Eu sou a Zuleide, uma das miniterroristas, que é a maneira como fomos taxados [pela ditadura]. Nascemos em Osasco, somos filhos de Sebastião Rivom do Nascimento, que é filho da tia Tercina e irmão do Manuel Dias do Nascimento. Minha mãe chamava Maria do Perpétuo Socorro do Nascimento, mas nós fomos criados pela vó, Tercina Dias de Oliveira, chamada de Tia, desde que éramos pequenos.
Na época da greve [de Osasco], eu tinha 3 anos de idade. Depois dessa greve, a família toda começou a ser perseguida porque o tio, o Manuel Dias de Oliveira, o Neto, foi um dos cabeças, um dos líderes da greve junto com o José Ibrahin. Com muito orgulho eu falo que a greve de 1968 foi planejada na casa da minha avó, lá em Osasco. Ela dava todo apoio.
O meu tio Manuel conheceu o Zequinha Barreto nas fábricas. Aí o Zequinha passou a militar na VPR e meu tio também. Depois ele também levou a minha avó para a organização. O tio Manuel se filiou ao sindicato com 15 anos de idade, por incentivo da minha avó, que tinha um espírito libertário. Quem teve a oportunidade de conhecê-la, sabe a figura que ela era, o espírito de luta que tinha.
Depois da greve, fomos morar no Vale do Ribeira. Lá, era a vó quem dava estrutura para o Capitão Lamarca. Quando as pessoas que sabiam da existência do aparelho do Vale começaram a ser presas, a organização fez por bem nos tirar de lá, porque sabia que a qualquer momento o aparelho poderia ser estourado. Quando saímos do Vale, o [José] Lavechia se separou de nós e entrou para as tropas do Lamarca, foi integrado à linha de frente da VPR. E nós fomos levados para um aparelho em Peruíbe.
A estratégia da ditadura, depois que ocuparam o Vale do Ribeira, foi manter a casa com a mesma rotina de quando estávamos lá. De manhã, colocavam as roupas das crianças no varal, davam comida para os bichos, abriam a casa e ficavam lá dentro. Isso servia de armadilha para outros companheiros que chegavam ao local pensando que estava tudo bem, que a Tia estava lá. Mas ao chegarem, eram presos.
Quando fomos sequestrados, fomos levados para uma casa que eu não lembro onde era. Lá, ficamos por cinco dias. Meu irmão Luis Carlos conta que era uma casa grande e bem mobiliada. Ficamos trancados num quarto de onde não podíamos sair. Depois, nos levaram para o Juizado de Menores. E o Samuel, que era nosso irmão de criação, foi levado para um local onde ficavam meninos infratores. Ele apanhou muito, foi torturado.
O Samuel ficou careca porque teve o cabelo raspado, foi tratado como menor infrator, apanhou. E além de ter sofrido a agressão psicológica que todos nós sofremos, ele ainda sofreu agressão física.
Do período que ficamos no Juizado, o que me lembro é que fizeram uma trança no meu cabelo. Eu tinha um cabelo de comprimento abaixo da cintura e ele foi cortado. Tinha uma pessoa cortando e outra do lado falando: “Me dá essa trança que eu quero fazer uma peruca”. Eu não lembro de muita coisa porque era pequena, mas desse fato eu lembro.
Para mim, foi realmente uma grande violência. Eu era uma criança de 4 anos de idade. O que uma menina gosta? De ter cabelo comprido. Para mim, isso foi uma tortura. E foi também uma tortura terem me separado da minha avó, que era a única mãe que eu conhecia.
E eu tinha que ser forte. Minha avó olhava para mim e falava: “Seja forte, resista, não abaixe a cabeça”. E eu tendo que me segurar, tendo que segurar o tranco vendo minha avó partir. Para mostrar segurança, ela nem olhou para trás quando se separou de nós.
