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INICIAL DO NOME:

MARIA LUCIA PETIT DA SILVA

OCORRÊNCIA

16 de junho de 1972 no Araguaia

DADOS PESSOAIS
Filiação: José Bernardino da Silva Júnior e de Julieta Petit da Silva
Data e local de nascimento: 20 de Março de 1950, em Agudos (SP)
Profissão: Professora primária
Atuação política: Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento C das Forças Guerrilheiras do Araguaia.
Data e local da morte/desaparecimento: 16 de junho de 1972 no Araguaia
Organização política: Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Arquivos

RELATO DO CASO

Cursou o primário, o ginasial e os dois primeiros anos do curso normal em Duartina (SP), vindo a concluí-lo em São Paulo, no Instituto de Educação Fernão Dias, no bairro de Pinheiros, em 1968, quando participou do movimento estudantil secundarista. Em 1969, prestou concurso para o magistério. Foi professora primária municipal, lecionou na EMPG Tenente Aviador Frederico Gustavo dos Santos, na Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista.

No início de 1970 tomou a decisão de desenvolver sua atividade política no interior do Brasil. Militante do PCdoB, foi para Goiás e, em seguida, para o Sul do Pará, fixando-se na área de Caianos. Trabalhou na região ensinando as crianças, a quem dedicava muito carinho, e também em atividades de plantio, conquistando grande simpatia entre os moradores das redondezas. Em 1972, o Exército brasileiro cercou a região de atuação dos guerrilheiros do PCdoB, utilizando forte aparato militar, onde se encontrava Maria Lúcia.
Segundo os depoimentos de alguns sobreviventes, em 16 de junho de 1972, ao se aproximar da casa de um camponês, Maria Lúcia foi fuzilada por tropas do Exército, sob o comando do general Antônio Bandeira, da 3ª Brigada de Infantaria.

O Relatório Arroyo, escrito por Ângelo Arroyo, dirigente do PCdoB que conseguiu escapar do cerco militar à região em 1974, descreveu sua morte: “Em meados de junho, três companheiros dirigidos por Mundico [Rosalindo Souza] procuraram um elemento de massa, João Coioió, para pedir-lhe que fizesse uma pequena compra em São Geraldo. Coioió já tinha ajudado várias vezes os guerrilheiros com comida e informação. Ficou acertado o dia em que ele voltaria de São Geraldo para entregar as encomendas. À noitinha desse dia aproximaram-se da casa Mundico, Cazuza [Miguel Pereira dos Santos] e Maria [Maria Lúcia Petit da Silva], mas perceberam que não havia ninguém. Cazuza afirmou que ouvira alguém dizendo baixinho: ‘pega, pega’. Mas os outros dois nada tinham ouvido. Acamparam a uns 200 metros. Durante a noite ouviram barulho que parecia de tropa de burro chegando na casa. De manhã cedo, ouviram barulho de pilão batendo. Aproximaram-se com cautela, protegendo-se nas árvores. Maria ia à frente. A uns 50 metros da casa, recebeu um tiro e caiu morta. Os outros dois retiraram-se rapidamente. Dez minutos depois, os helicópteros metralhavam as áreas próximas da casa.”

Conforme depoimento de Regilena Carvalho Leão de Aquino, uma das poucas sobreviventes da guerrilha e companheira de Jaime Petit, irmão de Maria Lúcia: “as primeiras horas do dia 16 de junho de 1972, a menos de 2 km da casa do ‘João Coioió’, Jaime (Jaime Petit da Silva), Daniel (Daniel Ribeiro Callado) e eu, fomos acordados com o disparo de um tiro ao longe e um outro tiro em seguida. Da mesma direção dos sons dos disparos, metralhadoras foram acionadas, quando o ruído distante de um helicóptero em movimento tornava-se próximo das imediações. Estávamos acampados na retaguarda para aguardar Maria (Maria Lúcia Petit da Silva), Cazuza (Miguel Pereira dos Santos) e Mundico (Rosalindo de Souza) para ajudá-los no transporte dos mantimentos encomendados ao ‘João Coioió’. Retiramo-nos imediatamente e, ao final da tarde, acampamos nas cabeceiras da chamada Grota da Cigana. Momentos mais tarde, enquanto preparávamos o jantar, milho maduro em água de sal, cozido em fogo brando, para esperar os três companheiros ausentes, surgiram Cazuza e Mundico, ensopados de suor e aflição. Perguntei pela Maria e a resposta do Cazuza foi direta e crua: ‘a reação a matou’”.

