FILTRAR POR
INICIAL DO NOME:

ONOFRE PINTO

OCORRÊNCIA

13/07/1974, em Medianeira, PR.

DADOS PESSOAIS
Filiação: Maria Pinto do Rosário e Júlio do Rosário
Data e local de nascimento: 26/01/1937, Jacupiranga (SP)
Profissão: torneiro mecânico
Data e local da morte/desaparecimento: 13/07/1974, em Medianeira, PR.
Organização política: Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Arquivos

RELATO DO CASO

Nasceu em Jacupiranga (SP) em 26 de janeiro de 1937, filho de Júlio do Rosário e Maria Pinto do Rosário. Desaparecido em 13 de julho de 1974. Dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Era ex-sargento do Exército formado em contabilidade e casado com Idalina Maria Pinto, com quem teve uma filha, Kátia.

Onofre teve seus direitos políticos cassados pelo A-1, em 9 de abril de 1964, e sua prisão preventiva decretada em 8 de outubro do mesmo ano, pela 2ª Auditoria de Guerra de São Paulo, em razão de sua participação no Movimento dos Sargentos, que teve como um dos seus pontos altos o dia 12 de setembro de 1963, quando centenas de sargentos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ocuparam durante a madrugada importantes centros administrativos de Brasília em protesto contra a recusa do STF em reconhecer o direito de elegibilidade dos sargentos a cargos do Poder Legislativo.

Indiciado em IPM instaurado pela 2ª Auditoria da 2ª Região Militar, em 2 de fevereiro de 1966, era um dos fundadores e principais líderes da VPR. Foi preso em 2 de março de 1969, por agentes do DOPS/SP e da 2ª Companhia da Polícia do Exército. Em setembro do mesmo ano, foi banido do Brasil, quando ocorreu o sequestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, e viajou para o México com outros 14 presos políticos. Depois, seguiu para Cuba, onde recrutou vários exilados para integrarem a VPR. Morou ainda no Chile e, após o golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende, refugiou-se na Argentina.

Enquanto estava exilado na Argentina, Onofre tem noticias de um episódio trágico que mudaria seu destino: a Chacina da Chácara São Bento, em janeiro de 1973, quando seis militantes da VPR foram assassinados em Pernambuco, vítimas da delação do agente policial infiltrado José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo. Militantes que conviveram com Onofre Pinto após o Massacre da Chácara São Bento relataram que esse exilado expressava desespero e inconformismo pela confiança que tinha depositado no agente infiltrado cabo Anselmo. Onofre era o dirigente principal da VPR, fora alertado sobre a infiltração de Anselmo, mas não aceitara as evidências.

A partir daquele episódio, passou a viver obcecado pela idéia de retornar à luta clandestina no Brasil. No entanto, é provável que tenha incorrido uma segunda vez no mesmo erro fatal, confiando em um ex-sargento da Brigada Militar gaúcha, ligado a Leonel Brizola, Alberi Vieira dos Santos, que parece ter sido um outro agente infiltrado, que atraiu esse grupo para a morte, conforme informações divulgadas quase 20 anos depois.

A data da viagem para o Brasil somente foi estabelecida através de informação fornecida por Idalina, mulher de Onofre. As informações acerca do ocorrido com o grupo tiveram novos elementos a partir de 1992, quando foi revelada a atuação do casal Maria Madalena Lacerda de Azevedo e Gilberto Giovanetti, que confessaram terem sido cooptados pelos órgãos de repressão, passando a realizar missões policiais, inclusive no exterior. Giovanetti tinha sido companheiro de Daniel e Joel na Ala Vermelha de São Paulo, tendo participado, segundo documentos dos órgãos de segurança, de assalto a um carro forte, em 14/04/1969, em que dois guardas foram mortos.

Madalena e Gilberto afirmam que foram presos num encontro que teriam com Alberi[1], no dia 13/07/1974, em Curitiba. Já desempenhando a nova posição de agente infiltrado, Madalena viajou para Buenos Aires e avisou a Idalina que o marido estava morto.

