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INICIAL DO NOME:

ANA ROSA KUCINSKI SILVA

OCORRÊNCIA

22 de abril de 1974, São Paulo (SP)

DADOS PESSOAIS
Filiação: Majer Kucinski e de Ester Kucinski
Data e local de nascimento: 12 de janeiro de 1942, São Paulo (SP)
Profissão: Química, professora no Instituto de Química da USP
Atuação política: Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN)
Data e local da morte/desaparecimento: 22 de abril de 1974, São Paulo (SP)
Organização política: Ação Libertadora Nacional (ALN).

Arquivos

BIOGRAFIA

Nasceu em 12 de janeiro de 1942, em São Paulo (SP), filha de Majer Kucinski e de Ester Kucinski.  Desaparecida em 22 de abril de 1974. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Filha de judeus vindos da Polônia, estudou em São Paulo, no Ginásio Estadual Octávio Mendes e, posteriormente, na Universidade de São Paulo, onde se bacharelou em química em 1967. Tornou-se professora no Instituto de Química da USP. Obteve Doutorado em Filosofia também na USP em 1972. Casou-se com o físico Wilson Silva, militante da ALN, em 11 de julho de 1970. (Dossiê Ditadura, p. 569)

EXAME DA MORTE OU DO DESAPARECIMENTO FORÇADO ANTERIORMENTE À INSTITUIÇÃO DA CNV

CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE OU DO DESAPARECIMENTO FORÇADO

Em 22 de abril de 1974, Wilson Silva saiu do escritório da empresa Servix com Osmar Miranda Dias, seu colega de trabalho, para fazer um serviço no centro da cidade. Por volta do meio-dia, Wilson disse ao colega que voltaria para o escritório na parte da tarde, mas iria almoçar com sua esposa, Ana Rosa Kucinski Silva, em um restaurante perto da Praça da República. Despediu-se e partiu ao seu encontro. Nunca mais foi visto.

Ana Rosa também saiu do trabalho, Instituto de Química da USP,  rumo ao centro da cidade para almoçar com seu marido. Avisou seus colegas de trabalho sobre seus planos e saiu. Também nunca mais foi vista. Segundo seu irmão, no dia anterior ela estava muito nervosa. A ausência de Ana Rosa na USP causou estranheza aos seus colegas, que avisaram a família Kucinski. Ao procurarem Wilson em seu trabalho, ficaram sabendo que ele também não voltara do almoço. Começaram a tomar providências para a localização do casal desaparecido. Impetraram um habeas corpus por intermédio do advogado Aldo Lins e Silva. A medida foi rejeitada, pois o AI-5 havia abolido o habeas corpus para crimes políticos. As famílias procuraram em todos os locais de prisão na esperança de alguma notícia ou informação, mas nada conseguiram.

O cardeal Arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, conseguiu uma audiência com o general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do governo Geisel, em Brasília (DF) em 7 de agosto de 1974, e obteve promessas de investigação como resposta. Golbery também foi procurado a respeito por Roberto Muller, editor do jornal Gazeta Mercantil, onde o irmão da Ana Rosa trabalhava. A Comissão de Direitos Humanos da OEA também foi acionada. O pedido de investigação, feito em 10 de dezembro de 1974, obteve como resposta do governo brasileiro apenas que não havia responsabilidade governamental alguma sobre o destino do casal.

O pai de Ana Rosa lutou incansavelmente para obter alguma informação e se tornou um símbolo da luta dos familiares. Chegou a entregar uma carta ao general Dilermando Gomes Monteiro, comandante do II Exército, mas este nunca a respondeu. As famílias pediram informações ao Departamento de Estado do governo norte-americano sobre o destino dado ao casal, que respondeu por meio da America Jewish Communitee e do American Jewish Congress. A resposta recebida foi a de que Ana Rosa ainda estaria viva, presa em local desconhecido, mas sobre Wilson Silva nada sabiam. A última informação do Departamento de Estado foi transmitida à família em 18 de dezembro de 1974.

