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INICIAL DO NOME:

EREMIAS DELIZOICOV

OCORRÊNCIA

16 de outubro de 1969, no Rio de Janeiro (RJ)

DADOS PESSOAIS
Filiação: Jorge Delizoicov e Liubov Gradinar Delizoicov
Data e local de nascimento: 27 de março de 1951, em São Paulo (SP)
Profissão: Estudante
Atuação política: Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)
Data e local da morte/desaparecimento: 16 de outubro de 1969, no Rio de Janeiro (RJ)
Organização política: Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

RELATO DO CASO

Nasceu em 27 de março de 1951, em São Paulo, filho de Jorge Delizoicov e Liubov Gradinar Delizoicov. Morto em 16 de outubro de 1969. Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Demétrio Delizoicov Neto, irmão de Eremias, escreveu um testemunho sobre sua vida:

“Eremias viveu toda a sua infância e boa parte da sua curta adolescência na Mooca. Completou o curso primário, em 1961, no Grupo Escolar Pandiá Calógeras e o ginasial,em 1965, no Colégio Estadual M.M.D.C. Neste mesmo colégio iniciou, em 1966, o curso clássico. Em 1967 foi aprovado no exame de seleção da Escola Técnica Federal de São Paulo e cursou, simultaneamente com o clássico, o curso de mecânica.

Sensível e criativo destinava suas horas de lazer ao esporte e à música. Tocava violão várias horas por dia. Estudou música clássica e, a partir de 66, imbuído de um “espírito nacionalista”, começou a expressar seus sentimentos interpretando músicas nacionais, notadamente aquelas enquadradas como Bossa Nova.

Tentou, com um colega pianista e outro baterista, formar um trio.

Como esportista, em 1962 disputou o Torneio Paulista de Judô, tendo tirado a primeira colocação na sua categoria. Treinou natação durante 65 e 66 e participou de algumas competições. Em 1967, integrou a equipe de remadores do Corinthians e começou a treinar capoeira.

Organizava seus horários de tal modo a, paralelamente, auxiliar o pai nas atividades do comércio. Iniciou a leitura das obras de Aluísio de Azevedo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Ficou particularmente sensibilizado com as poesias de Augusto dos Anjos e passou a questionar a realidade brasileira ao ler Geopolítica da Fome, de Josué de Castro. Em 1967, no Colégio Estadual M.M.D.C., articulou-se com outros colegas para formar uma chapa que disputaria as eleições para o grêmio estudantil, iniciando sua militância política.

Ficou conhecendo detalhes do acordo MEC-USAID e engajou-se no movimento estudantil contra tal acordo. Passou a interagir com estudantes de outras escolas secundárias e se articularam uma chapa para disputar, em 68, as diretorias da União Paulista de Estudantes Secundaristas (UPES) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES). Organizou, juntamente com o grupo, o movimento estudantil secundarista nas escolas da zona leste de São Paulo. Eremias, em 1968, passou a liderar um movimento reivindicatório de alunos no Colégio Estadual M.M.D.C., organizando uma greve e comícios. Em virtude disso, foi transferido compulsoriamente, juntamente com alguns colegas, pela direção do colégio, contestada por alguns professores. Conseguiu matricular-se no Colégio Estadual Firmino de Proença, terminando o ano. Paralelamente, continuou seu curso técnico.

Durante as greves operárias de 68, em Osasco [SP], assistiu a algumas assembléias sindicais, com outros colegas que levavam o apoio dos estudantes aos operários em greve.

Engajou-se na campanha para obter fundos de greve.

No início de 1969, entrou para a VPR. Simulou uma discordância com os pais e passou a morar fora de casa, mas visitava-os semanalmente. Confidenciava comigo, seu único irmão, um ano mais velho, e, então, estudante universitário, com quem mantinha uma estreita ligação e com quem discutia posições políticas.

Em meados de julho de 69, os órgãos de repressão já sabiam da sua militância. Dias antes, Eremias, sabendo do inevitável, reuniu-se com os pais e os pôs a par da sua real situação. Estes se esforçaram para uma saída segura: enviá-lo ao exterior, mas Eremias optou pelo Brasil e pela clandestinidade. Nunca mais o viram, vivo ou morto.