As condições em que foram executados esses seis militantes também foram descritas, em 1993, pelo ex-sargento Marival Chaves Dias do Canto, que atuou no DOI-CODI/SP. O ex-sargento e ex-agente do DOI-CODI/SP e do CIE Marival Dias do Canto Chaves confirmou, em depoimento realizado na Câmara Federal em 1993, que a operação foi uma cilada armada por Alberi Vieira dos Santos, um ex-sargento infiltrado entre os ativistas da VPR. Alberi mobilizara refugiados políticos no Chile e na Argentina para montarem uma fictícia área de treinamento de guerrilha no Brasil. Alberi fez contato com Onofre Pinto, que liderou o grupo. Marival conta que, ao chegar ao país, o grupo foi levado à suposta área de treinamento. Ali seis pessoas foram assassinadas sumariamente[2].

Alguns dos refugiados políticos procurados por Alberi, que convidava para retornar ao Brasil e implantar uma base guerrilheira no sudoeste do Paraná, levantavam suspeitas sobre sua atuação e sobreviveram por não aceitar o insistente convite. Algumas luzes sobre esse misterioso episódio só começaram a surgir em 2005, quando Aluízio Palmar lançou o livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, reconstituindo, ao final de quase três décadas de investigação, os últimos passos dos seis guerrilheiros.

Aluízio Palmar conseguiu descobrir o agente policial que trabalhou junto com Alberi e que participou diretamente dessa operação de infiltração. Desempenhando o papel de motorista e usando o nome fictício de Otávio Camargo, esse agente foi encarregado de buscar o grupo que saíra de Buenos Aires no dia 11 de julho, levando-o para o sítio de Niquinho Leite, parente de Alberi que não tinha conhecimento do que iria suceder. Pelo contrário, segundo revela Aluízio, Niquinho achava que estava contribuindo com os Revolucionários. O sítio fica em Boa Vista do Capanema, onde o grupo chegou no dia 12 de julho. Alberi tinha convencido o grupo de que a melhor entrada para o Brasil seria uma base de apoio em Santo Antônio do Sudoeste (PR). Chegando ao sítio, os viajantes descansaram da viagem de mais de 24 horas. Longe de ser uma base de apoio, o local e o plano eram uma armadilha para eliminar o grupo. “O sítio não era da VPR; Niquinho era um inocente útil usado pelo sobrinho (Alberi); Otávio, um membro do Centro de Inteligência do Exército; e Alberi, o cachorro que estava levando-os para uma armadilha... Durante a viagem, desde que saíram de Buenos Aires, os exilados foram monitorados por agentes do CIE (Centro de Informações do Exército)”.

Prossegue Aluízio Palmar em seu livro:

“A Operação Juriti estava em marcha, comandada pelo ‘doutor César’ (coronel José Brandt Teixeira) e pelo ‘doutor Pablo’ (coronel Paulo Malhães). Ela havia começado no Chile, teve sua continuidade na Argentina e agora chegava à sua fase final. Durante a viagem pela Argentina, desde que saíram de Buenos Aires, os exilados foram monitorados por agentes do CIE. Marival Chaves foi um deles. Toda a operação foi controlada à distância pelos coronéis Brandt e Malhães. Os agentes fizeram rodízio e acompanharam o retorno dos Revolucionários até chegarem ao sítio de Niquinho.  Para cumprir a ordem de extermínio, um grupo comandado pelo cão de guerra major Sebastião Rodrigues Curió, que usava o pseudônimo de doutor Marco Antonio Luchinni, iria esperar no Caminho do Colono, seis quilômetros mato a dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Aquela noite e o dia seguinte eles passaram no sítio. Enquanto uns descansavam, outros foram andar pelo mato ou pescar no Rio Capanema. Ao anoitecer do dia 13, Alberi e Otávio saíram com Joel, Daniel, Victor, Lavecchia e Enrique para executar a primeira ação revolucionária, uma expropriação na agência do Banco do Estado do Paraná, em Medianeira”.

Segundo o relato do agente Otávio, o plano era levar o grupo para um assalto a uma agência bancária. Onofre não participaria por ser muito conhecido. E prossegue o relato de Aluízio:

“Otávio deu a partida no motor e o carro subiu a lomba, para em seguida seguir pela estreita e sinuosa Estrada do Colono. Com exceção de alguns raios de luz que, de vez em quando, cruzavam a mata fechada, a escuridão era total. Depois de rodar quase seis quilômetros, a rural fez uma curva fechada e entrou num picadão à direita, que dava acesso a uma clareira. ‘Chegamos companheiros’, disse Alberi enquanto descia do veículo. O grupo caminhou um pouco e, de repente, antes de chegar à clareira, fez-se no meio do mato um clarão e fuzilaria abundante. Otávio ficou junto ao carro, Alberi correu e se jogou no solo, Lavecchia deu um tiro a esmo antes de cair. Após o tiroteio, a floresta foi tomada pelo silêncio, apenas interrompido pelo barulho dos coturnos dos militares do grupo de extermínio que saíam de seus esconderijos para fazer um balanço da chacina. (...) No chão, entre folhas e entrelaçado por cipós, o jovem Enrique Ernesto Ruggia ainda estava vivo e, tal como o Che, teimava em perseguir seu sonho de libertar a América Latina do domínio norte-americano e implantar o socialismo. (...) A ordem era matar e uma descarga final de pistola tirou o último sopro de vida de Enrique Ruggia”.

O pelotão de fuzilamento limpou a área, enterrando os corpos numa cova ali mesmo. Onofre foi executado depois, e seu corpo teria sido jogado em um rio.

O Dossiê dos Mortos e Desaparecidos transcreve um registro policial encontrado nos arquivos secretos do DOPS/SP a seu respeito: “Informação do II Exército de 29/01/70, esclarece que Onofre Pinto... teria a intenção de retornar ao Brasil... em princípios de fevereiro de 1970”. E completa os dados: “O Ministério do Exército nos cientificou que provavelmente o marginado encontrar-se-ia no Chile”.

Outras informações ratificam que ele se encontrava sob estrita vigilância: “A CIOP, em 2/7/73, nos cientificou do seguinte: ‘A carteira de identidade de Francisco Wilton Fernandes, emitida pelo Instituto Nacional de Identificação do Departamento de Polícia Federal, Brasília, em 17/05/73, RG n° 104.947, estaria de posse de um aparelho de subversivos brasileiros em Santiago do Chile. Segundo o informante, a referida carteira deverá ter a fotografia substituída pela de Onofre Pinto”. “Relatório de Plantão de 29/6/74 nos cientifica que através do Rádio n° 3749, proveniente da DPF, fomos solicitados a observar os indivíduos Onofre Pinto e Daniel José de Carvalho, que se dirigem para São Paulo, procedentes do Uruguai”. Num desses registros policiais aparece, inclusive, a informação de que o grupo se dirigia ao Brasil com a intenção de justiçar o delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Em depoimento na Câmara dos Deputados em 21 de maio de 2014, a jornalista Juliana dal Piva, que entrevistou o coronel Paulo Malhães um mês antes de sua morte, na casa em que foi assassinado em Nova Iguaçu (RJ), disse que militar confirmou a participação no episódio, liderando a operação. Segundo dal Piva, no entanto, Malhães afirmou que os corpos dos militantes foram jogados no rio e não enterrados no parque e, portanto, não poderiam ser localizados.

Na versão de Malhães, o trabalho de execução do grupo de Onofre Pinto começou pelo menos dois meses antes dos assassinatos. Segundo ele, uma casa na região periférica de Foz de Iguaçu foi utilizada, por cerca de sessenta dias, como central de operação. Nela, os militares, com a ajuda de Alberi, teriam elaborado estratégias de convencimento para que Onofre Pinto e seus companheiros atravessassem a fronteira rumo a suposta zona de treinamento guerrilheiro. Essa ação era necessária pois, segundo Malhães, não havia autorização do governo militar para que os agentes da repressão atuassem em território estrangeiro.

De acordo com Paulo Malhães, após a chacina de parte do grupo na clareira na estrada do Colono no Parque Nacional do Iguaçu, Onofre teria sido levado para esta casa e mantido refém durante quase quatro semanas. No período, os agentes teriam “cantado” Onofre para que este se tornasse um agente infiltrado. Malhães diz ter participado dessas conversas. No entanto, essa alternativa teria sido vetada do alto comando militar que entendia que Onofre, um ex-militar, não poderia permanecer vivo; que aquela opção era arriscada ao conceder demasiados poderes ao experiente militante e que deveria sua morte servir de “exemplo” para desertores e traidores. Assim, Malhães teria recebido ordens para executar Onofre e desaparecer com o cadáver, que teria sido jogado no rio, do alto de uma ponte na região hoje alagada pelo lago de Itaipú. 