Em 6 de fevereiro de 1975, respondendo a requerimento feito pelos familiares sobre o paradeiro dos desaparecidos políticos, o ministro da Justiça, Armando Falcão, publicou nota oficial a respeito, na qual os nomes de Ana Rosa e Wilson Silva são citados como “terroristas foragidos”. Anos depois, o tenente-médico Amílcar Lobo, que colaborou com o DOI-CODI do I Exército e atuou também no aparelho clandestino  da repressão conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), após ser identificado por ex-presos políticos, resolveu falar à revista IstoÉ. Na matéria intitulada “Longe do Ponto Final” (8 de abril de 1987), contou sobre os assassinatos que presenciara na unidade militar e na Casa da Morte. Procurado pelo jornalista Bernardo Kucinski, irmão de Ana Rosa, em 31 de maio de 1987, o médico denotou reconhecer a foto de Wilson Silva como uma das pessoas atendidas por ele na Casa de Petrópolis, mas não admitiu o reconhecimento formalmente. Ao ver a foto de Ana Rosa, negou conhecê-la. O relatório do Ministério da Marinha enviado ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em dezembro de 1993, confirma que Wilson Silva “[…] foi preso em São Paulo a 22/04/1974, e dado como desaparecido desde então”. Sobre Ana Rosa há apenas referências caluniosas, estendidas também ao seu irmão Bernardo Kucinski.

Pesquisas realizadas pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos nos arquivos do antigo DOPS/SP conseguiram localizar apenas uma ficha sobre Ana Rosa, em que se lê: “presa no dia 22 de abril de 1974 em SP”. Sobre Wilson Silva consta que foi “preso em 22/04/1974, junto com sua esposa Rosa Kucinski”. Outro documento encontrado no arquivo do DOPS/SP, produzido pelo Ministério da Aeronáutica em 17 de março de 1975, encaminhando, entre outros documentos, o relatório do Serviço de Informação do DOPS/SP sobre Ieda Santos Delgado e Ana Rosa Kucinski, informa que ambas estavam envolvidas com pessoas presas ou perseguidas pela polícia.

Em requerimento à CEMDP, com base em informações de uma entrevista de 1993 não publicada do agente da repressão José Rodrigues Gonçalves a Mônica Bérgamo, da revista Veja, seu irmão Bernardo Kucinski prestou os seguintes esclarecimentos sobre as tentativas de localizar sua irmã e seu cunhado: “Minha irmã e seu marido Wilson Silva foram presos na tarde do dia 22 de abril de 1974, pelo agente do DOI-CODI de codinome Paulo da Silva Júnior, quando voltavam para sua residência. O verdadeiro nome desse agente é José Rodrigues Gonçalves, cabo reformado do Exército. Minha irmã e meu cunhado foram levados na madrugada do mesmo dia para Petrópolis pelos policiais Ênio Pimentel da Silveira e Sérgio Paranhos Fleury, ambos já mortos. O Sr. Paulo Sawaya, na condição presumida de agente do serviço de repressão, informou-me, em 3 de janeiro de 1975, que minha irmã efetivamente havia sido presa pelos órgãos de segurança em São Paulo e transferida da jurisdição do II Exército. Ficou de me dar detalhes no dia seguinte, quando, assustado, negou tudo. O Sr. Paulo Sawaya tornou-se assessor do deputado federal Delfim Neto.

Segundo testemunho de Bernardo publicado no livro Desaparecidos Políticos: “A morte já é um sofrimento suficiente, por assim dizer. Um sofrimento brutal. Agora, a incerteza de uma morte, que no fundo é certeza, mas formalmente não é, é muito pior. Passam-se anos até que as pessoas comecem a pensar que houve morte mesmo. E os pais, principalmente, já mais idosos, nunca conseguem enfrentar essa situação com realismo”.

Ele declarou, também à revista Veja, que a família foi extorquida em 25 mil cruzeiros em troca de informações, que se mostraram falsas. De acordo com a entrevista de Marival Dias Chaves do Canto, ex-sargento e ex-agente do DOI-CODI/SP, em reportagem de Expedito Filho na revista Veja, de 18 de novembro de 1992: “A partir de 1973, Jota [João Henrique Ferreira de Carvalho] delatou todos os comandos da ALN. Foi por causa do seu trabalho que Wilson Silva e sua mulher, Ana Rosa Kucinski, foram torturados e mortos”. Em outra parte da entrevista ele afirmou: “Foi o caso também de Ana Rosa Kucinski e seu marido, Wilson Silva. Foram delatados por um “cachorro” [ou seja, por um ex-militante que prestava serviço aos órgãos da repressão política durante a ditadura como agente infiltrado], presos em São Paulo e levados para a casa de Petrópolis. Acredito que seus corpos também foram despedaçados”. De acordo com o ex-sargento, na Casa de Petrópolis a prática de ocultação dos corpos era executada por esquartejamento.