Regilena conta também que quando esteve presa na base militar de Xambioá, alguns oficiais mostraram-lhe objetos de uso pessoal de Maria Lúcia: “um par de chinelos de sola de pneu com alças retorcidas de nylon azul claro, e uma escova de dentes de cor amarela e com o cabo quebrado”. Ela reconheceu os objetos como pertencentes a Maria, que os guardava em um bornal de lona verde, permanentemente usado a tiracolo. Segundo Regilena, os militares afirmaram que Maria Lúcia fora enterrada em São Geraldo (PA), cidade em frente a Xambioá, na outra margem do Araguaia.
O relatório do Ministério da Marinha, encaminhado ao ministro da Justiça em 1993, afirma que Maria Lúcia “[…] foi morta durante enfrentamento na tarde do dia 16/06/72, próximo a Pau Preto”.

Seus irmãos Jaime e Lúcio Petit também estão desaparecidos na região da Guerrilha do Araguaia.

Em 1991, familiares de mortos e desaparecidos do Araguaia, com membros da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e a equipe de legistas da Unicamp, estiveram no cemitério da cidade de Xambioá, em Goiás (atual Tocantins), onde exumaram duas ossadas. Uma de um velho, negro, provavelmente Francisco Manoel Chaves (desaparecido na Guerrilha do Araguaia no dia 21 de setembro de 1972) e outra, de uma mulher jovem enrolada num pedaço de paraquedas, que poderia ser Maria Lúcia. Esses restos mortais foram encaminhados à Unicamp.

Ao retornar, Badan Palhares, então Chefe do Departamento de Medicina Legal da Unicamp, fez uma escala em Brasília (DF) e, em entrevista à imprensa, afirmou que os restos mortais eram certamente de uma guerrilheira. Mas ao chegar a São Paulo mudou de ideia. Sem qualquer base científica, passou a dizer que a ossada pertenceria à filha de um dentista que atuava na área, que teria sido morta por não atender à ordem de prisão de uma patrulha. 

Em 28 de abril de 1996, o jornal O Globo iniciou uma série de reportagens sobre a Guerrilha do Araguaia, quando publicou fotos de guerrilheiros presos e mortos entregues anonimamente ao jornal por um militar que participou da repressão política durante a ditadura. Entre as fotos, a família conseguiu identificar Maria Lúcia morta, embrulhada em um pedaço de paraquedas e a cabeça envolta em plástico. A foto apresentava detalhes idênticos aos da ossada encontrada em Xambioá e foi encaminhada ao Departamento de Medicina Legal da Unicamp, em 30 de abril de 1996.

O exame da arcada dentária feito pelos dentistas que a atenderam em 1967, Jorge H. Tanaka e Benedito B. de Moura, além do depoimento descritivo das circunstâncias da morte feito por seus companheiros e a comparação da foto publicada com os despojos encontrados em 1991, possibilitou a identificação de Maria Lúcia em 15 de maio de 1996.