Só conseguimos sair do Brasil porque minha avó brigou muito para nos tirar, porque o caminho natural não seria esse. Nós seriamos adotados. Quando ela ficou sabendo que ia ser extraditada, que tinha que sair do Brasil, ia ser banida, disse: “Cadê meus netos?” E disseram que apenas ela iria embora. No período em que estávamos no Juizado de Menores, não me lembro bem como foi o fato, mas sei que de repente acordei e o Ernesto estava lá. Ele não tinha sido preso conosco e sim com o pai e a mãe dele.
Quando enfim resolveram nos liberar, disseram para minha avó: “Está bem, aqui estão seus três netos”. E ela: “Não, eu quero meus quatro netos. Estou sabendo que o Ernesto está lá dentro também, e ele é meu neto e vai comigo. Entrei aqui com três, mas eu vou sair daqui com quatro”. E assim foi.
Quando fomos libertados, a única coisa que me lembro é que me vi dentro de um helicóptero e lá na frente um monte de milicos armados. Foi quando foi feita a foto dos quarenta. [Em 15 de junho de 1970, quarenta militantes foram banidos do Brasil e enviados à Argélia em troca do embaixador alemão Ehrenfried Von Hollenben]. Aí nós fomos para a Argélia, onde ficamos um mês e pouquinho. Depois fomos para Cuba, que foi o país que nos acolheu. Ficamos lá durante dezesseis anos. Estudamos, terminei o segundo grau e depois voltei ao Brasil.
Havia muitas crianças que nasceram no Brasil, no Chile e que depois foram para Cuba. E a casa da vó, era a casa da avó de todos. As crianças iam passar as férias escolares lá na casa da vó, então, às vezes, tinham umas doze crianças lá. Os filhos do Virgílio [Gomes da Silva] foram criados juntos conosco. Ficávamos todos juntos.
Também tínhamos uma relação muito boa com as crianças cubanas. Na nossa casa, éramos em oito crianças. Todas as brincadeiras aconteciam lá. Os vizinhos cubanos vinham brincar com a gente e todos eles conheceram as nossas histórias.
Quando voltei ao Brasil, me engajei no movimento sindical. Trabalhei em muitos sindicatos, até porque também eu não tinha condições de procurar emprego em outro lugar. Quando tentei fazer ficha de emprego em muitos lugares, inventei que tinha estudado em uma escola em Pernambuco, mas que meus papéis tinham se queimado no barraco da favela onde eu morava.
Nesses meios também tive uma válvula de escape para o enfrentamento contra aqueles que me massacraram. Quando fui para o movimento sindical, fui participar de greve geral e acabei indo para o embate com a polícia. Fui para a linha de frente receber gás na cara. Enfrentá-los foi também uma forma que eu tive de falar: “Aqui estou eu, entenderam? O que fizeram, eu também estou enfrentando vocês, entenderam?”
Quando voltei ao Brasil, em 12 de janeiro de 1986, tinha 20, 21 anos. Meu irmão [Luis Carlos] voltou um pouco antes de mim. O Samuel voltou depois, em 1983. A vó e o Ernesto voltaram comigo.
O tio [Manoel Dias do Nascimento] já havia voltado ao Brasil assim que foi decretada a Anistia. Ele veio fazer o meio de campo para nós, foi atrás dos nossos documentos, porque quando saímos do país, não tínhamos nenhum documento. E então, quando meu tio mandou meu registro de nascimento lá para Cuba, foi impressionante. Só então descobri minha idade real. Quando eu cheguei em Cuba, colocaram como se eu tivesse nascido em 1966, quando na realidade eu nasci em 1965.
Eu não sabia minha data de nascimento, por exemplo, nem meu nome direito. Quando entrei na creche, usei o nome de Zuleide Lucena, que era o sobrenome da Damaris Lucena, viúva do [Antônio Raymundo] Lucena, que já estava lá com os filhos quando chegamos. O governo cubano nos colocou para morar na mesma casa que a Damaris porque ia ser mais fácil, inclusive para as crianças dela conviverem com outras crianças. Nós fomos criados como uma grande família. Na casa, morávamos a Damaris, a vó e as oito crianças. Era ela que cuidava de todos nós, e a Damaris que nos levava ao médico, à escola. Foi ela que me matriculou na escola e como não tinha documento, deu o nome de Zuleide Lucena. Assim fui chamada durante muito tempo. A questão do meu nome era uma confusão. Uma hora eu era Zulmara, outra vez Zuleide. Outra hora era Zuleide Lucena, outra ainda Zuleide Aparecida.