Em julho de 1995, o processo de desligamento por abandono de cargo, movido pela USP, contra Ana Rosa foi anulado, pois ela foi reconhecida como desaparecida política. Os nomes de Ana Rosa e Wilson constam da lista de desaparecidos políticos do anexo I da lei 9.140/95. Na CEMDP, seus casos foram protocolados com os números 036/96 e 178/96, respectivamente. Em homenagem a Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva, seus nomes foram dados a ruas na cidade de São Paulo. A cidade do Rio de Janeiro também deu o nome de Ana Rosa a uma de suas ruas. Ana Rosa foi homenageada ainda com a criação da Associação Atlética Acadêmica Ana Rosa Kucinski (AAAARK) do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, em 15 de junho de 1988, pelos ex-diretores esportivos do Centro de Estudos Químicos Heinrich Rheinboldt.

No site da associação, há o seguinte depoimento de um de seus colegas: “[…] Numa manhã de trabalho habitual, Ana Rosa não apareceu. Procurada não a encontramos. Continuava não aparecendo, continuávamos a procurá-la e não a encontrávamos. Nada mais normal que comunicar então o fato às autoridades e aguardar a versão oficial. Daqui para frente é difícil continuar a história. Não houve versão oficial que nos deixasse tranquilos, muito pelo contrário, ficamos mais intranquilos ainda. Ana Rosa continua desaparecida. Quem sabe um dia, pelo menos seu corpo apareça para a última homenagem dos seus pais, irmãos e amigos”.

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” realizou diversas audiências sobre o caso de Ana Rosa Kucinski. No dia 17 de outubro de 2012, o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), pela Comissão da Verdade de São Paulo, e a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, pela Comissão Nacional da Verdade, assinaram um documento dirigido ao então reitor da USP, João Grandino Rodas, e ao diretor do Instituto de Química da USP, Fernando Rei Ornellas, que pedindo a revisão da demissão da docente Ana Rosa Kucinski, ocorrida em 1975 por abandono de emprego. “O caso tornou-se tão emblemático que, na Lei n. 9140 de 1995, o nome de Ana Rosa foi incluído na lista oficial das 136 pessoas que teriam desaparecido “em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, entre 02/09/61 a 15/08/79, e que por este motivo tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, desde então, desaparecidas, sem que delas haja notícias”. Depois de 20 anos do desaparecimento, o Estado brasileiro finalmente passava a reconhecer expressamente sua responsabilidade. No entanto, na USP, por outro lado, a versão oficial ainda não é a do desaparecimento forçado de Ana Rosa. Um processo instaurado pela Reitoria em 1974, sob o n. 174.899, pleiteava a rescisão do vínculo de Ana Rosa “por abandono de função”, hipótese prevista no inciso IV do art. 254 do Regimento da Universidade de São Paulo. Passados dezenove meses do desaparecimento de Ana Rosa, a Congregação do Instituto de Química reuniu-se em sua 46ª reunião mensal, no dia 23 de outubro de 1975. Na pauta, encontrava-se esse pedido de desligamento de Ana Rosa por parte da Reitoria, tendo sido aprovada a demissão da professora decorrente do “abandono de função” por treze votos favoráveis e dois votos em branco. Dois dias depois o desligamento da professora foi publicado no Diário Oficial por ato do senhor governador do Estado, Paulo Egydio Martins, conforme relato de seu irmão Bernardo

Kucinski no livro K. (Editora Expressão Popular, 2012). Diante desses fatos, considerando as competências e as atribuições legais da Comissão Nacional da Verdade, previstas na Lei n. 12.528, de 18.11.2011, bem como da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, previstas na Resolução n. 879 de 10.02.2012 da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, referidas Comissões requerem respeitosamente à Congregação do Instituto de Química, casa da Ana Rosa Kucinski, que reveja sua decisão anterior que considerou, neste caso, a configuração de um “abandono de função”. É necessário consagrar uma nova versão da história mais condizente com os fatos e com a dignidade dessa jovem professora, comprometida com uma universidade mais democrática e uma sociedade mais justa, pelo que reiteramos pedido encaminhado a esse r. Colegiado pelo Fórum Aberto pela Democratização da USP no dia 7 de agosto de 2012. Essa medida simbólica certamente será de inestimável valor para o direito à verdade e à memória histórica em nosso país. (Anexo 002-oficio-quimica-usp.pdf). O evento ocorreu no dia em que a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” assinou termo de cooperação com a Comissão Nacional da Verdade. (Anexo 017-transcricao-ana-rosa.pdf)