A identificação de Maria Lúcia, primeira entre os desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, fortaleceu a esperança de busca e localização dos restos mortais dos demais, enterrados em cemitérios clandestinos ou na floresta. O sumiço dos corpos dos guerrilheiros, contudo, não pode ser atribuído às dificuldades logísticas da região, pois a tropa tinha uma instrução a seguir, conforme documento dos Fuzileiros Navais da Operação Papagaio assinado pelo comandante Uriburu Lobo da Cruz, encaminhado anonimamente em 1993 ao presidente da Comissão de Representação Externa da Câmara Federal, Nilmário Miranda: “a. Os PG [prisioneiros de guerra] deverão ser encaminhados imediatamente ao S-2 e, em seguida, ao PC da Brigada. 

b. Os PG falecidos deverão ser sepultados em cemitério escolhido e comunicado. Deverão ser tomados os elementos de identificação (impressões digitais e fotografias).”

O Relatório da Manobra Araguaia, de 30 de outubro de 1972, assinado pelo comandante da 3ª Brigada de Infantaria, general Antônio Bandeira, confirma a morte de Maria Petit da Silva [Maria] nessa data, em Pau Preto.
Maria Lucia é anistiada política pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (a requerente foi Julieta Petit da Silva, sua mãe). Seu nome consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I, da lei 9.140/95.

Em 15 de junho de 1996, houve um culto ecumênico e vigília em sua homenagem na Câmara Municipal de São Paulo. No dia seguinte, seus restos mortais foram traslados para o cemitério de Bauru (SP), com a presença de sua mãe, Julieta Petit da Silva, morta em 2007, sem ter conseguido encontrar os restos mortais de seus dois outros filhos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, Lúcio e Jaime.

Em audiência publica realizada pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” no dia 07/03/2013, Laura Petit, irmã de Maria Lucia, Jaime e Lucio, expôs sua expectativa quanto a responsabilização penal dos agentes de segurança do Estado envolvidos no desaparecimento de seus irmãos: “Nós estamos aguardando, não só os familiares, mas toda a sociedade brasileira, para ver o que aconteceu. Apurar os responsáveis, apesar de que eles são notoriamente conhecidos [...] Eu gostaria que na Comissão da Verdade essas pessoas responsáveis que muita gente sabe quem são, elas fossem chamadas a darem os seus depoimentos, porque muitos familiares, há 40 anos a gente vem contando o pouquinho que sabe. Um camponês falou que foi o João Coioió. Não foi. O laudo da Maria Lucia, por exemplo, lá na Unicamp diz que ela tinha bala de uso militar, FAL. Camponês não tem [esse tipo de armamento]. Uma [bala] na altura do quadril quando ela caiu, e outro tiro que seria o tiro fatal de execução porque veio de cima para baixo. Quer dizer, ela caída foi executada. Não foi o João Coioió, isso eu tenho certeza”. 

Maria Lucia Petit da Silva é anistiada política pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (a requerente foi Julieta Petit da Silva, sua mãe). Na CEMDP, seu caso foi protocolado com o número 033/96.
Em sua homenagem, seu nome foi dado a ruas nas cidades de São Paulo (no bairro Jardim Toca); de Belo Horizonte (Jardim das Nações); e de Campinas (no bairro Visconde do Rio Branco); e a uma praça, no Rio de Janeiro (no bairro Santa Cruz). Em outra homenagem, Maria Lúcia passou a denominar uma escola primária na Freguesia do Ó, em São Paulo. A cidade de Bauru (SP) deu o nome “Irmãos Petit” a Comissão Municipal da Verdade.


Fontes investigadas: 

Conclusões da CEMDP; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE; Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 18ª audiência pública sobre os casos das mulheres paulistas desaparecidas no Araguaia, Helenira Resende de Souza Nazareth, Luiza Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama, realizada no dia 07/03/2013; livro Operação Araguaia: os arquivos secretos da Guerrilha. 5ª edição Taís Morais e Eumano Silva, 2012, São Paulo: Geração Editorial.; livro “Mata! O major Curió e as Guerrilhas no Araguaia” / Leonencio Nossa – 1º edição – São Paulo: Companhia das letras, 2012.

