da S. Carvalho Filho

 

Votou pelo deferimento do processo do capitão Carlos Lamarca. Voto anexado ao processo de Zequinha.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 141-147)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Voto de Miguel Reale Jr.

 

Vota pelo deferimento do processo de Carlos Lamarca. Voto anexado ao processo de José Campos Barreto.

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 148)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Parecer de Nilmário Miranda

 

Opina pela indenização da família de José Campos Barreto.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 149-151)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Ata da XIII reunião de 11/09/1996 - CEMDP

 

 

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 152-153)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Of. N. 084/96 de 06/08/1996

 

 

Solicitação de Laudo de Necropsia realizada em José Campos Barreto

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp. 154-157)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Despacho n. 0672/96 – CCJ – Departamento de Polícia Federal – 19/08/1996

 

Solicitação de Laudo de Necropsia realizada em José Campos Barreto

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 158)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Despacho de 17 de março de 1997.

 

Assinado por Argeu Ramos da Silva. Indenização através da lei 9.140 para os familiares de José Campos Barreto.

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 159)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Deferimento 17 de março de 1997

 

Assinado por Miguel Reale Júnior. Indenização através da lei 9.140 para os familiares de José Campos Barreto.

Arquivo da Comissão de Familiares

(p. 160-178)

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Solicitação para anexar documentos. 11/04/1997

 

Documento assinado por Iara Pereira Xavier. Em anexo segue cópias de fotos de Zequinha morto e do corpo entrando no cemitério do Campo Santo em Salvador-BA.

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp.179-180

(Anexo 003-processo-cemdp.pdf)

Despacho 06/10/1997

 

Indenização.

Arquivo da Comissão de Familiares

(p.17)

(Anexo 004-processo-cemdp.pdf)

Autorização

 

Ana Campos Barreto autorizou a entrega da documentação para o Arquivo Nacional.

Arquivo da Comissão de Familiares

 (Anexo 005-testemunha-clesio.pdf)

Inquirição de Testemunha – 20/04/1979

 

Testemunha Clésio Rômulo Carrilho Rosa

Arquivo da Comissão de Familiares

(pp.21-24

(Anexo 004-processo-cemdp.pdf)

Inquirição de Testemunha – 20/04/1979

 

Testemunha Rosalvo Machado Rosa.

Arquivo da Comissão de Familiares

(p.25

(Anexo 004-processo-cemdp.pdf)

Diário Oficial – 18/09/1996

 

Extrato da CEMDP sobre o caso de José Campos Barreto

Arquivo da Comissão de Familiares

(Anexo 002-pedido-cemdp.pdf)

Pedido da família à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos – 11/4/1997

 

Pedido de inserção de documentos para o processo nº 273 da CEMDP

Comissão da Verdade “Rubens Paiva”

(Anexo 006-transcricao-audiencia.pdf)

Transcrição da audiência pública

 

 

Comissão da Verdade “Rubens Paiva”

 

(Anexo 006-relatorio-operacao-pajussara.pdf

Relatório da Operação Pajussara

 

Documento completo enviado pela CNV à Comissão da Verdade “Rubens Paiva”

Arquivo do site da CNV

(Anexo 009-generais-convocados-cnv.pdf)

Generais convocados

 

Convocação do general Nilton Cerqueira no Rio de Janeiro.

Comissão da Verdade “Rubens Paiva”

(Anexo 010-pedido-familia-barreto.pdf)

Pedido de localização e traslado dos restos mortais

 

O pedido se refere aos restos mortais de José Campos Barreto e Otoniel Campos Barreto.

Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, administradora do Cemitério do Campo Santo, em Salvador, cedido à Comissão da Verdade “Rubens Paiva” e à CNV

 

(Anexo 011-guia-de-obito-zequinha.jpg)

Guia de Óbito de José Campos Barreto

 

Na guia de óbito consta o nome do legista Charles Pittex e o declarante das Informações foi Rogério Muñoz Martinez que fez o sepultamento do corpo no cemitério do Campo Santo, consta como causa da morte “anemia aguda”.

Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, administradora do Cemitério do Campo Santo, em Salvador, cedido à Comissão da Verdade “Rubens Paiva” e à CNV

 

(Anexo 012-mapa-de-inhumacoes-santa-casa.jpg)

Mapa de Inhumações

 

Documento da Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, administradora do Cemitério do Campo Santo, em Salvador, cedido à Comissão da Verdade “Rubens Paiva” e à CNV que contem a informação da quantia de 15 cruzeiros pagos pelas covas simples do cemitério.  Quem fez o pagamento foi Rogério Muñoz Martinez

 

 

 

 

2. Testemunhos sobre o caso prestados à CNV ou às comissões parceiras

 

 

Identificação da testemunha

Fonte

Informações relevantes para o caso

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3. Depoimentos de agentes do Estado sobre o caso, prestados à CNV ou às comissões parceiras

 

 

Identificação do Depoente

 

Fonte

Informações relevantes para o caso

Depoimento de Olival Barreto, irmão de Zequinha

Audiência Pública da Comissão “Rubens Paiva” e da CNV

Anexo 006-transcricao-audiencia.pdf

“Não é fácil, pra mim, falar sobre esse assunto. Principalmente assim, em público. Eu já tentei umas vezes, aí, e não consegui. Vou ver se eu consigo, hoje, falar alguma coisa. Falar do que eu presenciei lá, mais da parte, mesmo, da Operação, quando eles invadiram nossa casa. E as cenas de brutalidade, mesmo, que eu presenciei, com a idade que eu tinha, estava completando 12 anos, então, são coisas, assim, que ficou marcado, mesmo.