O livro “Memórias de uma guerra suja” é um longo depoimento ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo – Cláudio Guerra que afirmou ter participado da incineração de corpos de presos políticos na Usina Cambahyba em Campos (RJ), a qual pertencia ao ex-deputado federal e ex-vice-governador do Estado do Rio de Janeiro, Heli Ribeiro Gomes. Segundo Guerra, Heli Ribeiro “sabia de tudo o que aconteceu na usina, mas nunca esteve nas noites da cremação”. Sobre Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva ele detalhou: “Eu me lembro muito bem do casal, Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva, por conta de um incidente no caminho entre a rua Barão de Mesquita e a usina. Eu e o sargento Levy, do DOI, fomos levar seus corpos. Os dois estavam completamente nus. A mulher apresentava muitas marcas de mordida no corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente. O jovem não tinha as unhas da mão direita. Tudo levava a crer que tinham sido torturados. Não havia perfuração de bala neles. Quem morre de tiro não sofre. Morte por tortura é muito mais desumano. Eu não prestava muita atenção nos cadáveres que transportava. Até porque eles nos eram entregues dentro de um saco. O problema é que, quando estávamos indo do Rio em direção a Campos, já quase chegando lá, bem naquela reta da estrada, o Chevette que viajávamos simplesmente pegou fogo. Os corpos do casal não tinham sido afetados pelo incêndio do carro. O que fizemos? Simplesmente saímos do veículo. Naquela época não havia celular, era tudo mais difícil. O sargento Levy pegou carona até um telefone público, ligou para a usina [Usina Cambahyba] e eles vieram nos resgatar na estrada [...]” (pp. 55-57)

A Comissão da Verdade realizou audiência pública no dia 29 de outubro de 2013 novamente sobre o caso de Ana Rosa Kucinski. O evento aconteceu no Instituto de Química, no espaço apelidado de "Queijinho", quando novamente foi reivindicada a revisão da demissão da docente Ana Rosa Kucinski. Num auditório lotado, foram apresentados os casos de Wilson Silva, marido de Ana Rosa e desaparecido no mesmo dia que ela, e Issami Nakamura Okano (desaparecido em 14 de maio de 1974)

No dia 22 de abril de 2014, representantes do Instituto de Química, em evento público, pronunciaram publicamente a anulação da demissão de Ana Rosa Kucinski, reconhecendo todas as atrocidades apuradas que a professora sofreu no período da Ditadura. Em nota, a Comissão da Verdade “Rubens Paiva” assim se pronunciou: “A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva manifesta imensa satisfação pela reparação feita pela Congregação do Instituto de Química da USP à professora Ana Rosa Kucinski Silva, sequestrada pelo CIE – Centro de Informações do Exército, em 1974, e desaparecida desde então. O crime da ditadura cresceu de tamanho quando Ana Rosa foi declarada por aquela instância como demitida por abandono de emprego, quando todos sabiam de seu sequestro junto com seu marido, o físico Wilson Silva. A Comissão da Verdade da USP – Universidade de São Paulo – analisou, reviu o caso e solicitou a retificação por parte da atual Congregação do Instituto de Química. A presidente em exercício, Professora Janice Theodoro, na ausência do seu Presidente, Professor Dalmo de Abreu Dallari, fez veemente defesa da anulação da medida dos tempos da ditadura e, por decisão unânime, a Congregação anulou a decisão anterior e aprovou também um pedido de desculpas formal à família de Ana Rosa. O irmão da professora desaparecida, Bernardo Kucinski, recebeu a comunicação da decisão e o pedido formal de desculpas das mãos do diretor da Congregação do Instituto, [professor Luis Henrique Catalan]. (Anexo 018-nota-publica-comissao.pdf)

Na tarde do dia 22 de abril de 2014, foi inaugurado um monumento em homenagem à Ana Rosa Kucinski Silva no Instituto de Química. A data marcou os 40 anos do sequestro e desaparecimento dela e do seu marido Wilson Silva. “Ana Rosa foi docente deste instituto. A violência contra ela, que também foi uma violência contra este instituto e contra esta universidade, não deve jamais ser esquecida”, afirmou o professor Luis Henrique Catalan, diretor da Congregação do Instituto de Química.