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

Órgão / Período

Nome

Função

conduta

Vivo/data do óbito

Observações

Presidência da República (1969-1974)

Emílio Garrastazu Médici

Presidente da Republica

Mentor e comandante responsável pela política de Estado de eliminação de opositores e de guerrilhas urbanas e rurais, sem deixar rastros.

Segundo reportagens da Revista IstoÉ foi encontrado documento nos pertences do General Antônio Bandeira, que revelou uma reunião realizada entre os generais Ernesto e Orlando Geisel e o então presidente da República, na época, general Emílio G. Médici, da qual Antônio Bandeira General do Exército também participou, e na qual foram estabelecidas as diretrizes da repressão política, de assassinados, sem deixar vestígios, dos militantes de esquerda, ou seja, de uma política de Estado. Segundo o documento, seria “necessária a utilização de todos os meios para eliminar, sem deixar vestígios, as guerrilhas rurais e urbanas, de qualquer jeito, a qualquer preço”.

Morto

Anexo 014-materia-istoe-24-03-2002-a-ordem-e-matar.pdf

III EXÉRCITO

Antônio Bandeira

General da 3ª Divisão de Infantaria

Assassinato e ocultação de cadáver

Morto

Informação Dossiê Ditadura p. 353

CENTRO DE INFORMAÇÃO DO EXÉRCITO (CIE) 1969-1974

Milton Tavares de Souza

General e diretor do Centro de

Informações do Exército

Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia

Morto

“Miltinho era o general Milton Tavares de Souza, também conhecido como “Caveirinha”. Foi diretor do Centro de

Informações do Exército enquanto Orlando Geisel era Ministro do Exército, durante o governo Médici. Nessa função, foi

responsável pela política de eliminação física dos inimigos do regime. Foi ainda responsável em 1969 pela organização

dos DOI-CODI em todo o Brasil e das operações Bandeirantes e Marajoara, que prepararam o terreno para os

desmantelamento da Guerrilha do Araguaia” Informação consta no depoimento dado pelo coronel do Exército Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014 (p.54).

Gabinete Militar 1974-1979

Hugo de Andrade Abreu

Chefe Gabinete militar de 1974-1979 e Comandante da Brigada Pára-Quedista

Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia

Morto

“A reunião, confirmada pelo coronel Sebastião “Curió” Rodrigues, do Centro de Informações do Exército (CIE), mudou a postura do governo. A partir do final de 1973, não restariam mais sobreviventes nas guerrilhas. Transferido para a direção da Polícia Federal, Bandeira foi substituído no Araguaia pelo general Hugo Abreu, da Brigada de Pára-quedistas. O general Milton Tavares, chefe do CIE, comandava as ações de extermínio. A missão ficou dividida entre os três ministros militares e a orientação era não deixar rastros. O CIE encarregou-se do Araguaia e dos militantes caçados pelos órgãos de repressão do Cone Sul. Com Geisel no poder (1974-1979), um grupo do DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo deveria exterminar os sobreviventes do PCdoB e o Comitê Central do PCB.” Informação consta na matéria “A Ordem é matar” da Revista ISTOÉ de 24/03/2002

COMANDO MILITAR DO PLANALTO

OLAVO VIANNA MOOG

General e Comandante do Comando Militar do Planalto

Utilização de bombas napalm contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia

Vivo

Informação no relatório “Araguaia I” produzido por Cláudio Fonteles para a Comissão Nacional da Verdade (p.8)

ESTADO-MAIOR DAS FORÇAS ARMADAS

ALVRO DE SOUZA PINHEIRO

Coronel de infantaria, atuava como oficial de ligação do Exécito Brasileiro junto ao Centro de Armas Combinadas e à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA. Atualmente é General de Brigada (reserva)

Utilização de bombas napalm contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia

 

Informação consta no anexo 012.