Essa identidade nós nunca achamos. Até hoje sou uma pessoa completamente sem identidade. Eu sei que sou brasileira, porque nasci brasileira. Mas não me sinto brasileira e sim cubana. Sei que não sou cubana, então é uma confusão muito grande. Aí eu costumo dizer que como tenho na veia a herança de militância, digo que sou latino-americana. Acho que fica muito mais fácil.
Cuba é o meu país e não tem como deixar de ser. Foi o país que nos acolheu. Foi pai e mãe para nós. Eu brinco que o Fidel Castro era o meu pai. Porque durante dezesseis anos nos apoiou e nos deu tudo, a formação que a gente tem hoje devemos a Cuba.
Chamarem a minha avó de Tia foi uma forma carinhosa criada pelos próprios companheiros. Eu imagino que como ela era a mais velha, a mais idosa, as pessoas carinhosamente a chamavam de tia. E pegou. Inclusive quando ela foi presa, os milicos a chamavam assim. E isso foi integrado ao nome dela: Tercina de Oliveira, a Tia. Ela era a cozinheira e costureira do Lamarca, no Vale do Ribeira.
Nós conhecemos o Lamarca, guardo bem isso na memória. Quando ele chegava do mato depois de quinze, vinte dias – porque havia um revezamento do pessoal que estava no mato, no treinamento e ele vinha buscar o outro pessoal que chegava e a casa servia de ponte – ele sentava no chão da cozinha lá de casa, tirava a bota e falava: “E aí Tia, você quer um toucinho aí para colocar no feijão para dar um gostinho?” Ele estava falando do próprio pé, que estava há vinte dias dentro de uma bota. Ele brincava com a vó. Eles tinham um relacionamento muito gostoso de mãe e filho. É uma figura que jamais esquecerei. Para mim, ele foi um pai. A gente sentava, ele brincava com a gente, lia histórias. Isso no pouco tempo que ficava ali com a gente.
Ele matava com a gente a saudade que tinha dos filhos, a Claudinha e o César. Ele nos ajudou a suprir um pouco a necessidade de pai e nós o ajudamos a suprir um pouco a necessidade dele de filhos.
Eu estava em Cuba quando ele foi morto [Lamarca foi assassinado em 17 de setembro de 1971]. Eu olhei para a minha avó e perguntei: “Vão fazer com ele que nem fizeram com o Che [Guevara]? Vão arrancar as mãos do Lamarca também?” O que soubemos foi que ele estava no sertão da Bahia com o Zequinha [Barreto], que foi perseguido lá, e que tinham conseguido encurralar e matar ele.
Quero contar um pouco a história do Samuel.
Ele era do Rio de Janeiro, foi criado pela mãe, tinha irmãs mais velhas. A mãe saía para trabalhar, as irmãs também. Ele ficava sozinho, brincando pelo cemitério do bairro onde morava. Ficava na rua. Minha avó, que sempre criou várias crianças, foi passar um tempo lá no Rio de Janeiro e conheceu essa criança na rua. Ela foi à casa da mãe e pediu para cuidar dele. A mãe deixou. Aí quando a vó retornou para São Paulo trouxe o Samuel junto.
Ele passou por toda a nossa história, foi de aparelho em aparelho, foi para o Vale do Ribeira. Além da dor psicológica que a gente sofreu, ele passou por tortura física. Fomos para Cuba e quando o tio Neto voltou, resgatou a identidade do Samuel, que na volta, foi procurar a família biológica e começou a resgatar a história dele. Reencontrou a mãe e teve condições de ter o nome dela no registro. Quando saiu do Brasil, usava o nome da vó, Samuel Dias de Oliveira, até porque todo mundo saiu sem documento.Ele só teve condições de ter registro de nascimento quando voltou, porque foi com a mãe [biológica] ao cartório e se registrou. Hoje, ele se chama Samuel Ferreira, que é o sobrenome da mãe. Porque na época em que se registrou no Brasil, o pai já tinha falecido.