IDENTIFICAÇÃO DO LOCAL DA MORTE OU DO DESAPARECIMENTO FORÇADO

IDENTIFICAÇÃO DA AUTORIA

1. Cadeia de Comando do(s) órgão(s) envolvido(s) na morte ou desaparecimento forçado

2. Autorias de graves violações de direitos humanos

Nome

Órgão

Função

Violação de direitos humanos

Conduta praticada pelo agente (descrita pela fonte)

Local da grave violação

Fonte documental/

testemunhal sobre a autoria

ADYR FIUZA

CIE/ DOI-CODI DO I EXÉRCITO -RJ

Comandante

 

 

 

 

“Matéria publicada na revista IstoÉ, em 24 de março de 2004, chamada “A Ordem é Matar”, de

Amaury Ribeiro Jr., revelou trechos de um documento que confirma a intenção deliberada da cúpula

das Forças Armadas de eliminar aqueles considerados “irrecuperáveis”, de forma velada, sem chamar a

atenção da sociedade. A revista tornou públicas partes da ata da reunião que ocorreu entre os generais

Ernesto e Orlando Geisel, Milton Tavares, Antônio Bandeira e o presidente da República, Emílio G.

Médici. Em maio de 1973, eles redefiniram as diretrizes da repressão política, cujo principal objetivo

era “[…] a utilização de todos os meios para eliminar, sem deixar vestígios, as guerrilhas rurais e urbanas,

de qualquer jeito, a qualquer preço”, conforme o trecho divulgado da ata. Foram constituídos “[…] dois

grupos ultra-secretos – um no CIE [Centro de Informações do Exército] de Brasília e outro no DOI-CODI

de São Paulo –, formados por menos de dez pessoas. Eles estavam autorizados a assassinar e sumir com os corpos

e foram responsáveis pelo desaparecimento de cerca de 80 presos políticos entre 1973 e 1975”. (Dossiê Ditadura, p. 22)

CLAUDIO GUERRA

POLÍCIA CIVIL DO ESPÍRITO SANTO

Delegado

 

Incineração dos corpos de Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva

Usina Cambahyba – Campos (RJ)

Livro “Memórias de uma guerra suja” (pp. 55-57)

FREDDIE PERDIGÃO

CIE-DOI-CODI-RJ

Coronel

Torturador

 

 

Segundo depoimento do ex-delegado Claudio Guerra “Perdigão foi um dos cérebros mais atuantes da direita no período entre 1964 e 1985. Sob codinomes como doutor Nagib e doutor Flávio, o coronel foi um torturador dos mais cruéis [...] um dos mais completos especialistas em técnicas inquisitoriais.[...] Para o DOI-Codi, Perdigão levou também as técnicas aprendidas na Scuderie Le Cocq, com a qual passou a manter estreito relacionamento ilegal. (pp. 84-89)

 

“Doutor Ney [Ênio Pimentel da Silveira], coronel [Freddie] Perdigão, delegado Fleury e comandante [Antônio] Vieira foram os personagens centrais e principais articuladores dessa trama de repressão criada no submundo da ditadura” (Memórias de uma guerra suja, p. 84)

PAULO MALHÃES

DOI-CODI-RJ

Coronel

 

 

 

“Guerra conviveu pouco com Ustra [...] a convivência dele com Manhães (sic) [Paulo Malhães] foi oficial, quase protocolar. Eles eram especialistas em grampear telefones, controlar informantes infiltrados, prender, torturar e matar. E em comandar várias equipes de apoio.” (pp. 84-84)

AMÍLCAR LOBO

DOI-CODI DO I EXÉRCITO

tenente-médico

Atendimento de vítimas torturadas na casa da morte

Disse que não lembra se atendeu Ana Rosa, mas reconheceu que atendeu Wilson Silva, o marido.