 

João Coioió

Morador da região do Araguaia/ Guia do Exército

Sequestro

 

“Malhães: Qunado chegamos, nos chamavam de a Força. Não tinha nome porque não sabiam se era Exército, Marinha, Aeronáutica’ CEV-RJ: ‘Os moradores ou os guerrilheiros?’ Malhães: ‘Os moradores. Chegou a Força. Então víamos quem era o campeiro, perguntávamos se o campeiro queria trabalhar, pagava ao campeiro, ele era remunerado, é lógico, e ele passava a trabalhar em uma destas zebras. E foi o que acabou com eles lá. CEV-RJ: ‘Os senhores montaram quantas zebras?’ Malhães: ‘Ah, era variável à beça..’. CEV-RJ: ‘Mas, apesar do lugar, a técnica é muito similar com o que o senhor já vinha acumulando

com conhecimento, mapeamento?’ Malhães: ‘Mas, ali era procurar o guerrilheiro, não queria saber quem era. Se ali passava guerrilheiro, nós íamos pegar o guerrilheiro ali. CEV-RJ: ‘Mas, este apoio local, o senhor acha que isto foi uma boa tática que vocês usaram?’ Malhães: ‘Foi a melhor coisa que nós descobrimos na vida para guerrear no mato. Você conheceu a selva amazônica, você sabe que o dia vai clarear às 10hs da manhã, se clarear um pouquinho, vai escurecer antes das quatro da tarde, aquelas árvores gigantescas fecham. Você anda de lama até aqui...né? Se você andou no meio do mato’ CEV-RJ: ‘Andei lá, tudo.’ Malhães: ‘Você sabe que anda de lama de folha. Não é lama de terra, é lama das folhas que caem, apodrecem e faz uma lama. Então, é difícil. A guerrilha, tanto é que o americano perdeu na guerrilha. Perdeu porque o americano, como perde em tudo

quanto é país que ele ocupa, ele erra em um principio básico e aí.. porque ele quer fazer daquele lugar que ele ocupa o mesmo estilo de vida que o americano tem nos Estados Unidos. Ele jamais vai conseguir convencer aquela população a aceitar aquele estilo de vida. Então foi o grande erro deles..’ CEV-RJ: ‘O senhor não ficou muito tempo lá, não é?’ Malhães: ‘Não, eu ia de vez em quando.’ CEV-RJ: ‘Já no final, meados de 70?’ Malhães: ‘Depois da passagem das tropas. Logo depois vieram as zebras. Aí eu já estava começando as zebras. Porque o general Bandeira, que era o comandante da região, no caso, comandante de guerra da região, era também meu chapa. Porque tudo é amizade que você vai fazendo. Vão gostando do seu trabalho, o cara passa admirar você, embora seja coronel, seja general..’ CEV-RJ: ‘E foram lhe dando espaço?’ Malhães: ‘... então, ele passa a acreditar no seu trabalho. Então, o general

Bandeira era muito meu amigo, era amigo do Curió... CEV-RJ: ‘O senhor tinha relação boa com o Curió tam bém?’ Malhães: ‘Tinha. Eu sacaneava muito o Curió. Brincava muito com ele. Por que o Curió era muito fantasioso. Não sei se ainda é. Ele era muito fantasioso. Ele fazia grandiosidade de bobo. Quando a gente ia ver na realidade, não era nada daquilo. Eu sacaneava muito ele, brincava muito com ele. Mas ele era trabalhador”. Depoimento de Paulo Malhães dado a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014 (p.14)

 

DOCUMENTOS CONSULTADOS

  1. Documentação principal

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observação

Anexo

Dossiê para Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)

 

Documento encaminhado à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos por Julieta Petit da Silva, mãe de Maria Lucia Petit da Silva, no dia 15/01/1996

001-dossie_cemdp.pdf

Foto Maria Lucia

 

 

003-foto_maria_lucia.pdf

Reportagem sobre a identificação das ossadas de Maria Lucia

 

 

