/Mortos e Desaparecidos
ORGANIZAÇÃO:
INICIAL DO NOME:
HELENIRA RESENDE DE SOUZA NAZARETH
OCORRÊNCIADesaparecida em 29 de setembro de 1972 no Araguaia
Arquivos
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001 - BO DOPS 1967 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Boletim de ocorrência, referente a Helenira Resende de Souza Nazareth, quanto à pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967. DOPS-SP
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002 - Auto Qualificação Interrogatório 1967 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Auto de qualificação e interrogatório referente a pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967. DOPS-SP.
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003 - Termo Declaração DOPS 1967 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Termo de declarações referente a pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967. DOPS-SP.
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004 - DOPS Vida Pregressa Indiciado 1967 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Informações sobre a vida pregressa de Helenira Resende de Souza Nazareth, referente a pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967. DOPS-SP.
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005 - Ofício IPM 1969 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Ofício nº 2 IPM (Inquérito Policial Militar): solicitação de Extratos de Prontuários e diligências “a fim de apurar atividades subversivas e ligações com o extinto Partido Comunista do Brasil” de Helenira Resende de Souza Nazareth. DOPS-SP.
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006 - Resposta ofício IPM 1969 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Resposta ao Oficio nº 2 IPM (Inquérito Policial Militar), referente a Helenira Resende de Souza Nazareth. DOPS-SP.
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007 - Ficha DEOPS 1969 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Ficha do serviço de Informação do Deops/SP: relata atividade política de Helenira de 29/06/1967 a 29/08/1969. DOPS-SP, DEOPS.
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008 - Qualificação DEOPS Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Qualificação de Helenira Resende de Souza Nazareth no DEOPS.
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009 - Fichário individual DOPS 1971 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Ficha de Helenira Resende de Souza Nazareth no DOPS: relata atividade política de Helenira de 12/10/1968 a 26/05/1978, data na qual se lê “conf. Jornal do Brasil de 29/03/1978 o fichado morreu em combate em 08/09/1972”.
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010 - Ficha DOPS 1972 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Ficha DOPS-SP: relata atividade política de Helenira Resende de Souza Nazareth de 29/06/1967 a 09/11/1971. Serviço de Informações do DOPS-SP.
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011 - Ficha SNI 1972 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Reconhecimento da identidade falsa utilizada por Helenira Resende de Souza Nazareth. Serviço Nacional de Informação (SNI).
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012 - Ficha CENIMAR Identificação Helenira Resende de Souza Nazareht 1971
Informações: Reconhecimento da identidade falsa utilizada por Helenira Resende de Souza Nazareth. Marinha (Cenimar).
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013 - Ficha DEOPS Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Ficha identificação Helenira Resende de Souza Nazareth. Consta uma foto de Helenira fichada. DEOPS.
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014 - Boletim Informativo III Exército 1975 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Boletim Informativo nº 4/75, no qual consta informação de que Helenira Resende de Souza Nazareth foi condenada a revelia no processo nº 65/68 e no 118/69 pela 2ª Auditoria/2ªCJM. Serviço de Polícia do III Exército/Quartel em Porto Alegre.
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015 - Certidão DOPS Gaveta Falecidos Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Certidão do Departamento da Polícia Civil do Estado do Paraná/ Divisão de Segurança e Informação, relatando que a ficha de Helenira Resende de Souza Nazareth foi encontrada na Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) do Paraná no arquivo de aço plaqueta G.2-1178 em um gaveta com a seguinte identificação: “falecidos”.
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016 - Departamento Polícia Civil Paraná Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Ficha de Helenira Resende de Souza Nazareth referente a sua participação no Congrsso da UNE de 1968. Departamento Polícia Civil do Paraná.
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017 - Relatório SNI Bagulhão 1976 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Relatório sobre denúncias de torturas, ao Gabinete Civil da Presidência da República. Registro da denúncia de Jair Borin e José Genoíno feita em 1975 (publicada no livro intitulado “Bagulhão”) sobre a morte de Helenira em combate na repressão à Guerrilha do Araguaia, em 1972.
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018 - Depoimento Helenalda Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Depoimento de Helenalda Resende de Souza Nazareth, irmã de Helenira, sobre a trajetória de vida de Helenira antes de sua ida a região do Araguaia.