Rosa Cardoso, membro da Comissão Nacional da Verdade, contestou essa informação. Ela afirmou que suas revelações são importantes, mas não são totalmente confiáveis: “O coronel queria causar confusão, dificultar o processo e criar uma cortina de fumaça nas investigações”. Em audiência pública dedicada ao tema, Rosa Cardoso explicita que, apesar da dificuldade em encontrar os corpos, o caso da chacina do Parque Iguaçu tem recebido grandes esforços por parte da CNV e que muitos dos envolvidos com o assassinato desses militantes já foram identificados e as circunstâncias da morte esclarecidas.

A CEMDP tentou resgatar os restos mortais desses seis militantes com base nas pesquisas realizadas por Aluízio Palmar. A Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) chegou a ir ao local em 2001 e 2005 sem conseguir localizar as covas clandestinas.

 Em depoimento à Câmara dos Deputados em 21 de maio de 2014, Ivan Seixas, membro da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, assessor contratado pela CEMDP em 2010, informa que, depois da guerrilha do Araguaia, a chacina do Parque do Iguaçu talvez seja um dos casos em que houve a maior quantidade de investimentos pela CEMDP. Na última tentativa de encontrar os corpos, foram três incursões, com duração de cerca duas semanas cada, com a presença de peritos, da polícia civil, da polícia federal e do ministério público no mapeamento e nas escavações, contando, inclusive, com a presença de uma testemunha no local. Apesar dos esforços coordenados e da logística apropriada, os corpos não foram encontrados.

Ainda de acordo com Ivan Seixas, em 2013, membros da Comissão Nacional da Verdade, em parceria com a CEMDP, a Comissão da Verdade do Paraná e a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, estiveram mais uma vez presentes no local da chacina com a testemunha. Na ocasião, com ajuda de peritos policais, é realizada e devidamente documentada a reconstituição do massacre. Com o cruzamento de informações e novas oitivas, a CNV busca identificar, a partir de novos elementos, todos os envolvidos na chacina e o local exato da inumação. É trabalho também da CNV impedir ações que possam desfigurar o local onde, ainda hoje, ocorrem as buscas pelos corpos. Rafael Schincariol, presidente da CEMDP, afirma, na mesma ocasião, que as buscas continuarão no segundo semestre de 2014. Assim, CNV e CEMDP continuam comprometidos com a busca e localização dos corpos de todos os militantes desaparecidos em julho de 1974 na região do sul do país.

 

 

Fontes investigadas:

Conclusões da CEMDP; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE. Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: Audiência pública em Foz do Iguaçu sobre os assassinatos na tríplice fronteira realizada pela Comissão Nacional da Verdade em parceria com a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo e Comissão da Verdade do Paraná entre os dias 27 e 28/03/2014; Arquivo Público do Estado de São Paulo; Projeto Brasil Nunca Mais Digital; Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? PALMAR, Aluizio. Travessa dos Editores, Curitiba, 2012 4 ed.; Arquivo do Instituto de estudos sobre a violência do Estado – IEVE; Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados - Audiência Pública: Debate a respeito da Chacina do Parque do Iguaçu/PR, durante a ditadura militar, em especial quanto à busca dos corpos das vítimas realizado em 21/05/2014


[1] O nome de Alberi, até então considerado um herói pelos seus companheiros sobreviventes, constava do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos. Ele tinha sido o braço direito do coronel Jefferson Cardin de Alencar Osório na chamada Guerrilha de Três Passos, em março de 1965. Teria sido condenado pela Justiça Militar e cumprira pena de 8 anos. Cinco anos depois, ele próprio seria encontrado morto, em 10/01/1979, na região de Foz do Iguaçu, quando investigava a morte de seu irmão, José Soares dos Santos, ocorrida em janeiro de 1977. Outro dos irmãos de Alberi, Silvano, morreu em 1970, após ter cumprido pena pela participação no movimento de Jefferson Cardin. As condições de sua morte ainda não foram esclarecidas e o pedido de seus familiares à CEMDP terminou sendo indeferido

[2] Marival Chaves acrescenta entre os mortos o nome de Gilberto Faria Lima, conhecido como Zorro, militante da REDE que esteve na área de treinamento da VPR no Vale do Ribeira, em 1970. Seu nome nunca constou da lista de mortos e desaparecidos e não há certeza de que tenha efetivamente integrado o grupo, sendo que seus familiares não apresentaram requerimento à CEMDP.

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

  1.  

 

Órgão / Período

Nome

Função

conduta

Vivo/data do óbito

Observações

Exército/CIE

José Brant Teixeira

Coronel

Coordena a Operação Juriti desde o Chile até a execução em Medianeiras/PR.