Em 2009, 2010, quando foi julgado o nosso processo em Brasília, fui defender o processo do Samuel que, quando entrou com um processo de anistia, apresentou o nome de Samuel Ferreira. E aí existia um conflito, porque todos os documentos que juntávamos era de Samuel Dias de Oliveira.
Eu costumo falar para o Samuel que tenho mais carinho e cuidado por ele do que tenho pelo meu próprio irmão de sangue. Ele me ligava e falava: “Você é a única irmã que eu tenho, a minha família de sangue aqui não quer saber de mim. Eles não me procuram, eu não tenho contato com eles”.Na semana passada eu falei com ele, para vir aqui dar depoimento, que para ele é importante falar. “Vai, vai ser bom, você fala muito poucas vezes sobre isso”. Dizem que quando a gente solta, vai tirando um pouco de cima. Eu, quando faço isso que estou fazendo hoje [testemunhando], o resto do dia fico como se tivesse passado um trator em cima de mim. Já o Ernesto dorme até três dias seguidos.
Mas realmente ele não quer falar. Ele disse: “Eu não quero, tenho que trabalhar. Aqui ninguém conhece a minha história, aqui eles não conhecem de onde eu vim, para onde eu fui, quem eu fui, quem eu sou, nada. E eu não quero que saibam, não quero, não quero”. Eu acho que ele não quer falar.
Hoje o Samuel é uma pessoa super retraída. Nós que somos irmãos dele, que nos criamos com ele, sentimos a diferença dele antes de Cuba e em Cuba. Lá foi o período em que ficou mais descontraído, mais à vontade. Depois que voltou, a gente percebe que ele tem um bloqueio muito grande.
Para mim, é muito doloroso contar e lembrar da minha história. Mas eu faço pela importância. Acho que esses fatos que aconteceram têm que ser revelados, falados. Quero parabenizar o trabalho da Comissão porque são coisas que precisam ser faladas, abertas, jogadas ao mundo.
Eu me orgulho de ter esta história, de ter, de certa forma, participado de tudo isso. E também é a única história que eu conheço, o único jeito de vida que conheço. Para mim, é tão natural ter esta história e ter passado por tudo isso. Não é que eu goste de falar, há uma necessidade de se falar, a necessidade de gritar ao mundo. Aconteceu isso sim, aconteceram essas barbaridades sim, de matarem pai de família, de matarem mães de família, aconteceu de crianças realmente serem taxadas de terroristas, como se a gente fosse perigo para a sociedade. Crianças foram torturadas de fato, isso aconteceu no Brasil, na América Latina e não pode voltar a acontecer.
Nenhum ser humano tem o poder de torturar, de acabar com a vida de outro ser humano. Em nome de quê? Por isso que eu acho importante e por isso que eu vim hoje. Porque eu quero que amanhã meu filho saiba direito o que aconteceu. Ele tem 9 anos de idade. Quando as crianças são pequenas, o que ensinamos a elas? Que se você rouba, é preso. Se mata, é preso. Um dia, estávamos eu e o tio Manoel no carro, conversando e falando: “Sabe fulano, que esteve preso com cicrano, com a Vó, não sei o quê”? Aí meu filho olhou para mim e perguntou: “Você já foi presa? O tio já foi preso? A bisa já foi presa?” O menino levou um susto.
Hoje em dia eu explico porque fomos presos. E ele fala: “Na época da guerra, né mãe?” Mas isso tem que ser corriqueiro nas escolas porque realmente essa é a história do Brasil, isso aconteceu de fato, é a história da gente.
Apesar de todo o sofrimento, dou graças a Deus de ter saído do Brasil na época, de ter sido banida do Brasil, ao invés de ter que ficar aqui como aconteceu com muitos, com pai preso, mãe presa, e eles nas escolas sofrendo o que hoje se chama bullying, sendo discriminados e sofrendo o que sofreram na escola.