Casa da Morte-Petrópolis

Amílcar Lobo, que colaborou com o DOI-CODI do I Exército e atuou também no aparelho clandestino conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), após ser identificado por ex-presos políticos, resolveu falar à revista IstoÉ. Na matéria intitulada “Longe do Ponto Final” (8 de abril de 1987), contou sobre os assassinatos que presenciara na unidade militar e na Casa da Morte. Procurado pelo jornalista Bernardo Kucinski, irmão de Ana Rosa, em 31 de maio de 1987, o médico denotou reconhecer a foto de Wilson Silva como uma das pessoas atendidas por ele na Casa de Petrópolis, mas não admitiu o reconhecimento formalmente. Ao ver a foto de Ana Rosa, negou conhecê-la. (Dossiê Ditadura, p. 570)

DILERMANDO GOMES MONTEIRO

II EXÉRCITO

Comandante

 

Nunca a respondeu à família sobre a desaparecida

 

Majer Kucinski, o pai de Ana Rosa, chegou a entregar uma carta ao general ao Dilermando Gomes Monteiro, comandante do II Exército, mas este nunca a respondeu. (Dossiê Ditadura, p. 570)

ARMANDO FALCÃO

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Ministro

 

 

 

Publicou nota

oficial a respeito, na qual os nomes de Ana Rosa e Wilson Silva são citados como “terroristas

foragidos”. (Dossiê Ditadura, p. 570)

JOSÉ RODRIGUES GONÇALVES

 

(CODINOME: PAULO DA SILVA JÚNIOR)

II EXÉRCITO

Cabo

 

Prisão

 

Apuração de Bernado Kucinski e Comissão de Familiares dos Mortos e desaparecidos. Anexo 014-solicitacao-cemdp-lista-agentes.pdf

ÊNIO PIMENTEL DA SILVEIRA

DOI-Codi-SP

Capitão

Torturador

Prisão

 

Apuração de Bernado Kucinski e Comissão de Familiares dos Mortos e desaparecidos. Anexo 014-solicitacao-cemdp-lista-agentes.pdf

“Doutor Ney [Ênio Pimentel da Silveira], coronel [Freddie] Perdigão, delegado Fleury e comandante [Antônio] Vieira foram os personagens centrais e principais articuladores dessa trama de repressão criada no submundo da ditadura” (Memórias de uma guerra suja, p. 84)

SÉRGIO PARANHOS FLEURY

DOPS-SP

Delegado

Torturador

Prisão

 

Apuração de Bernado Kucinski e Comissão de Familiares dos Mortos e desaparecidos. Anexo 014-solicitacao-cemdp-lista-agentes.pdf

“Doutor Ney [Ênio Pimentel da Silveira], coronel [Freddie] Perdigão, delegado Fleury e comandante [Antônio] Vieira foram os personagens centrais e principais articuladores dessa trama de repressão criada no submundo da ditadura” (Memórias de uma guerra suja, p. 84)

JOSÉ SANCHES VALLEJO JÚNIOR

II EXÉRCITO

Sargento

 

Tentou extorquir Bernado Kucinski para fornecer informações de Ana Rosa.

 

“O sargento José Sanches Vallejo Júnior passou informações isoladas sobre o episódio, pois contactou o cabo reformado José Rodrigues ao arquitetar uma tentativa de extorsão contra mim em 1974. O II Exército possui o endereço do sargento Vallejo”. Anexo 014-solicitacao-cemdp-lista-agentes.pdf

PAULO SAWAYA

DOPS-SP

Colaborador

 

 

 

Apuração de Bernado Kucinski

“Informou-me em 3 de janeiro de 1975, que minha irmã efetivamente havia sido presa pelos órgãos de segurança de São Paulo e transferida da jurisdição do II Exército” Anexo 014-solicitacao-cemdp-lista-agentes.pdf

FONTES PRINCIPAIS DA INVESTIGAÇÃO

Conclusões da CEMDP; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE. Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. Livro “Memórias de uma guerra suja”. Livro “K” do jornalista Bernado Kucinski.

