Quando decidi conjuntamente com o Capitão Carlos Lamarca abandonar as fileiras do Exército Brasileiro e aderir à luta armada contra o arbítrio e a tirania, instalado em nossa pátria pelos militares, o primeiro pensamento foi garantir a integridade e a segurança de nossos familiares.
Em discussão com lideranças da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), decidimos enviar Rosalina e Dora Augusta, minha esposa e filha, juntamente com Maria Pavan, César e Claudia, esposa e filhos de Lamarca, para o exterior, mais precisamente para Cuba, mantendo-as afastadas de nosso país, enquanto durasse a guerra revolucionária.
Em decorrência da prisão de companheiros que estavam pintando um caminhão com as cores do Exército, em uma propriedade rural em Itapecerica da Serra, fomos obrigados a antecipar a ação expropriatória a ser realizada no IV RI de Quitaúna, na cidade paulista de Osasco.
Acabamos a realizando de forma parcial, no dia 24 de janeiro de 1969, quando o camarada Lamarca, em companhia do cabo Mariane e do soldado [ Carlos Roberto] Zanirato, saíram com munição e 63 fuzis daquela unidade militar.
No momento da ação, me encontrava juntamente com o camarada José Araújo Nobrega, tentando resgatar armas, munições que se encontravam no aparelho utilizado pelo companheiro Pedro Lobo, preso em Itapecerica. Por ironia do destino, o embarque de nossos familiares estava previsto para o dia 24, às 20 horas, no aeroporto de Congonhas, com o destino inicial sendo a Itália. Sem nada combinar com o camarada Lamarca, decidi ir ao aeroporto, despedir-me de Rosa e Dora Augusta, e acabei encontrando com Lamarca, que decidira igualmente despedir-se de seus familiares.
Como relato pitoresco desta nossa ida ao aeroporto, à época a TV Excelsior estava exibindo uma novela, onde existiam cenas de violência e tiroteios, sendo que uma das cenas estava sendo gravada nesta noite no aeroporto de Congonhas. Ao ouvirmos os tiros e policiais correndo, chegamos a pensar que tínhamos sido localizados pela repressão e rapidamente colocamo-nos em posição de defesa, já que não tínhamos a mínima intenção de sermos capturados.
Para nosso alívio, eram somente cenas de uma novela. Esta foi a última vez que Lamarca viu a esposa e filhos. Engajados na luta contra a ditadura militar, acabei sendo preso em abril de 1970, durante treinamento de guerrilha no Vale do Ribeira, tendo sido libertado em 14 de junho, juntamente com outros 39 companheiros em troca da liberdade do embaixador alemão, sequestrado por um grupo de combate da VPR, comandado pelo saudoso camarada Eduardo Leite, o Bacuri.
Fomos levados para a Argélia e de lá, pouco tempo depois segui para Havana, em Cuba, onde após um ano e meio de separação, reencontrei com Rosalina, Dora Augusta, e Darcysito.
Não sabíamos, quando Rosa saiu do Brasil que ela se encontrava grávida de nosso segundo filho, que veio a nascer em território cubano. A separação dos familiares e o pior, a possibilidade de nunca mais tornar a vê-los, martirizavam nossas mentes durante todo o tempo.
Decorridos mais de quarenta anos dos fatos, tenho que necessariamente fazer uma severa autocrítica, pois por questões de segurança, e sempre buscando preservar meus familiares, jamais comentei com eles detalhes de minha militância política, fazendo com que eles fossem descobrindo somente na adolescência e na juventude detalhes de minha atuação política.
Foi preso em abril de 1970, junto com José Lavechia, numa área rural do Vale do Ribeira, onde a VPR fazia treinamento de guerrilha. Ficou preso por 57 dias, sendo torturado diariamente. Saiu do país em 15 de junho de 1970, trocado junto com outros presos, libertados no sequestro do embaixador alemão, Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben.
Levado inicialmente para a Argélia, depois exilou-se em Cuba, onde sua mulher e filha já viviam desde pouco antes de deixar o Exército. Morou dez anos em Cuba, onde trabalhou como professor e estudou Economia. Lá, nasceram dois dos seus quatro filhos. A família voltou ao Brasil em 1980, onde Darcy estudou direito. Em 1983 exerceu o primeiro de muitos cargos públicos na cidade de Bauru, onde vive até hoje. Em 2010, Antonio Pedroso Junior, lançou o livro: Sargento Darcy, Lugar Tenente de Lamarca, sobre a trajetória do militante.