Seu pai foi detido duas vezes no Q.G. do II Exército para prestar depoimentos. Os prontuários das escolas onde estudara foram vasculhados. Junto com os demais companheiros, sua foto foi exposta em cartazes de pessoas procuradas pelos órgãos de repressão.

No início de 1970, nosso pai foi convocado ao DOPS em São Paulo pelo delegado Sérgio Fleury. Enquanto aguardava na ante-sala daquele policial, percebeu que Fleury pressionava a mãe de um cidadão procurado, dizendo que deveria fornecer o paradeiro de seu filho. A certa altura, meu pai, que a tudo ouvia, pois a porta do delegado estava aberta, ouviu-o dizer algo como “é uma questão de tempo, ou ele é preso ou morto como o filho daquele senhor”, referindo-se a meu pai que, nesse momento, inteirou-se do falecimento de Eremias. Em seguida, Fleury explicou-lhe o ocorrido na Vila Cosmos, agregando que Nóbrega estava vivo [O corpo de Eremias foi enterrado com o nome de José Araújo Nóbrega, o sargento Nóbrega, militante da VPR] e havia sido preso dias antes, e que, portanto, o morto em outubro de 1969 era Eremias. Fleury descartou qualquer possibilidade de ajuda em relação ao esclarecimento oficial dos fatos, alegando que se algo pudesse ser feito, seria no Rio de Janeiro, junto ao I Exército. Dias após a ida de meu pai ao DOPS, a imprensa toda noticiaria que Nóbrega havia sido preso e que a pessoa morta no confronto com o Exército, em outubro de 1969, era Eremias. Enquanto durou a clandestinidade de Eremias, principalmente nos meses de junho a agosto de 1969, a casa de meus pais era constantemente visitada e vigiada por agentes policiais ou militares. Diante do clima de repressão reinante à época, meu pai entendeu não ser possível iniciar o esclarecimento dos fatos.

Em 1975 ou 1976, meus pais foram ao Rio de Janeiro para tentar obter mais informações e localizaram uma vizinha da casa onde [Eremias] fora morto. Segundo a vizinha, a repressão montou um grande aparato, interditando o quarteirão onde se situavam as casas. Pessoas que se diziam militares do Exército pediam que os moradores das vizinhanças permanecessem quietos em suas casas. Contra a casa em que morava Eremias foram disparados inúmeros tiros, inclusive de metralhadora e bombas e, de dentro da casa, partiram também vários tiros. A vizinha acrescentou que parte do efetivo militar utilizou-se de sua casa para invadir a casa onde estava Eremias.

Em 1979, após a edição da Lei de Anistia, meus pais iniciaram a tramitação jurídica para obtenção do atestado de óbito”.

Na 87ª Audiência da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo realizada no Auditório Aldo Ivo Vincenzo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo foi lido um depoimento de Urariano Mota sobre Eremias Delizoicov, que segue:

“De fato, as impressões digitais de Eremias Delizoicov já estavam confirmadas pelo datiloscopista da Delegacia de Crimes Contra a Pessoa de São Paulo, no dia 11 de dezembro de 1969. Olho uma foto do anexo 1 do livro “Dossiê dos mortos e desaparecidos a partir de 1964”. Na foto, não reencontro Eremias. A imagem é de um cadáver de 18 anos perfurado de balas, o rosto irreconhecível porque só uma ferida, os cabelos, tão úmidos, tão grossos por coágulos de sangue, que fazem a impressão de Eremias flutuar no chão seco. Nada havia naquele cadáver que lembrasse o jovem que eu conhecera. O menino que eu vira em 1968 não anunciava aquele fim. Eremias não era aqueles olhos apertados, a boca aberta à procura de ar, a lembrar um afogamento. Um estranho peixe, com os cabelos a flutuar no seco. Essas fotos dos mortos da Polícia Técnica são bem falsas na sua chocante realidade. Das simulações pornográficas estas são as mais mentirosas. É impossível discutir aqui a perversão das lentes da câmera, a direção que a mente acostumada à perversão dá a estas lentes, a convergência do fotógrafo com a perversão. Ou mesmo discutir o defunto dessas fotos como uma perversão. Nessas fotos, defuntos se apresentam como a encarnação da morte, quando deveriam ser apenas o resultado natural da morte. Esses fotógrafos do Instituto da Polícia Técnica são homens bem medíocres. São amantes e diretores de filmes de terror de quinta categoria. “Vesti azul, minha sorte então mudou. Vesti azul, minha sorte então mudou”, não, não pensem que enlouqueci. Há uma coerência entre essas canções despretensiosas, alegres, leves, e os cadáveres dos que chamam “terroristas” no Instituto de Polícia Técnica. Não pensem jamais que vicejam hinos do Drácula em épocas sombrias, de repressão. Pelo contrário. Um ano antes daquelas fotos, eu conheci Eremias Delizoicov na Escola Técnica Federal de São Paulo. Um anos antes de ele virar um estranho peixe. Eremias era um menino que desejava ser homem, como todos os meninos da nossa idade. Ele foi a minha salvação no meio daqueles meninos burgueses, eu lembro. A Escola Técnica Federal de São Paulo daqueles anos possuía alunos da elite econômica do Brasil. Certo dia, percebi que um jovem gordo, que se vestia com blusões de couro tão natural como uma segunda pele, era filho do dono da Aços Villares. E eu então me encolhi mais em minha camisa de algodão, nos 10 graus do inverno paulistano. A conversa daqueles alunos toda era sobre carros, motos, motores, esportes. Onde um amigo, uma alma, um leitor, um irmão que entendesse e falasse sobre Platão, Descartes, os grandes inventos da humanidade, a música de Chopin? Quando me perguntavam sobre máquinas, potências de motores, eu lhes respondia que mais me preocupava “O Discurso do Método”, de René Descartes. Um ridículo imenso caía então sobre o nordestino doído. “Pensam que a pobreza é lixo, e que rapaz pobre não tem coração”. Não, não pensem que enlouqueço ao lembrar essas canções melosas, adocicadas, daqueles férreos anos. “Estava na tristeza que dava dó, vivia amargamente e andava só”, lembro, tão nitidamente quanto lembro a diferença, o contraste dessa canção com a vida que não poderia brotar, de um mundo reprimido e coroado naqueles anos. “Que o azul é a cor do céu, e do seu olhar também. Então eu fiz charminho e acrescentei: Vesti azul, minha sorte então mudou”, cantava Simonal. Porra nenhuma mudava. “Porrrrrrrra nenhuma!!!” Então eu não dizia “porra”, porque isso significava manifestação de espírito inferior. “Vesti azul”, e por não ter camisa azul, procurava o azul do espírito. Uma coisinha estúpida, a procurar uma alternativa que não fosse pular da vida afora. “Você já leu Marx?” Eremias uma vez me perguntou. Eu me virei para o intruso nas minhas divagações, na hora do recreio, no pátio, porque à direita de Deus eu pensava andar, na mais torpe danação. Olho o intruso e vejo um jovem louro, baixinho, forte, com um ar permanente de sorriso na face. Aquilo não era bem uma pergunta, aquilo era uma provocação, de imediato percebi. Mas era bem melhor que ouvir falar do modelo do último carro. Já, claro. Quem não leu é estúpido, eu lhe respondi. “O Manifesto, você leu?” Eremias volta. Não, O Manifesto, não. “Então leu o quê?” Ah, ah, já li muito Marx, apresentado por Hegel. “Ah, muito interessante. Hegel nasceu antes de Marx, sabia?” 1 x 0. O time da casa, que falava para vocês, perdeu de frente. Ao escrever agora, não resisto ao impulso de desejar o impossível, que fôssemos mais maduros em 1968. Se não maduros, pelo menos profetas, leitores do futuro, videntes, para acabar com aquela discussão absurda, de competição, de dois jovens que gostavam de ler, e estavam condenados, o paulista, a um ano mais de vida, e o pernambucano a um vazio incapaz de completar esta frase. Naquela altura, eu ainda não havia lido Politzer, que fazia uma revisão da filosofia a ponto de deixar os jovens com a impressão de que eram uma etapa superior a todos os filósofos. Eremias, talvez, sim. Politzer era um passaporte para a ação, uma etapa necessária para que os estudantes dissessem estar preparados para as tarefas práticas e teóricas do