004-reportagem_identificacao_ossadas_maria_lucia.pdf

Folheto celebração ecumênica do traslado dos restos mortais de Maria Lucia

 

 

005-folheto_celebracao_ecumenica_traslado_maria_lucia.pdf

Reportagem sobre a entrega de fichas para o jornal O Globo sobre a Guerrilha do Araguaia por um militar anônimo, em 1996

 

 

006-reportagem_sobre_fichas_o_globo.pdf

Fichas entregues ao jornal O Globo, em 1996, por militar (anonimo) que participou da Guerrilha do Araguaia

 

Consta o nome de Maria Lucia riscado (p. 2)

007-fichas_entregues_jornal_o_globo_1996.pdf

Testemunho sobre o assassinato de Maria Lucia pela ex-guerrilheira Regilena Carvalho Leão de Aquino

 

 

008-testemunho_regilena_carvalho_leão_aquino.pdf

Relatório escrito por Claudio Fonteles para a Comissão Nacional da Verdade onde o comissionário analisa o “Relatório das Operações Contraguerrilheiras relaizadas pela 3ª BDA INF no Sudeste do Pará” produzido pelo general de Brigada Antonio Bandeira, em 30 de outubro de 1992

 

No relatório o general da brigada Antonio Bandeira afirma “A morte de Maria Petit da Silva em 16/06/72, em Pau Preto, também do Destacamento ‘C’ e pertencente ao Grupo ‘900’ (p.2)

009-relatorio_antonio_bandeira_araguaia.pdf

Depoimento de Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014

Centro de Inteligência do Exército (CIE)

Coronel do Exército e agente do Centro de Inteligência do Exército (CIE) afirma a responsabilidade do general Milton Tavares de Souza na política de eliminação física dos inimigos do regime (p.54)

010- depoimento_paulo_malhaes.pdf

Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 18ª audiência pública sobre os casos das mulheres paulistas desaparecidas no Araguaia, Helenira Resende de Souza Nazareth, Luiza Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama, realizada no dia 07/03/2013.

 

 

011-audiencia_publica_comissao_estadual_sp.pdf

Artigo escrito pelo general da brigada na reserva, Álvaro de Souza Pinheiro, para a série "Guerrilha na Amazônia: uma experiência no passado, o presente e o futuro" (publicado originalmente na: Military Review 1º Trim 95 Ed Português)

Estado-Maior das Forças Aramadas

Informações sobre o uso de bombas napalm durante a Guerrilha do Araguaia “Concepção equivocada nos níveis operacional e tático. O planejamento e a condução das

operações inicialmente desencadeadas no "Bico do Papagaio" partiram do pressuposto que as

ações de contra-guerrilha a serem executadas seriam aquelas que normalmente são

desencadeadas contra forças já no estágio de Exército de Libertação Nacional, to tipo "martelobigorna",

"pistão-cilindro", etc. Uma das primeiras operações efetuadas na área foi uma ação de

vasculhamento na única serra existente na região, a serra das Andorinhas, que se caracterizava

por não ter cobertura vegetal. Após ser bombardeada com napalm pela Força Aérea, a serra foi

objeto de uma vigorosa ação de cerco e busca efetuada por um grande efetivo. E o resultado foi

nulo porque os guerrilheiros nunca lá estiveram. Por outro lado, no terreno de selva, as patrulhas

se deslocavam com um efetivo de pelotão, 35 a 40 homens, pelas trilhas, enquanto os grupos da

guerrilha se deslocavam através selva, com um efetivo de 5 a no máximo 10 elementos. Dessa

forma as ações iniciais se mostraram extremamente ineficazes.”