Perseguição, sequestro e assassinato

Vivo

 

Exército/CIE

Paulo Malhães

Coronel

Coordena a Operação Juriti desde o Chile até a execução em Medianeiras/PR.

Perseguição, sequestro e assassinato

Assassinado em      25/04/14

 

 

Alberi Vieira dos Santos

Agente infiltrado

Delação e participação na emboscada que culmina no assassinato dos membros da VPR.

Sequestro e cúmplice de assassinato

Morto em 1979

 

Exército/CIE

Otávio Rainolfo da Silva

Soldado do exército à época dos fatos.

Conduziu o veículo que levou os cinco militantes para o local do assassinato no Parque do Iguaçu.

Sequestro e cúmplice de assassinato

Hoje é policial civil no estado do Paraná.

A testemunha Otávio Rainolfo da Silva, é atualmente agente da Polícia Civil do Paraná. Na época

servia no Batalhão de Fronteiras e estava lotado na Segunda Seção. Ele declara que juntamente com

Alberi conduziu as vítimas da fronteira até um sítio na localidade de Santo Antonio e dali até o local da

Emboscada.

Exército/CIE

Batalhão de Fronteiras de Foz de Iguaçu

Areski de Assis Pinto Abarca

Chefe do S2 do 1º Batalhão de Fronteiras de Foz do Iguaçu

 

Responsável por fornecer o local da emboscada aos militantes em Medianeira/PR.

Falecido

 

Exército/CIE

Batalhão de Fronteiras de Foz do Iguaçu

Aramis Ramos Pedroso

Tentente à época dos fatos.

Comandante da operação de vigilância na travessia dos militantes na fronteira.

 

 

II Exército-SP

 

Francisco Aniceto Antonio Carvalho

 

 

 

Participação no sequestro e assassinato dos membros da VPR na tríplice fronteira.

 

 

Exército/CIE

Marival Chaves Dias do Canto

 

Participa do monitoramento da viagem dos militantes de Buenos Aires ao Brasil.

Vivo

 

 

Maria Madalena de Azevedo

Ex-militante da VPR e agente infiltrada

Infiltração e delação

Viva

Em depoimentos prestados à Comissão de Representação Externa sobre os Desaparecidos Políticos da Câmara dos Deputados, em 1992, Maria Helena afirma ter sido aliciada por militares para monitorar e delatar atividades de membros da VPR no exterior.

Dossiê Ditadura p. 505

 

Gilberto Giovaneti

Ex-militante da VPR e agente infiltrado

Infiltração e delação

Vivo

Em depoimento prestado à CNV, Gilberto relata as circunstâncias em que passou a cooperar com os organismos de repressão.

Comissão Nacional da Verdade. Audiência pública em Foz do Iguaçu em 27/03/2013.

 

 

  1. DOCUMENTOS CONSULTADOS

 

  1. Documentação principal

 

 

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observações

Anexo

Certidão de casamento

 

Emitida em 19/11/1966

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 4

Certidão de Óbito

 

Emitida em 09/02/1996, nos termos da Lei 9140/95.

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página

Requerimento da viúva, Idalina Pinto, à CEMDP

 

Protocolada em 14/02/1996

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 1

Histórico político redigido por familiares na ocasião do requerimento à CEMDP

 

Enviado em 14/02/1996

001-ArquivoCEMDP.pdf

Páginas 6 e 7

Reportagem Jornal do Brasil que comprova a perseguição política

 

Publicado pelo Jornal do Brasil em 21/01/1992. Cita documento do III Exército de 22/07/1974 em que o governo brasileiro solicita às autoridades argentinas a captura de Onofre Pinto e Daniel José de Carvalho.

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 9

Reportagem Jornal do Brasil que comprova a perseguição política.

 

Notícia publicada pelo Jornal do Brasil em 01/11/1992 sobre a confissão do casal Gilberto Giovaneti e Maria Madalena

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 10

Reportagem Jornal do Brasil.