socialismo. Eremias já era um militante em 1968, aos 17 anos, sei hoje, pelos registros históricos. Daí que eu concluo, sim, com certeza, ele já passara por Politzer. É claro que eu sei, você não entendeu, eu lhe disse. E continuei, a gaguejar. Refiro-me a Marx apresentado por Huberto Rohden, você conhece? Ele contesta Marx com Hegel. “Que confusão! Quem é esse ilustre senhor? O quê?” O irmão de Eremias diria, anos depois, que ele passara a questionar a realidade brasileira ao ler a “Geopolítica da Fome”, de Josué de Castro. Isso quer dizer, vejo agora, que Eremias opunha questões mais substantivas às divagações metafísicas de um jovem na garoa paulistana. Naquela hora eu não via isso. Estava diante de mim um jovem a sorrir, que eu pensava estar a sorrir de mim, a zombar de uma pessoa que oferecia todos os motivos para a zombaria. Mas agora vejo diferente. Talvez a morte torne as pessoas mais virtuosas, mais razoáveis e transparentes à humanidade. Se não todas as mortes, pelo menos algumas dão um vulto a essas pessoas que antes não víamos. Eremias morreu como um herói, permitam-nos dizer. O aparelho onde estava caíra. O aparelho fora entregue por um outro jovem preso, que não suportara as torturas. Cercado por forças do Exército, Eremias sozinho resistiu. Resistiu à bala, sem nenhuma esperança. A distância nos permite dizer que ele, naquele tiroteio cerrado, chamava a atenção dos demais companheiros, que aquela casa havia sido denunciada. Que a casa não era mais segura, para ninguém. Outra hipótese que nos ocorre é a de ele saber que não havia mais saída, se caísse vivo. A saber, não haveria mais saída de continuar vivo, sem delatar, como ele próprio fora delatado. Mas não. A esperança é bêbada e louca. No meio da luta, ele poderia ter pensado, quem sabe? Eu sou mais esperto que a repressão, eu posso me entregar e sair vivo. E sair dali algemado, sob muitas porradas e pontapés e ferimentos, mas sair algemado. Talvez, na esperança, ele poderia ter gritado, “não atirem! Eu me entrego”. E ser igualmente morto, sob torturas, nos centros especializados do Exército. Mas até chegar a esse ponto, ele possuiria uma esperança. No entanto, no lugar de se render, há testemunhas disto, ele passou a atirar com a força e a inexperiência da sua juventude.  Então o mais provável é mesmo a hipótese heroica, a hipótese do sacrifício pessoal aos 18 anos, para que outros companheiros não caíssem, como ele, alvejado como um peixe jamais visto. Um peixe estranho, a flutuar com os cabelos encharcados, escurecidos do sangue coagulado, com os olhos fechados a flutuar no chão seco. Por enquanto, na Escola Técnica, não. Eremias me olha, provocativo, e me questiona, enquanto discorro sobre o mundo metafísico, das mônadas e dos valores espirituais. “E Graciliano Ramos, que me diz?” Ele me pergunta, um ano antes da sua morte. Então se funda a unidade entre nossas pessoas. Não tanto por Graciliano ser um nordestino. Muito menos por Graciliano ser um clássico, mas porque passamos a falar sobre uma base comum, sobre uma admiração comum, sobre uma identidade que parecia impossível entre um imigrante de Pernambuco e um paulistano da metrópole. Eu dizia há pouco que talvez a morte fizesse as pessoas mais humanas, à distância. E que talvez por isso eu acreditasse que Eremias não zombasse de mim àquela hora. Mas não, a minha certeza agora vem de fatos da sua vida, anteriores à sua morte. Em um perfil desenhado dele, o seu irmão afirma que Eremias passou a devorar os livros de Aluísio de Azevedo, de Jorge Amado e Graciliano Ramos. E que ele se impressionara vivamente com a poesia de Augusto dos Anjos. Ora, um jovem que lê tão cedo e ama tais autores está longe de rir e fazer chacota de um adolescente com uma camisa de algodão fino, no inverno paulistano. Ele próprio já é uma diferença rara, em meio a outros jovens, de blusão de couro, forrados com pelo de urso, que contam vantagem dos modelos importados de carros e das viagens aos países que jamais alcançaremos. Se Lombroso fracassou na sua investigação das pessoas a partir das características físicas, acredito que não fracassaremos nós em conhecer alguém pelas leituras e livros que ama. Então reconheço que Eremias já era grande antes do seu feito final. Mesmo que Eremias levantasse os braços e saísse gritando, “não me matem, eu me entrego!” Então ele seria uma coisinha estúpida a balançar sob os balanços nervosos numa câmara de tortura. Algo tão estúpido quanto. Vitoriosa, a Revolução de 1964 nos assegurou perspectivas mais nítidas de convivência e a tolerância com limites. Ela nos passa a silente mensagem de que, a qualquer tempo, atentos e preparados, estaremos prontos para a defesa da democracia. Ao fim e por fim, esses comunicados querem nos fazer crer, Eremias Delizoicov, que a nossa sorte então mudou. Um autêntico “Vesti Azul” de primeiro de abril. Se vivo estivesse, você diria que Simonal cantava isto em melhor prosa. Por isso eu digo, porque intensa é a cobrança da memória, e tão intensa é a cobrança que faz do dever um direito. E por isso, ao fim, não serei inútil, deixando passar em vão a hora deste direito.  Eremias Delizoicov, presente”.