012-artigo_cel_alvaro_napalm.pdf

Comissão Nacional da Verdade

 

Cadeia de Comando da Guerrilha do Araguaia

013-cadeia_comando_araguaia.pdf

Matéria “A Ordem é matar”, Revista Istoé do dia 24/03/2002

 

 

014-materia-istoe-24-03-2002-a-ordem-e-matar.pdf

         

 

  1. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

Documento

Fonte

Observação

Anexo

Laudo médico

Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual de Campinas

 

002-laudo_medico.pdf

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

Nome

Relação com o morto / desaparecido

Informação

Fonte

ÂNGELO ARROYO

Dirigente do Partido Comunista do Brasil

Em meados de junho, três companheiros dirigidos por Mundico [Rosalindo Souza] procuraram um elemento de massa, João Coioió, para pedir-lhe que fizesse uma pequena compra em São Geraldo. Coioió já tinha ajudado várias vezes os guerrilheiros com comida e informação. Ficou acertado o dia em que ele voltaria de São Geraldo para entregar as encomendas. À noitinha desse dia aproximaram-se da casa Mundico, Cazuza [Miguel Pereira dos Santos] e Maria [Maria Lúcia Petit da Silva], mas perceberam que não havia ninguém. Cazuza afirmou que ouvira alguém dizendo baixinho: “pega, pega”. Mas os outros dois nada tinham ouvido. Acamparam a uns 200 metros. Durante a noite ouviram barulho que parecia de tropa de burro chegando na casa. De manhã cedo, ouviram barulho de pilão batendo. Aproximaram-se com cautela, protegendo-se nas árvores. Maria ia à frente. A uns 50 metros da casa, recebeu um tiro e caiu morta. Os outros dois retiraram-se rapidamente. Dez minutos depois, os helicópteros metralhavam as áreas próximas da casa.

Relatório Arroyo (1974)

REGILENA CARVALHO LEÃO DE AQUINO

Militante do Partido Comunista do Brasil

“as primeiras horas do dia 16 de junho de 1972, a menos de 2 km da casa do ‘João Coioió’, Jaime (Jaime Petit da Silva), Daniel (Daniel Ribeiro Callado) e eu, fomos acordados com o disparo de um tiro ao longe e um outro tiro em seguida. Da mesma direção dos sons dos disparos, metralhadoras foram acionadas, quando o ruído distante de um helicóptero em movimento tornava-se próximo das imediações. Estávamos acampados na retaguarda para aguardar Maria (Maria Lúcia Petit da Silva), Cazuza (Miguel Pereira dos Santos) e Mundico (Rosalindo de Souza) para ajudá-los no transporte dos mantimentos encomendados ao ‘João Coioió’. Retiramo-nos imediatamente e, ao final da tarde, acampamos nas cabeceiras da chamada Grota da Cigana. Momentos mais tarde, enquanto preparávamos o jantar, milho maduro em água de sal, cozido em fogo brando, para esperar os três companheiros ausentes, surgiram Cazuza e Mundico, ensopados de suor e aflição. Perguntei pela Maria e a resposta do Cazuza foi direta e crua: ‘a reação a matou’”.

Depoimento dado ao processo respondido na 1ª Vara da Justiça Federal (anexo 008-testemunho_regilena_carvalho_leão_aquino.pdf)

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

 

 

 

 

 

 

 

 

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Maria Lucia Petit da Silva foi assassinada pelas Forças Militares do Estado Brasileiro. Apesar de seu nome constar no anexo da Lei 9140, de 4 de dezembro de 1995, após a identificação e sepultamento de seus restos mortais em 1996, atualmente Maria Lucia é considerada “morta política”.

Recomendações: Investigação das circunstâncias da prisão e morte de Maria Lucia Petit da Silva; responsabilização dos agentes da repressão envolvidos no caso, conforme sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o Estado Brasileiro “a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas”; Retificação e indicação da causa mortis no atestado de óbito; que o Brasil realize um ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional e de pedido oficial de desculpas pelas graves violações de direitos humanos perpetradas contra a vítima do presente caso, especificamente, pela denegação de justiça, como regulamenta o parágrafo 275 da Sentença da Corte Interamericana. 

 

 

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