 

Publicada em 03/11/1992

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 11

Entrevista de Marival Chaves revelando detalhes sobre a operação de assassinato de Onofre Pinto

 

Publicada em 20/11/1992 pela Folha da Tarde

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 12

Reportagem de “O Globo” sobre as revelações de Marival Chaves

 

Publicada pelo “O Globo” em 20/11/1992

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 13

Reportagem Jornal do Brasil sobre a participação do Exército na morte de Onofre Pinto

 

Publicada em 10/04/1993

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 14

Publicação do semanário “Nosso Tempo” com reportagem sobre a irmã do desaparecido político Enrique Ernesto Ruggia e as mortes da VPR na fronteira com a Argentina

 

Publicada em 05/02/1993

001-ArquivoCEMDP.pdf

Página 15

Documentos policias

DOPS/SP

Documento do arquivo do DOPS, de 1969, do julgamento de processo do Conselho Permanente de Justiça do Exército. Declara encerrado o processo com relação aos acusados banidos Onofre Pinto e João Leonardo da Silva Rocha, entre outros, e extingüe a punibilidade de Antônio Raymundo Lucena, Arno Preis, Carlos Lamarca, Eduardo Leite, José Raimundo da Costa, Joaquim Câmara Ferreira, entre outros

002-ArquivoIEVE.pdf

Páginas 1 a 3

Documentos que comprovam perseguição política

SNI / Divisão de Segurança e Informações do Paraná.

Documento organizado pela Divisão de Segurança e Informações do Paraná. Contém: informe confidencial da Diretoria de Ensino da Aeronáutica, de 28/04/69; fotos do rosto de Onofre, com a informação de que foi banido do país em 05/09/69; pedido de busca do Centro de Informações do Paraná ao DOPS, de 18/06/74, para capturar Onofre que estaria voltando ao Brasil a fim de praticar atividades subversivas; fotos numeradas acompanhadas de dados pessoais de Onofre, João Leonardo da Silva Rocha e José Ibrahim e informe confidencial do III Exército, de 03/02/70, onde consta que Onofre Pinto estava em Cuba, iria a Praga e de lá para Montevidéu e voltaria ao Brasil com cobertura do deputado Uruguaio Ariel Collazo.

002-ArquivoIEVE.pdf

Páginas 4 a 9.

Pedido de Busca

III Exército

Documento do III Exército, de 21/06/74, para a captura de Onofre Pinto, que estaria voltando ao Brasil para executar uma ação "subversiva. Em anexo, encontra-se uma carta do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (Porto Alegre, RS), de 01/08/92, instituição que localizou esse pedido de busca e o está enviando para Suzana Lisboa.

002-ArquivoIEVE.pdf

Páginas 10 e 11

Documento Justiça Militar Federal sobre anistiados políticos da Lei 6689/79

Justiça Militar Federal

Emitido em 12/09/1979

003-ArquivoIEVE.pdf

Documento que atesta perseguição política à Onofre Pinto no exterior

DOPS/SP

Documento do Setor de Análise, Operações e Informações do DOPS/SP, com dados fornecidos pelo Informante "Paquera". Inicia-se com um sumário contendo as atividades do período de 22/11 a 05/12, como viagens à Argentina e a Santiago, entrevista com diretor da revista Punto Final, visita à chancelaria cubana, visita à embaixada cubana, encontro com ativista clandestina de um grupo de esquerda chileno. Há uma lista com endereços e mensagens sobre militantes. O relatório traz conversas do informante com diversos militantes em Cuba, citando as organizações Ação Libertadora Nacional (ALN), Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Tratam da situação dos comandos de militância no Brasil, a possibilidade de infiltração e sobre a morte de alguns militantes. Em anexo há um mapa de um aparelho e o carimbo do visto de saída falso, apagado