E, durante esse período todo, eles ficaram instalados, na nossa casa, durante uma semana. Eu assisti muito eles batendo no meu pai, não é, ouvia os gritos dele. E não foi ele. Foi uma coisa muito pesada pra minha infância, e até hoje.

Então, eles ficaram por ali, na nossa casa. No momento em que eles chegaram, houve a morte do Otoniel e do Luiz Antônio, que era o Roberto, nosso professor, que Zequinha tinha levado pra lá, para dar aula para nós, e, eu me lembro que eles, no momento, enterraram os corpos dos dois, lá no Buriti Cristalino, no cemitério do lugar. E logo em seguida, umas duas ou três horas depois, eles mandaram arrancar o corpo deles. Que, acho que veio uma ordem, lá de Salvador, que tinha que levar os corpos pra lá. Aí, eles desenterraram, botaram no helicóptero, e levaram os meninos pra lá.

E, durante esse período, eles ficavam com meu pai, pra cima e pra baixo, levando eles pra fazer aquelas buscas, ali, que o que eles queriam, mesmo, era pegar o Cirilo , que eles chamavam o Lamarca de Cirilo. Era, “E o Cirilo, o Zequinha, onde é que eles estão?”, essa coisa. Eu sei que eles ficaram por ali de 28 de agosto, foi num sábado, até a sexta-feira seguinte.

Eles me botaram uma pessoa, um vizinho, para tomar conta de mim, porque eles invadiram nossa casa – e eu fiquei na casa do Sr. José de Virgílio, que foi uma pessoa, do lugar, que nos deu muito apoio, acho que foi o único que conseguiu dar um apoio pra gente, porque as outras pessoas do lugar, todas sentiam muito medo. Eu, mesmo, cheguei a ir à casa de pessoas que bateram a porta na minha cara, entendeu?

Aí, eu fiquei imaginando: nossa, eu recebi uma porta na cara, imagine quantas portas na cara Zequinha e o Lamarca não receberam, durante esse período que eles ficaram naquela serra, no lugar, procurando uma comida, alguma coisa, então, devem ter levado várias. Tanto que as pessoas falaram, que o cara que fez o caixão do Zequinha e do Lamarca, eles mandaram fazer um caixão só, pros dois. E, o rapaz que fez o caixão, falou que eles estavam muito magrinhos, não é.

Então, voltando um pouco à história, lá do Buriti, eu sei que eles ficaram essa semana, lá, e quando foi nessa sexta-feira, parece que receberam uma ordem, lá de Salvador, que eles tinham que evacuar, que eles tinham que voltar, que eles estavam dando por encerrada, já, essa Operação, porque eles não achavam o Lamarca nem Zequinha – não tinha notícia, ninguém dava notícia.

Então, eles foram embora. Só que daí, uma semana depois, a gente só ficava ouvindo, ó, Zequinha e Lamarca passou em tal lugar, passaram em Ibotirama, passaram no Mocambo, passaram não sei aonde. Só que, por infelicidade, Zequinha foi passar num local que chama Três Reses, onde têm parentes nossos, e um infeliz, lá dos Três Reses, que é até primo da gente... Então, esse rapaz foi avisar, em Brotas, que Zequinha tinha passado lá, com o Lamarca. Como o Exército tinha oferecido esses prêmios, dinheiro, pra quem denunciasse, esse rapaz foi avisar em Brotas. E o juiz, lá em Brotas, pega um carro e vai até Seabra, e vai ligar, lá pra 6ª Região do Exército, pra voltarem. Aí, eles já voltaram com certeza de que eles já estavam lá.

Aí, eles chegaram lá por volta do dia 8, 9 de setembro, eles chegaram de volta. Tornaram a invadir a nossa casa. Estava eu, meu pai, e a Dolores, só, em casa. Nossa casa tinha sete pessoas. Aí, ficamos em três. De Olderico, que já estava baleado e preso em Salvador, Otoniel morto, Santa Bárbara, morto, e, Zequinha, estava fugido”.

Olderico Barreto, irmão de Zequinha

Audiência Pública da Comissão “Rubens Paiva” e da CNV

Anexo 006-transcricao-audiencia.pdf

“Os corpos, de Zequinha e de Lamarca foram transportados do local do assassinato para Brotas, pra essa foto, aí, no caminhão da Mineração Boquira. O motorista, inclusive, que fez esse trajeto, quando eu cheguei, uma vez, em Macaúbas, ele morava em Macaúbas, e, quando me viu, ele se distanciou, e o amigo que estava com ele apontou: “Esse cara foi o que fez o transporte, por isso que ele não quer falar contigo, que ele não quer te ver”. Fugiu da gente”. Testemunhou Olderico sobre a colaboração da Mineração Boquira.

 

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Diante das circunstâncias do caso e das informações obtidas até o momento pôde-se concluir que José Campos Barreto fora assassinado sob brutal violência no povoado de Pintada-BA por agentes da Operação Pajussara comandada pelo (na época) major e atual general Nilton Cerqueira.

Recomendações: Responsabilização criminal dos agentes que praticaram o crime de seqüestro e assassinato; Localização dos restos mortais e traslado para o Memorial dos Mártires, erguido no povoado de Pintada, município de Ipupiara-BA. Retificação do atestado de óbito, constando as informações reveladas sobre sua morte, conforme relato e fotos anexadas; Identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos nesse crime. Identificação e inserção na lista de anexos os documentos que se encontram no Arquivo Nacional, pois contém todos os originais da época do crime.

Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

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