1. Documentos que elucidam as circunstâncias da morte ou desaparecimento forçado

Identificação da fonte documental (fundo e referência)

Título e data do documento

Órgão produtor do documento

Informações relevantes para o caso

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. Anexo 001-fotos-viva.pdf

Fotos de Ana Rosa viva

 

 

Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” Anexo 002-oficio-quimica-usp.pdf

Ofício n. 02/2012. A/C Prof. Titular Fernando Rei Ornellas -

Presidente da Congregação do Instituto de Química da USP. C/C Prof. Titular João Grandino Rodas -

Reitor da Universidade de São Paulo

 

No dia 17 de outubro de 2012, o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), pela Comissão da Verdade de São Paulo, e a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, pela Comissão Nacional da Verdade, assinaram um documento dirigido ao então reitor da USP, João Grandino Rodas, e ao diretor do Instituto de Química da USP, Fernando Rei Ornellas, que pedindo a revisão da demissão da docente Ana Rosa Kucinski, ocorrida em 1975 por abandono de emprego.

Folha de S. Paulo (Anexo 003-folha-reportagem-ana-rosa.pdf)

Reportagem da jornalista Laura Capriglione

 

Reportagem sobre o pedido da revisão da demissão da docente Ana Rosa Kucinski, ocorrida em 1975.

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 004-aeronautica-dops.pdf)

Documentação/ assunto: “CAMPANHA DOS DESAPARECIDOS”

Ministério da Aeronáutica/ DOPS-SP

Documento encontrado no arquivo do DOPS/SP, produzido pelo Ministério da Aeronáutica em 17 de março de 1975, encaminhando, entre outros documentos, o relatório do Serviço de Informação do DOPS/SP sobre Ieda Santos Delgado e Ana Rosa Kucinski, informa que ambas estavam envolvidas com pessoas presas ou perseguidas pela polícia.

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 005-certidao-obito-majer.pdf)

                                                                                                                                                                                                                    Certidão de óbito de Majer Kucinski, pai de Ana Rosa

 

 

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 007-comunicado-certidao-obito.pdf)

 

 

 

Comunicado

 

Bernardo Kucinski comunicou à CEMDP que fez o pedido do registro do óbito de Ana Rosa Kucinski no cartório Décimo Terceiro, Subdistrito do Registro Civil do Butantã. Ana Rosa está na lista de desaparecidos da lei 9.140/95

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 006-certidao-obito-ana-rosa.pdf)

Certidão de óbito de Ana Rosa Kucinski

 

Certidão expedida de acordo a lei 9.140/95

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 008-lista-cba.pdf)

Lista de desaparecidos do Comitê Brasileiro pela Anistia

 

O nome de Ana Rosa aparece ao lado do marido Wilson Silva

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 009-ficha-dops-sp.pdf)

Ficha

DOPS-SP

A ficha consta a data da prisão de Ana Rosa: 22/4/1974

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 010-procuracao-wolf-k.pdf)

 

 

Procuração do irmão de Ana Rosa, Wolf Kucinski, para nomear Bernardo como seu representante para fazer inventário de bens pertencentes a Ana Rosa.

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 011-prontuario-dops.pdf)

 

 

 

Prontuário nº 01289

 

 

 

DOPS-SP/DOI-CODI-SP

O documento cita que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos requereu informações junto ao Ministério de Relações Exteriores a respeito de Ana Rosa e Wilson Silva. Em um trecho eles afirmam que se tratava de “objetivo de denegrir a imagem dos órgãos de segurança”

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 012-certidao-nascimento-ana.pdf)

 

Certidão de nascimento de Ana Rosa Kucinski

 

 

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 013-requerimento-cemdp.pdf)

 

Requerimento à CEMDP de 22 de janeiro de 1996

 

 

Requerimento de indenização e localização dos restos mortais à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo014-solicitacao-cemdp-lista-agentes.pdf)

Requerimento à CEMDP de 23 de fevereiro de 1996

 

Requerimento da localização dos restos mortais com lista de agentes envolvidos na prisão de Ana Rosa. (listados acima)

Revista Veja (Anexo 015-veja-entrevista-marival.pdf)

Entrevista com Marival Chaves

 

 

Arquivo da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. (Anexo 016-termo-declaracoes.pdf)

Termo de Declarações

 

 

Declarações de Bernardo Kucinski à Comissão de Justiça e Paz sobre o desaparecimento de Ana Rosa Kucinski Silva e Wilson SIlva

Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” (Anexo 017-transcricao-ana-rosa.pdf)

Transcrição da audiência pública realizada no dia 17 de outubro de 2012

 

 

Pedido da revisão da demissão da docente Ana Rosa Kucinski, ocorrida em 1975 por abandono de emprego.