Eu pelo menos não passei por isso. Fui para um país onde pude ter o resto da minha infância em paz e não ter essa vida massacrada e sendo seguida o tempo todo como aconteceu com várias crianças que ficaram aqui.
A vó faleceu há dez anos, em oito de março de 2003. Ela tinha um registro de nascimento que constava como data de nascimento o dia 2 de novembro. Então eu costumo falar que minha vó nasceu no dia dos finados e faleceu no Dia Internacional da Mulher, oito de março. Ela teve câncer de útero. Acho que ela faleceu com 93 anos. Não temos certeza da idade, porque havia uma confusão de data.
Juntamente com os netos, viveu no sítio em que Lamarca realizava treinamentos militares, no Vale do Ribeira, em São Paulo. Uma de suas missões era fazer a casa principal parecer levar uma vida “normal”. A outra era costurar os uniformes usados nos treinamentos.
Tercina foi presa em Jacupiranga, interior do estado, com três das quatro crianças. Em 1979, foi uma dos 40 militantes trocados pelo embaixador alemão Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Hollenben, sequestrados em junho de 1970.
Banida, Tercina seguiu da Argélia para Cuba com três netos e um dos filhos de criação: Samuel Dias de Oliveira, Luis Carlos Max do Nascimento, Zuleide Aparecida do Nascimento e Ernesto Carlos do Nascimento. Retorna ao Brasil em 1986 com Zuleide, Luis Carlos e Ernesto. Samuel voltou em 1982.
Antes de ajudar a criar a VPR, Manoel era líder sindical filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Entrou na clandestinidade em 1968, após ter a prisão decretada. Incentivou a mãe, Tercina Dias de Oliveira, a também contribuir para a VPR. Sua tarefa era organizar a guerrilha em São Paulo (SP). Foi preso em maio de 1970, quando cobria um ponto para passar informações a companheiros. No mesmo dia, mais tarde, a companheira Jovelina e o filho Ernesto foram presos na casa da família no bairro de Vila Formosa.
Jovelina trabalhava na prefeitura de Osasco (SP) e foi demitida durante a licença maternidade por causa da militância do marido. Depois de passar pela Operação Bandeirantes (OBAN) e pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), foi com o filho para a ala feminina do Presídio Tiradentes.
Em fevereiro de 1971, Manoel e Jovelina foram dois dos 70 presos políticos que tiveram a liberdade trocada pela do embaixador suíço Giovanni Enrico Bücher, sequestrado por militantes de resistência à ditadura. Exilaram-se no Chile. Na ocasião, contaram o que tinha acontecido com eles para os cineastas estadunidenses Haskell Wexler e Saul Landau, cujo documentário Brasil, um relato da tortura tornou-se uma das primeiras denúncias internacionais dos abusos cometidos pelo regime.
“Antes de eu descer do pau de arara, minha companheira chegou com meu filho. Este filho assistiu a parte da tortura. Em seguida, puseram minha companheira no pau de arara, tomando choque em todas as partes do corpo, inclusive nas partes íntimas. Na minha presença. Só para eu falar alguma coisa”, relatou Manoel. Chorando muito, Jovelina testemunhou: “Ele [o filho Ernesto] dizia: ‘Não pode bater no papai. Não pode’. Para mim foi muito duro. Batiam muito em mim, mas não me perguntavam nada porque sabiam que eu não tinha participação nenhuma”.
Em 15 de agosto de 1971, o casal chegou a Cuba, onde reencontraram Ernesto. Jovelina, então, foi à Coreia do Norte fazer treinamento de técnicas de guerrilha. Em 1972, ela e Manoel voltam ao Chile para se prepararem a retomada das atividades guerrilheiras no Brasil.
Em setembro de 1973, com o golpe contra Salvador Allende, os dois foram presos no Estádio Nacional. O casal conseguiu fugir e se abrigar num refúgio da ONU, de onde seguiram para Cuba novamente.
Lá, Jovelina fez curso de enfermagem. Ela e o marido voltaram ao Brasil em 1985. Ernesto retorna com Tercina em 1986.