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019 - Depoimento Crimeia Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Depoimento da guerrilheira Criméia sobre a morte de Helenira Resende de Souza Nazareth no Araguaia.
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020 - Depoimento Familiares Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Relato de como a família soube da morte de Helenira Resende de Souza Nazareth somente em 1978, apesar de ter sido assassinada em 1972.
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021 - Processo Interno Familiares Araguaia Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Requerimento de inclusão da família de Helenira Resende de Souza Nazareth como autores da Ação Ordinária proposta pelos familiares dos desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia contra a União de 1982.
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023 - Reportagem Voz da Terra Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Reportagem "A comovente história de Helenira", publicada no jornal Voz da Terra, em 8 de fevereiro de 1979, sobre a vida de Helenira e sua família.
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022 - Lista Documentos Dossiê CEMDP Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Lista de documentos encaminhados a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), referente a Helenira Resende de Souza Nazareth.
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025 - Fichas entregues Jornal O Globo 1996 Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Fichas entregues ao jornal O Globo, em 1996, por militar (anônimo) que participou da Guerrilha do Araguaia. Constam o nome de Helenira riscado (p. 2) e uma ficha com os dados de Helenira onde se afirma “foi morta no dia 28 de set 72, no Pará” (p.20).
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026 - Relatório Antonio Bandeira Araguaia Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Relatório escrito por Claudio Fonteles para a CNV onde o comissionário analisa o “Relatório das Operações Contraguerrilheiras realizadas pela 3ª BDA INF no Sudeste do Pará”. No documento, o general da brigada Antonio Bandeira afirma “Da FT 2º BIS – Ação de patrulhamento, em 28 de set 72, executada por 1GC na R do ALVO teve como resultado a morte de Helenira Rezende de Souza ‘Fatima’ (Dest. A- Grupo Metade)” (p.5)
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027 - Depoimento Paulo Malhães Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Depoimento de Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado no dia 30/05/2014. Coronel do Exército e agente do Centro de Inteligência do Exército (CIE) afirma a responsabilidade do general Milton Tavares de Souza na política de eliminação física dos inimigos do regime (p.54)
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028 - Audiência Pública Comissão Estadual SP Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 18ª audiência pública sobre os casos das mulheres paulistas desaparecidas no Araguaia, Helenira Resende de Souza Nazareth, Luiza Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama, realizada no dia 07/03/2013.
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029 - Cadeia Comando Araguaia Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Cadeia comando Araguaia - Apresentação "Comando Guerrilha do Araguaia" utilizada na Audiência Pública de Mortos e Desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, realizada em 12/08/2014, Brasília-DF.
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030 - Matéria Istoé 24/03/2002 A Ordem é Matar Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: A ordem é matar, Isto É - Matéria jornalística publicada na Revista Isto É, intitulada “Os matadores”, por Amaury Ribeiro Jr. - especial 40 anos do Golpe Militar, edição online.
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024 - Foto Helenira Resende de Souza Nazareth
Informações: Retrato fotográfico de Helenira Resende de Souza Nazareth.
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Comissão Estadual da Verdade relembra Guerrilha do Araguaia - Parte 1 - 12 de abril de 2013
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Comissão Estadual da Verdade relembra Guerrilha do Araguaia - Parte 2 - 12 de abril de 2013
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Comissão Estadual da Verdade relembra Guerrilha do Araguaia - Parte 3 - 12 de abril de 2013
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Caso Araguaia: Depoimentos sobre as mulheres paulistas desaparecidas na guerrilha - Parte 1 - 7 de março de 2013
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Caso Araguaia: Depoimentos sobre as mulheres paulistas desaparecidas na guerrilha - Parte 2 - 7 de março de 2013
RELATO DO CASO
Nascida na pequena cidade de Cerqueira César, no interior paulista, próximo a Avaré, mudou-se para Assis aos quatro anos, onde cresceu. Concluiu ali o curso Clássico no Instituto de Educação Prof. Clibas Pinto Ferraz, onde foi uma das fundadoras do grêmio de representação dos alunos. Filha de um médico negro, conhecido e respeitado por suas tendências humanistas, Helenira também se destacou como atleta, com desempenho especial na equipe de basquete da cidade, uma das melhores na região sorocabana. Mudou-se então para São Paulo e cursou Letras na Faculdade de Filosofia da USP, localizada então na rua Maria Antônia, sendo eleita presidente do Centro Acadêmico. Tornou-se importante liderança no Movimento Estudantil, sendo conhecida também pelo apelido “Preta”. A primeira prisão de Helenira aconteceu em junho de 1967, quando escrevia nos muros da Universidade Mackenzie, na própria rua Maria Antônia, a frase: “Abaixo as leis da ditadura”. Voltou a ser presa em maio de 1968, quando convocava colegas a participarem de uma passeata na capital paulista.