004-ArquivoIEVE.pdf

Documentos que atestam a perseguição política

DOPS/SP

Documento da Divisão de Informações do DOPS/SP, sobre Onofre Pinto. Consta que Onofre foi indiciado por assalto ao Quartel de Quitaúna, em 05/09/64, e teve seus direitos políticos cassados e sua prisão preventiva declarada em 1964 e em 1965. Em 30/12/67, com Antônio Raymundo de Lucena e outros, participou de assalto a um depósito de dinamites e bombas em Cajamar, SP. Em 1968, participou de atentado à bomba a O Estado de São Paulo, ataque ao quartel da Força Pública do Estado de São Paulo (FPESP) do Barro Branco, atentado ao quartel general do II Exército. Há depoimentos que afirmam que Onofre mantinha encontros com pessoas cassadas pela "Revolução de 1964". Foi preso em 02/03/69 pelo DOPS e Exército e em 05/09/69, foi trocado pela vida do embaixador Charles Bruce Elbrick e banido do Brasil, com destino ao México. Consta também entrevista concedida ao jornal Gramma, editado pelo Comitê Central do Partido Comunista Cubano, onde Onofre comentou a identidade existente entre o grupo de Carlos Lamarca e o de Carlos Marighella. Afirma que Onofre tinha planos para retornar ao Brasil no início de 02/70, com a cobertura do deputado comunista uruguaio Ariel Collazo. Há ainda informações colhidas em autos de qualificação e interrogatório de outras pessoas sobre Onofre, entre elas Eduardo Leite, sobre suas relações e ações subversivas. Consta ainda que em 09/08/74, a irmã de Onofre, Judi Moreira, tirou férias para encontrar-se com ele, que já estaria no Brasil. Uma das cópias possui os códigos das pastas de onde foram retiradas as informações de cada parágrafo e apresenta carimbo do Setor de Análise, Operações e Informações do DOPS.

005-ArquivoIEVE.pdf

006-ArquivoIEVE.pdf

Foto Onofre Vivo

 

 

007-Onofre-vivo.pdf

 

 

 

2. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

 

 

Documento

Fonte

Observação

Anexo

Relatório sobre as expedições da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) e busca dos desaparecidos políticos na estrada do Colono no Parque do Iguaçu/PR.

Secretaria Especial de Direitos Humanos

Relato dos trabalhos em busca dos corpos na região de Foz de Iguaçu em 2010. Escrito por Aluizio Palmar em 29/11/2010.

Em anexo:

009-Relatorio-para-SEDH- AluizioPalmar2010.pdf

Esclarecimentos sobre as circunstâncias da morte prestados por Otavio Rainolfo a funcionários da SEDH, na ocasião da busca pelos corpos em 2010.

Secretaria Especial de Direitos Humanos

Conversa mantida entre Otávio Rainolfo Camargo e funcionários da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em novembro de 2010, durante a última expedição no Parque Nacional do Iguaçu.

 

Em anexo:

010-OtavioRainolfo.pdf

 

 

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

 

Nome

Relação com o morto / desaparecido

Informação

Fonte

Adão Almeida

Foi o primeiro a ouvir as informações do ex-soldado do exército Otávio Rainolfo da Silva sobre as execuções dos militantes da VPR na região da tríplice fronteira.

O policial federal Adão Almeida foi o primeiro a ouvir o agente da repressão Otávio Rainolfo da Silva, que revelou como os seis militantes da VPR foram atraídos para uma emboscada no Parque Nacional de Foz do Iguaçu. Segundo Almeida, Rainolfo disse que a operação contou com a participação de Sebastião Curió e veículos descaracterizados teriam sido usados. Grupo foi atraído por Alberi Vieira dos Santos, sargento que colaborava com a repressão.

Comissão Nacional da Verdade. Audiência pública em Foz do Iguaçu em 27/03/2013.

https://www.youtube.com/watch?v=2F8suvBAWcs&list=PL9n0M0Ixl2jdGwkvXyyWnzab_4jpfg2kE&index=2

Aluizio Palmar

Autor do livro "Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?", pesquisa o caso há 30 anos. Ele foi o primeiro a depor na audiência e contou detalhes de como pesquisou a chacina de Foz do Iguaçu, em 1974.

Conta detalhes sobre a investigação do caso na CEMDP. Relata como refez os passos dos militantes da Argentina ao Brasil e o descobrimento dos agentes envolvidos no assassinato e desaparecimento dos militantes.

Informa que a morte de Daniel não foi em Medianeira/PR, mas no km 6 do Parque Nacional do Iguaçu.

Comissão Nacional da Verdade. Audiência pública em Foz do Iguaçu em 27/03/2013

https://www.youtube.com/watch?v=2F8suvBAWcs&list=PL9n0M0Ixl2jdGwkvXyyWnzab_4jpfg2kE&index=2

Rosa Cardoso

Representante da Comissão Nacional da Verdade

Em depoimento prestado ante a Câmara dos Deputados, Rosa esclarece os rumos e os estágios das investigações sobre os responsáveis e as circunstâncias da morte de Onofre Pinto e outras vítimas da “chacina do Parque Iguaçu”.

Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados - Audiência Pública: Debate a respeito da Chacina do Parque do Iguaçu/PR, durante a ditadura militar, em especial quanto à busca dos corpos das vítimas realizado em 21/05/2014

Em anexo:

014-RosaCardoso21052014.mp3

Ivan Seixas

Representante da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva.

Depoimento sobre o andamento da investigação sobre a chacina e a busca pelos corpos no âmbito da SEDH e da CNV.

Audiência Pública: Debate a respeito da Chacina do Parque do Iguaçu/PR, durante a ditadura militar, em especial quanto à busca dos corpos das vítimas realizado em 21/05/2014

Em anexo:

011-IvanSeixas21052014.mp3

Rafael Luiz Feliciano da Costa Schincariol

Coordenador da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos

Depoimento sobre os próximos passos da parceria CEMDP e CNV na busca pelos corpos da chacina do Parque do Iguaçu.

Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados Audiência Pública: Debate a respeito da Chacina do Parque do Iguaçu/PR, durante a ditadura militar, em especial quanto à busca dos corpos das vítimas realizado em 21/05/2014

 

Em anexo:

013-RafaelSchincariol21052014.mp3

Juliana Schwartz Dal Piva

Jornalista

Responsável pela condução de diversas entrevistas com ex-tenente-coronel Paulo Malhães e, na audiência pública na Câmara dos Deputados, cita a versão de Malhães sobre os ocorridos na região do Parque Iguaçu.

Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados Audiência Pública: Debate a respeito da Chacina do Parque do Iguaçu/PR, durante a ditadura militar, em especial quanto à busca dos corpos das vítimas realizado em 21/05/2014

Em anexo:

012-JulianaDalPiva21052014.mp3

 

 

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

 

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

 

Marival Chaves Dias do Canto

 

À época sargento do DOI-Codi do II Exército de SP

Em entrevista à revista ISTOÉ em 2004, Marival Chaves revela nomes envolvidos com a organização e execução da chacina.

Dossiê Ditadura p.588

Em anexo:

015-RevistaIstoE24032004MarivalChaves.pdf

Paulo Malhães

Exército/ CIE. Coronel

Em entrevistas concedidas à jornalista Juliana Dal Piva e em depoimento prestado à Comissão Nacional da Verdade, o ex-tentente-coronel Paulo Malhães relata a participação no caso da chacina do Parque Iguaçu. Teria sido o responsável pela organização logística da operação e a execução de Onofre Pinto.

Agência Câmara e Assessoria de Imprensa da

Comissão Nacional da Verdade

 

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Onofre Pinto foi perseguido desde os primeiros momentos do regime militar brasileiro. Mesmo banido do país e exilado, sua atuação política continuou sendo monitorada por agentes infiltrados. Foi vítima de uma emboscada que o atraiu, junto a outros companheiros, para a morte na fronteira sul do país. Foi preso, chantageado, torturado, morto, esquartejado e o cadáver ocultado.

Onofre Pinto é considerado desaparecido político, por não ter sido entregue os restos mortais aos seus familiares, não permitindo o seu sepultamento até os dias de hoje. Conforme o exposto no parágrafo 103 da Sentença da Corte Interamericana no Caso Gomes Lund e outros: “adicionalmente, no Direito Internacional, a jurisprudência deste Tribunal foi precursora da consolidação de uma perspectiva abrangente da gravidade e do caráter continuado ou permanente da figura do desaparecimento forçado de pessoas, na qual o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subseqüente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade (...)”.

No parágrafo 110 do mesmo documento é mencionado que: “(...) pode-se concluir que os atos que constituem o desaparecimento forçado têm caráter permanente e que suas conseqüências acarretam uma pluriofensividade aos direitos das pessoas reconhecidos na Convenção Americana, enquanto não se conheça o paradeiro da vítima ou se encontrem seus restos, motivo pelo qual os Estados têm o dever correlato de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis, conforme as obrigações decorrentes da Convenção Americana”.  (Sentença da Corte Interamericana, p. 38 e 41, publicação da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo).

Recomendações: Investigação das circunstâncias da prisão, morte e desaparecimento de Onofre Pinto; localização dos restos mortais, responsabilização dos agentes da repressão envolvidos no caso, retificação do atestado de óbito; que o Estado brasileiro reconheça e declare a condição de anistiado político de Onofre Pinto, pedindo oficialmente perdão pelos atos de exceção e violações de direitos humanos que foram praticados contra esse desaparecido político.

Veja Também:

EXPEDIENTE