Eremias foi assassinado em 16 de outubro de 1969, na rua Tocopi, 59, em Vila Cosmos, Rio de Janeiro, quando teria reagido ao cerco montado pelos agentes do DOI-CODI/RJ que tentavam prendê-lo. Sua casa foi cercada pela Polícia do Exército, comandada pelo então major Ênio de Albuquerque Lacerda.

Seu corpo entrou no IML/RJ pela guia 471, da 27ª DP, em 17 de outubro de 1969, como desconhecido. A necropsia foi feita pelos médicos Elias Freitas e Hygino de Carvalho Hércules, que confirmaram sua morte em tiroteio. Essa necropsia foi enviada ao tenente-coronel Ary Pereira de Carvalho, do I Exército (1ª DI), em 4 de novembro de 1969, respondendo ao ofício 164 IPM, de 21 de outubro de 1969, com o seguinte teor:

A fim de instruir autos do IPM de que sou encarregado pelo Exmo. Sr. Gen. Syseno Sarmento, Comandante do I Ex., solicito V. Sa. determinar o atendimento dos seguintes quesitos: termo de necropsia do cidadão José Araújo de Nóbrega, morto em ação policial-militar, ocorrida cerca das 11:00 horas do dia 16 do corrente, na Rua Tocopi, nº 59, Vila Cosmos/GB, comparecimento ao Hospital da Guarnição da Vila Militar de médicos legistas, a fim de procederem a exames de corpo de delito nos militares: major Ênio de Albuquerque Lacerda, Capitão Ailton Guimarães Jorge e Cabo Mário Antônio Povaleri [sic], feridos na mesma ação”.

O óbito foi lavrado em nome de José Araújo de Nóbrega, tendo o cadáver um reconhecimento forçado, feito pelo irmão de José Araújo, Francisco Araújo de Nóbrega, preso à época. Eremias foi enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, em 21 de outubro de 1969, na cova 59.262, quadra 45.

Na 87ª Audiência da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo realizada em 16 de outubro de 2013 foi lida uma carta de José Araújo de Nóbrega na qual ele narra que conheceu Eremias em março de 1969, momento no qual esse pertencia a um grupo de estudantes secundaristas do qual fazia parte, além de Eremias, Celso Lungaretti, Gerson Theodoro de Oliveira e Carlos Roberto Zanirato, sendo dada a incumbência a Nóbrega que formasse um Grupo de Combate (CG). Passado um período no qual ocorreu a prisão e a morte de Zanirato, o grupo foi deslocado para o Rio de Janeiro, sendo dada a tarefa da criação de um novo Grupo de Combate a José Araújo de Nóbrega. No Rio de Janeiro foram designados os companheiros Gerson Theodoro, Tereza Ângelo, Eremias Delizoicov e Sônia Lafoz para o grupo. Nóbrega, Eremias e Sônia Lafoz passaram a morar juntos numa casa alugada na Rua Toropi, nº 59, Vila Kosmos.