Naquele mesmo ano de fortes mobilizações estudantis, foi presa pela terceira vez em Ibiúna (SP), agora como delegada do 30º Congresso da UNE, entidade da qual era vice-presidente. Na ocasião, quando o ônibus que transportava estudantes presos passou pela avenida Tiradentes, Helenira conseguiu entregar a um transeunte bilhete para ser levado à sua residência, no Cambuci, avisando a família sobre a prisão. Apontada como liderança no Movimento Estudantil, foi transferida do Presídio Tiradentes para o DOPS, sendo jurada de morte pelo delegado Sergio Paranhos Fleury. Depois, Helenira seria transferida para o Presídio de Mulheres do Carandiru, onde ficou detida por dois meses. A família conseguiu libertá-la mediante habeas-corpus na véspera da edição do AI-5. A partir de então, Helenira, que já era militante do PCdoB, passou a viver e atuar na clandestinidade, morando em vários pontos da cidade e do país antes de mudar-se para o Araguaia. Conhecida como Fátima naquela região, integrou o Destacamento A da guerrilha, unidade que passou a ter seu nome após sua morte.
O relatório do Ministério da Marinha, encaminhado ao ministro da Justiça Maurício Corrêa em 1993, afirma cinicamente que ela se encontra foragida.
No arquivo do DOPS/PR, o nome de Helenira e de mais 16 pessoas consta em uma gaveta com a identificação “falecidos”. No “livro secreto” do Exército, divulgado pela imprensa em abril de 2007, consta a respeito dela na página 724: “No dia 28 (de setembro de 1972), um grupo que realizava um patrulhamento quase caiu numa emboscada fatal. No entanto, falhou a arma ou fraquejou um dos terroristas e o grupo foi alertado. Como se tratasse de uma passagem perigosa, o grupo tinha exploradores evoluindo pela mata, os quais reagiram a tempo. O terrorista cuja arma falhara logrou fugir. O outro, que abriu fogo com uma espingarda calibre 16, caiu morto no tiroteio que se seguiu. Trata-se de Helenira Resende de Souza Nazareth (Fátima), do destacamento A”. (CEDMP, p. 213).
Entre 1969 e 1972, mesmo após sua morte na Guerrilha do Araguaia, sua família foi intimada a prestar declarações ao DOPS/SP e ao II Exército.
O Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo, que escapou ao cerco militar à região em 1974, descreveu sua morte:
“No dia 29 de setembro, houve um choque do qual resultou a morte de Helenira Resende. Ela, juntamente com outro companheiro, estava de guarda num ponto alto da mata para permitir a passagem, sem surpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasião, pela estrada vinham tropas. Como estas achassem a passagem perigosa, enviaram “batedores” para explorar a margem da estrada, precisamente onde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este quando viu os soldados, acionou a metralhadora, que não funcionou. Ele correu e Helenira não se deu conta do que estava sucedendo. Quando viu, os soldados já estavam diante dela. Helenira atirou com uma espingarda 16. Matou um. O outro soldado deu uma rajada de metralhadora que a atingiu. Ferida, sacou o revólver e atirou no soldado, que deve ter sido atingido. Foi presa e torturada até a morte. Elementos da massa dizem que seu corpo foi enterrado no local chamado 'Oito Barracas'”.
Sua morte foi citada no Comunicado 6 das Forças Guerrilheiras do Araguaia.
Nas fichas encaminhadas anonimamente ao jornal O Globo, em 1996, além de outras informações, registra-se que ela “[…] foi morta no dia 28 set. 72, no Pará”.