2. Testemunhos sobre o caso prestados à CNV ou às comissões parceiras

Identificação da testemunha

Fonte

Informações relevantes para o caso

 

 

 

3. Depoimentos de agentes do Estado sobre o caso, prestados à CNV ou às comissões parceiras

Identificação do Depoente

 

Fonte

Informações relevantes para o caso

Ex-sargento do DOI-Codi-SP – Marival Chaves

Depoimento prestado à revista Veja apud Dossiê Ditadura

 

Marival disse em reportagem de Expedito Filho na revista Veja, de 18 de novembro de 1992: “A partir de 1973, Jota [João Henrique Ferreira de Carvalho] delatou todos os comandos da ALN. Foi por causa do seu trabalho que Wilson Silva e sua mulher, Ana Rosa Kucinski, foram torturados e mortos”. Em outra parte da entrevista ele afirmou: “Foi o caso também de Ana Rosa Kucinski e seu marido, Wilson Silva. Foram delatados por um “cachorro” [ou seja, por um ex-militante que prestava serviço aos órgãos da repressão política durante a ditadura como agente infiltrado], presos em São Paulo e levados para a casa de Petrópolis. Acredito que seus corpos também foram despedaçados”. De acordo com o ex-sargento, na Casa de Petrópolis a prática de ocultação dos corpos era executada por esquartejamento. Anexo 015-veja-entrevista-marival.pdf

 

Ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo – Cláudio Guerra

Livro “Memórias de uma guerra suja” (pp. 55-57)

“Eu me lembro muito bem do casal, Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva, por conta de um incidente no caminho entre a rua Barão de Mesquita e a usina. Eu  e o sargento Levy, do DOI, fomos levar seus corpos. Os dois estavam completamente nus. A mulher apresentava muitas marcas de mordida no corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente. O jovem não tinha as unhas da mão direita. Tudo levava a crer que tinham sido torturados. Não havia perfuração de bala neles. Quem morre de tiro não sofre. Morte por tortura é muito mais desumano. Eu não prestava muita atenção nos cadáveres que transportava. Até porque eles nos eram entregues dentro de um saco. O problema é que, quando estávamos indo do Rio em direção a Campos, já quase chegando lá, bem naquela reta da estrada, o Chevette que viajávamos simplesmente pegou fogo. Os corpos do casal não tinham sido afetados pelo incêndio do carro. O que fizemos? Simplesmente saímos do veículo. Naquela época não havia celular, era tudo mais difícil. O sargento Levy pegou carona até um telefone público, ligou para a usina [Usina Cambahyba] e eles vieram nos resgatar na estrada [...]”

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Diante das circunstâncias do caso e das informações obtidas até o momento pôde-se concluir que Ana Rosa Kucinski foi presa, torturada e assassinada por agentes do Estado brasileiro. Ela é considerada desaparecida política, por não ter sido entregue os restos mortais aos seus familiares, não permitindo o seu sepultamento até os dias de hoje. Conforme o exposto no parágrafo 103 da Sentença da Corte Interamericana no Caso Gomes Lund e outros: “adicionalmente, no Direito Internacional, a jurisprudência deste Tribunal foi precursora da consolidação de uma perspectiva abrangente da gravidade e do caráter continuado ou permanente da figura do desaparecimento forçado de pessoas, na qual o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subseqüente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade (...)”.

No parágrafo 110 do mesmo documento é mencionado que: “(...) pode-se concluir que os atos que constituem o desaparecimento forçado têm caráter permanente e que suas conseqüências acarretam uma pluriofensividade aos direitos das pessoas reconhecidos na Convenção Americana, enquanto não se conheça o paradeiro da vítima ou se encontrem seus restos, motivo pelo qual os Estados têm o dever correlato de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis, conforme as obrigações decorrentes da Convenção Americana”.  (Sentença da Corte Interamericana, p. 38 e 41, publicação da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo).

Recomendações: Esclarecer as circunstâncias do sequestro, tortura e assassinato e o local onde foram cometidos esses crimes. Localização dos restos mortais e devolução para a família. Buscar laudos que podem ter sido feitos sobre sua morte. Investigar as declarações do ex-delegado Claudio Guerra e do ex-sargento Marival Chaves. Retificação do atestado de óbito, pois a família possui apenas o que fora proporcionado pela lei 9.140; Identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos nesse crime.

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