O Relatório da Manobra Araguaia, de 30 de outubro de 1972, assinado pelo comandante da 3ª Brigada de Infantaria, general Antônio Bandeira, no capítulo “Ações mais Importantes Realizadas pelas Peças de Manobra da FT 2º BIS”, afirma: “[…] ação de patrulhamento, em 28 Set. 72, executada por 1 GC na R do Alvo teve como resultado a morte da terrorista Helenira Rezende de Souza Nazareth ‘Fátima’ (Dst A – Grupo Metade)”.
O Relatório da Operação Sucuri, de maio de 1974, confirma sua morte, indicando-a como Fátima.
Em declarações feitas na Justiça Militar, a presa política Elza de Lima Monnerat denunciou o assassinato de Helenira sob tortura, após ter sido baleada nas pernas.
Em depoimento, Danilo Carneiro, um dos primeiros guerrilheiros a ser preso pelo Exército ainda na região, no processo movido pelos familiares de desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, na 1ª Vara da Justiça Federal, afirmou que viu, na prisão, slides de corpos mutilados de guerrilheiros e álbuns de fotografias que lhes eram mostrados pelo Exército para que ele os identificasse:
“Eles iam matando e riscando os nomes do álbum”. Ele confirmou ter visto fotografias dos corpos de Bergson Gurjão Farias, João Carlos Haas Sobrinho e Helenira.
Segundo depoimento de Regilena Carvalho Leão de Aquino, no mesmo processo, o general Antônio Bandeira lhe falou da morte de Helenira.
O relatório do Ministério Público Federal de São Paulo, assinado pelos procuradores Marlon Alberto Weichert, Guilherme Schelb, Ubiratan Cazetta e Felício Pontes Jr, de 28/01/2002, também registra a partir de depoimentos tomados de moradores da área, quase 30 anos depois:
“Fátima: HELENIRA REZENDE, foi vista por um depoente, baleada na coxa e na perna, sendo carregada em cima de um burro de um morador da região, próximo à localidade de Bom Jesus. Outro depoente ouviu referências de que Fátima foi vista na base de Oito Barracas. E um terceiro conta que ‘ouviu falar’ ter Fátima chegado já morta em Oito Barracas, em função de ferimentos”. Os procuradores também registram como possível local de sepultamento as proximidades do igarapé Tauarizinho, na base de Oito Barracas.
Seu nome consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I, da lei 9.140/95.
Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pela desaparição de 62 pessoas na região do Araguaia no caso Gomes Lund e Outros (“Guerrilha do Araguaia”) VS. Brasil, dentre elas está Helenira. A sentença obriga o Estado Brasileiro a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas.
Em 2014, a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo enviou a Defensoria Pública do Estado de São Paulo a requisição para que o atestado de óbito de Helenira seja retificado e que a causa mortis seja indicada. Na CEMDP, seu caso foi protocolado com o nº 148/96.
Em sua homenagem, as cidades de São Paulo (SP) e Campinas (SP) deram o seu nome a ruas situadas nos bairros Cidade Ademar e Grajaú, na capital paulista, e Vila Esperança, no interior do estado. A cidade de Guarulhos (SP) também deu o seu nome a uma de suas ruas.
Fontes investigadas:
Conclusões da CEMDP; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE; “Bagulhão”: a voz dos presos políticos contra os torturadores. Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, 2014; Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 18ª audiência pública sobre os casos das mulheres paulistas desaparecidas no Araguaia, Helenira Resende de Souza Nazareth, Luiza Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama, realizada no dia 07/03/2013.
IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO
Órgão / Período |
Nome |
Função |
conduta |
Vivo/data do óbito |
Observações |
Presidência da República |
Emílio Garrastazu Médici |
Presidente da República e General |
Mentor e comandante responsável pela política de Estado de eliminação de opositores e de guerrilhas urbanas e rurais, sem deixar rastros. Segundo reportagens da Revista IstoÉ foi encontrado documento nos pertences do General Antônio Bandeira, que revelou uma reunião realizada entre os generais Ernesto e Orlando Geisel e o então presidente da República, na época, general Emílio G. Médici, da qual Antônio Bandeira General do Exército também participou, e na qual foram estabelecidas as diretrizes da repressão política, de assassinados, sem deixar vestígios, dos militantes de esquerda, ou seja, de uma política de Estado. Segundo o documento, seria “necessária a utilização de todos os meios para eliminar, sem deixar vestígios, as guerrilhas rurais e urbanas, de qualquer jeito, a qualquer preço”. |
Morto |
Anexo 030-materia-istoe-24-03-2002-a-ordem-e-matar.pdf |
Presidência da República e Exército |
Ernesto Geilsel |
Presidente da República e General |
Mentor e comandante responsável pela política de Estado de eliminação de opositores e de guerrilhas urbanas e rurais, sem deixar rastros. |
Morto
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Anexo 030-materia-istoe-24-03-2002-a-ordem-e-matar.pdf |
III EXÉRCITO |
Antônio Bandeira |
General da 3ª Divisão de Infantaria |
Assassinato e ocultação de cadáver |
Morto |
Informação Dossiê Ditadura p. 376 |
Milton Tavares de Souza |
General e diretor do Centro de Informações do Exército |
Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia |
Morto |
“Miltinho era o general Milton Tavares de Souza, também conhecido como “Caveirinha”. Foi diretor do Centro de Informações do Exército enquanto Orlando Geisel era Ministro do Exército, durante o governo Médici. Nessa função, foi responsável pela política de eliminação física dos inimigos do regime. Foi ainda responsável em 1969 pela organização dos DOI-CODI em todo o Brasil e das operações Bandeirantes e Marajoara, que prepararam o terreno para os desmantelamento da Guerrilha do Araguaia” Informação consta no depoimento dado pelo coronel do Exército Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014. |
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Gabinete Militar 1974-1979 |
Hugo de Andrade Abreu |
Chefe Gabinete militar de 1974-1979 e Comandante da Brigada Pára-Quedista |
Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia |
Morto |
“O papel do general Hugo Abreu começa a crescer mais ou menos a partir dessas discussões: fica acertada a participação cada vez maior dos pára-quedistas da Brigada de Pára-quedistas do Exército, os homens mais bem treinados do país, militarmente.” Informação consta no jornal O Estado de São Paulo do dia 13/09/1978 |
COMANDO MILITAR DO PLANALTO |
OLAVO VIANNA MOOG |
General e Comandante do Comando Militar do Planalto |
Utilização de bombas napalm contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia |
Vivo |
Informação no relatório “Araguaia I” produzido por Claudio Fonteles para a Comissão Nacional da Verdade (p.8) |
DOCUMENTOS CONSULTADOS
- Documentação principal
Identificação do documento |
Órgão da repressão |
Observações |
Anexo |
Boletim de ocorrência quanto à pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967 |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
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001-bo_dops_1967.pdf |
Auto de qualificação e interrogatório referente a pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967 |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
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002-auto_qualificacao_interrogatorio_1967.pdf |
Termo de declarações referente a pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967 |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
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003-termo_declaracao_dops_1967.pdf |
Informações sobre a vida pregressa do indiciado referente a pixação “Abaixo as leis da ditadura” no muro da Faculdade Mackenzie, em 1967 |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
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004-dops_vida_pregressa_indiciado_1967.pdf |
Oficio nº 2 IPM (Inquérito Policial Militar) |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
Solicitação de Extratos de Prontuários e diligências “a fim de apurar atividades subversivas e ligações com o extinto Partido Comunista do Brasil” de Helenira Resende de Souza Nazareth |
005-oficio_ipm_1969.pdf |
Resposta ao Oficio nº 2 IPM (Inquérito Policial Militar) |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
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006-resposta_oficio_ipm_1969.pdf |
Serviço de Informação do Deops/SP |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
Relata atividade política de Helenira de 29/06/1967 a 29/08/1969 |
007-ficha_deops_1969.pdf |
Qualificação Deops/SP |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
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008-qualificacao_deops.pdf |
Fichário Individual |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
Relata atividade política de Helenira de 12/10/1968 a 26/05/1978 data onde se lê “conf. Jornal do Brasil de 29/03/1978 o fichado morreu em combate em 08/09/1972” |
009-fichario_individual_dops_1971.pdf |
Serviço de Informações do Dops/SP |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
Relata atividade política de Helenira de 29/06/1967 a 09/11/1971 |
010-ficha_dops_1972.pdf |
Serviço Nacional de Informação (SNI) |
Serviço Nacional de Informação (SNI) |
Reconhecimento da identidade falsa utilizada por Helenira |
011-ficha_sni_1972.pdf |
Ministério da Marinha |
Centro de Informações da Marinha (Cenimar) |
Reconhecimento da identidade falsa utilizada por Helenira |
012-ficha_cenimar_identificacao_helenira_1971.pdf |
Ficha identificação Helenira |
Departamento de Ordem Político e Social de São Paulo (Dops/SP) |
Consta uma foto de Helenira fichada |
013-ficha_deops.pdf |
Boletim Informativo nº 4/75 |
Serviço de Polícia do III Exército/Quartel em Porto Alegre |
Consta informação de que Helenira foi condenada a revelia no processo nº 65/68 e no 118/69 pela 2ª Auditoria/2ªCJM |
014-boletim_informativo_III_exercito_1975.pdf |
Certidão |
Departamento da Polítcia Civil do Estado do Paraná/ Divisão de Segurança e Informação |
Certifica que a ficha de Helenira foi encontrada na Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) do Paraná no arquivo de aço plaqueta G.2-1178 em um gaveta com a seguinte identificação: “falecidos” |
015-certidao_dops_gaveta_falecidos.pdf |
Ficha Helenira referente a sua participação no Congrsso da UNE de 1968 |
Departamento Polícia Civil do Paraná |
Ficha Helenira de sua participação no Congrsso da UNE de 1968 |
016-departamento_policia_civil_parana.pdf |
Relatório sobre denuncias de torturas ao Gabinete Civil da Presidência da República |
Serviço Nacional de Informação (SNI) |
Registro da denuncia de Jair Borin e José Genoíno feita em 1975 (publicada no livro intitulado “Bagulhão”) sobre a morte de Helenira em combate na repressão à Guerrilha do Araguaia, em 1972 |
017-relatorio_sni_bagulhao_1976.pdf |
Depoimento de Helenalda Resende de Souza Nazareth, irmã de Helenira |
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Helenalda, irmã de Helenira, escreve sobre a trajetória de vida de Helenira antes de sua ida a região do Araguaia |
018-depoimento_helenalda.pdf |
Depoimento Criméia Alice Schimdt de Almeida |
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Depoimento da guerrilheira Criméia sobre a morte no Araguaia de Helenira |
019-depoimento_crimeia.pdf |
Depoimento família de Helenira |
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Relato de como a família soube da morte de Helenira somente em 1978 apesar de ter sido assassinada em 1972 |
020-depoimento_familiares.pdf |
Requerimento de inclusão da família de Helenira como autores da Ação Ordinária proposta pelos familiares dos desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia contra a União de 1982 |
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Inclusão da família de Helenira como autores da Ação Ordinária proposta pelos familiares dos desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia contra a União de 1982 |
021-processo_interno_familiares Araguaia.pdf |
Lista de documentos encaminhados a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) |
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Lista de documentos encaminhados a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) |
022-lista_documentos_dossie_cemdp.pdf |
Reportagem sobre a vida de Helenira e sua familia |
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Reportagem sobre a vida de Helenira e sua familia |
023-reportagem_voz_da_terra.pdf |
Foto Helenira |
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024-foto_helenira.pdf |
Fichas entregues ao jornal O Globo, em 1996, por militar (anonimo) que participou da Guerrilha do Araguaia |
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Consta o nome de Helenira riscado (p. 2) e uma ficha com os dados de Helenira onde se afirma “foi morta no dia 28 de set 72, no Pará” (p.20) |
025-fichas_entregues_aojornal_o_globo_1996.pdf |
Relatório escrito por Claudio Fonteles para a Comissão Nacional da Verdade onde o comissionário analisa o “Relatório das Operações Contraguerrilheiras relaizadas pela 3ª BDA INF no Sudeste do Pará” produzido pelo general de Brigada Antonio Bandeira, em 30 de outubro de 1992 |
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No relatório o general da brigada Antonio Bandeira afirma “Da FT 2º BIS – Ação de patrulhamento, em 28 de set 72, executada por 1GC na R do ALVO teve como resultado a morte de Helenira Rezende de Souza ‘Fatima’ (Dest. A- Grupo Metade)” (p.5) |
026-relatorio_antonio_bandeira_araguaia.pdf |
Depoimento de Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014 |
Centro de Inteligência do Exército (CIE) |
Coronel do Exército e agente do Centro de Inteligência do Exército (CIE) afirma a responsabilidade do general Milton Tavares de Souza na política de eliminação física dos inimigos do regime (p.54) |
027- depoimento_paulo_malhaes.pdf |
Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 18ª audiência pública sobre os casos das mulheres paulistas desaparecidas no Araguaia, Helenira Resende de Souza Nazareth, Luiza Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama, realizada no dia 07/03/2013. |
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028-audiencia_publica_comissao_estadual_sp.pdf |
Comissão Nacional da Verdade |
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Cadeia de Comando da Guerrilha do Araguaia |
029-cadeia_comando_araguaia.pdf |
Matéria “A Ordem é matar”, Revista Istoé do dia 24/03/2002 |
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030-materia-istoe-24-03-2002-a-ordem-e-matar.pdf |
- Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento
Documento |
Fonte |
Observação |
Anexo |
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3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento
Nome |
Relação com o morto / desaparecido |
Informação |
Fonte |
ÂNGELO ARROYO |
Dirigente do Partido Comunista do Brasil |
No dia 29 de setembro, houve um choque do qual resultou a morte de Helenira Resende. Ela, juntamente com outro companheiro, estava de guarda num ponto alto da mata para permitir a passagem, sem surpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasião, pela estrada vinham tropas. Como estas achassem a passagem perigosa, enviaram “batedores” para explorar a margem da estrada, precisamente onde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este quando viu os soldados, acionou a metralhadora, que não funcionou. Ele correu e Helenira não se deu conta do que estava sucedendo. Quando viu, os soldados já estavam diante dela. Helenira atirou com uma espingarda 16. Matou um. O outro soldado deu uma rajada de metralhadora que a atingiu. Ferida, sacou o revólver e atirou no soldado, que deve ter sido atingido. Foi presa e torturada até a morte. Elementos da massa dizem que seu corpo foi enterrado no local chamado “Oito Barracas”.
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Relatório Arroyo (1974) |
ELZA MONNERAT |
Militante Partido Comunista do Brasil |
Em declarações feitas na Justiça Militar, a presa política Elza de Lima Monnerat denunciou o assassinato de Helenira sob tortura, após ter sido baleada nas pernas.
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Informação do Dossiê Ditadura p. 376 |
DANILO CARNEIRO |
Militante Partido Comunista do Brasil |
Em depoimento, Danilo Carneiro, um dos primeiros guerrilheiros a ser preso pelo Exército ainda na região, no processo movido pelos familiares de desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, na 1ª Vara da Justiça Federal, afirmou que viu, na prisão, slides de corpos mutilados de guerrilheiros e álbuns de fotografias que lhes eram mostrados pelo Exército para que ele os identificasse: “Eles iam matando e riscando os nomes do álbum”. Ele confirmou ter visto fotografias dos corpos de Bergson Gurjão Farias, João Carlos Haas Sobrinho e Helenira.
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Informação do Dossiê Ditadura p. 376 |
REGILENA CARVALHO LEÃO DE AQUINO |
Militante do Partido Comunista do Brasil |
Segundo depoimento de Regilena Carvalho Leão de Aquino, no mesmo processo [respondido por Danilo Carneiro na 1ª Vara da Justiça Federal], o general Antônio Bandeira lhe falou da morte de Helenira.
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Informação do Dossiê Ditadura p. 376 |
Adalgisa Moraes da Silva |
Moradora da região do Araguaia |
“Sra. Adalgisa Moraes da Silva, (...) que em 1972 entrou os primeiros helicópteros trazendo soldados para a região do Chega com Jeito; que os militares ficaram lá durante uma semana; que depois disto passaram em sua casa com os burros carregados de carga dentro de sacos e que só foi possível distinguir as botinas; que foram para o rumo de Marabá; que depois eles voltaram e chegaram na casa de sua mãe, no Alto Bonito, perto de São José; que dormiram na casa de sua mãe cerca de 20 soldados; que dormiram no chão com medo do ataque dos guerrilheiros; que no dia seguinte saíram e foram para o Castanhal do Mano Ferreira; que, lá houve o combate em que a Fátima foi morta e o Nunes conseguiu se esconder atrás de uma folha; que os soldados foram buscar o cavalo do Edite para levar a Fátima; que o corpo da Fátima foi colocado atravessado na cangalha e levado para a casa do Mamede; que na casa do Mamede a Fátima foi enrolada num plástico preto e colocada atrás da porta; que no dia seguinte levaram o corpo da Fátima, primeiramente de cavalo e depois de carro onde passava a estrada; que foi levada para as Oito Barracas; (...)
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Termo de declaração feita ao Ministério Público Federal, em São Domingos do Araguaia, em 06/07/2001. |
Agenor Moraes da Silva |
Morador da região do Araguaia |
Sr. Agenor Moraes Silva, (...) que o declarante conheceu os 4 grupos de pessoas que viviam na mata, mas o declarante tinha mais intimidade com o grupo do Chega com Jeito, integrado pela Sônia, Fátima, José Carlos, Mauro Borges (a Sônia dizia que era o pai dela), Nelito e outros que não lembra o nome direito; (...) que ficou sabendo que Fátima teria atirado primeiro na equipe do Exército, atingindo o quepe do comandante, no que ocorreu o revide atingindo Fátima na coxa; que Fátima foi presa ainda viva, e enrolada em uma lona de plástico preta, colocado em um cavalo e levada para região de Oito Barracas, local em que já chegou morta; que na região de Oito Barracas havia um acampamento do Exército; que o declarante não presenciou esses fatos, mas quem lhe contou foi o Edite, que carregou em seu próprio cavalo o corpo de Fátima; que o Edite, que tinha cerca de 35 anos, sumiu da região naquela época e nunca mais foi visto; que Mamede, vizinho do Edite, e que morava perto de Chega com Jeito, também presenciou os fatos; que o declarante chegou no local onde Fátima foi baleada logo após terem levado seu corpo; (...)”. |
Termo de declaração feita ao Ministério Público Federal, em São Domingos do Araguaia, em 07/07/2001 |
José Rufino Pinheiro |
Morador da região do Araguaia |
“Sr. José Rufino Pinheiro, (...) que o declarante ficou por 06 meses e 16 dias ajudando o Exército na mata, guiando-os; que o batalhão que o declarante servia de guia era composto de 32 soldados; (...) que viu a Fátima, guerrilheira, baleada na coxa e perna, pois ela estava sendo carregada no lombo de um burro do Edite, que é casado com uma sobrinha do declarante, até a localidade de Bom Jesus; que segundo informações à época ela teria sido removida para Belém num helicóptero; (...)”. |
Termo de declaração feita ao Ministério Público Federal, em São Domingos do Araguaia, em 05/07/2001 |
4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento
Nome |
Órgão / Função |
Informação |
Fonte com referências |
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OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO
Conclusão: Helenira Resende de Souza Nazareth é considerada desaparecida política, por não ter sido entregue os restos mortais aos seus familiares, não permitindo o seu sepultamento até os dias de hoje. Conforme o exposto no parágrafo 103 da Sentença da Corte Interamericana no Caso Gomes Lund e outros: “adicionalmente, no Direito Internacional, a jurisprudência deste Tribunal foi precursora da consolidação de uma perspectiva abrangente da gravidade e do caráter continuado ou permanente da figura do desaparecimento forçado de pessoas, na qual o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subseqüente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade (...)”.
No parágrafo 110 do mesmo documento é mencionado que: “(...) pode-se concluir que os atos que constituem o desaparecimento forçado têm caráter permanente e que suas conseqüências acarretam uma pluriofensividade aos direitos das pessoas reconhecidos na Convenção Americana, enquanto não se conheça o paradeiro da vítima ou se encontrem seus restos, motivo pelo qual os Estados têm o dever correlato de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis, conforme as obrigações decorrentes da Convenção Americana”. (Sentença da Corte Interamericana, p. 38 e 41, publicação da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo).
Recomendações: Investigação das circunstâncias da prisão, morte e desaparecimento de Helenira Resende de Souza Nazareth, localização dos seus restos mortais e responsabilização dos agentes da repressão envolvidos no caso, conforme sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o Estado Brasileiro “a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas”; Retificação e indicação da causa mortis no atestado de óbito; que o Brasil realize um ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional e de pedido oficial de desculpas pelas graves violações de direitos humanos perpetradas contra a vítima do presente caso, especificamente, pela denegação de justiça, como regulamenta o parágrafo 275 da Sentença da Corte Interamericana.