José Araújo de Nóbrega narrou ainda que em outubro de 1969 foi incumbido de cuidar da segurança de um congresso de coalizão da VPR com a Colina, e, retornando, a sua casa, viu um aparato militar, e, para escapar do cerco feito no bairro saiu dirigindo em alta velocidade, sendo perseguido, mas conseguiu escapar. À noite ouviu no noticiário a notícia de sua morte visto que os documentos pessoais que se encontravam na casa eram os seus e que Eremias possuía o mesmo porte físico, causando uma confusão em seu irmão, Francisco, que reconheceu o corpo de Eremias como sendo seu, e, dessa forma, Eremias foi enterrado com seu nome no Cemitério do Caju no Rio de Janeiro.

Os órgãos de repressão aparentemente pareciam confusos e não sabiam qual a verdadeira identidade daquele cadáver. No entanto, era pura encenação para, mais uma vez, cometerem o crime de ocultação de cadáver. De fato, as impressões digitais de Eremias Delizoicov já estavam confirmadas pelo datiloscopista da Delegacia de Crimes contra a Pessoa, de São Paulo, em 11 de dezembro de 1969, conforme comunicado 76/69 da Secretaria de Segurança Pública. Ou seja, ao enterrarem aquele cadáver, sabiam que era de Eremias Delizoicov.

A perícia registra que Eremias foi atingido por disparos de armas de fogo e apresentava ferimentos “lácero-contusos”, cuja procedência seria verificada na necropsia. Os legistas Elias Freitas e Hygino de Carvalho Hércules atestaram ferimento transfixante da cabeça com dilaceração do encéfalo e, para facilitar o trabalho, passaram a identificar os orifícios de forma agrupada. Ao todo, são descritas 19 lesões de entrada e 14 de saída de projéteis no corpo de Eremias. Citaram, ainda, pelo menos 29 disparos nas paredes da casa.

O relatório do Ministério da Aeronáutica, encaminhado ao ministro da Justiça Maurício Corrêa em 1993, afirma que foi “[...] morto em 16/outubro/69, em tiroteio com membros dos Órgãos de Segurança”. O relatório da Marinha atesta que ele “[...] morreu ao resistir ao cerco da Polícia do Exército, em Vila Cosmos/RJ”.

Somente em 1993, após ação judicial, a família conseguiu o atestado de óbito de Eremias, além da necropsia e 31 fotos de perícia de local (ICE 658/69).

O longo laudo de perícia de local encontrado no ICE/RJ, contendo dez páginas, descreve o desalinho em que se encontrava a casa onde Eremias foi morto, testemunhando uma verdadeira operação de guerra. Documento da Santa Casa de Misericórdia/RJ afirma que, em 25 de maio de 1975, os restos mortais de Eremias foram incinerados “como era de praxe”.

No Arquivo do DOPS/RJ consta documento do Cenimar de nº 189, de 23 de julho de 1970, que traz uma relação de militantes do Colina, VAR-Palmares e VPR e sua situação em 15 de junho de 1970, em que estão registrados os nomes de José Araújo Nóbrega como banido, e o de Eremias Delizoicov como morto.

A versão oficial sobre a morte de Eremias foi publicada no Diário da Noite, de 21 de outubro de 1969:

“Um morto e três feridos foi o saldo trágico de uma diligência feita pelas autoridades da PE da Vila Militar, no bairro da Vila Cosmos, na zona norte, visando deter um grupo de subversivos que se homiziava num “aparelho” descoberto pela polícia. Agentes da PE, comandados pelo major Lacerda, quando chegaram próximos ao “aparelho” jogaram uma granada dentro da casa, para obrigar os que lá estivessem a sair e se entregarem. Após a explosão, quando o comandante Lacerda entrou no imóvel, acompanhado do capitão Ailton Guimarães e do cabo Mário Antônio Polveroli, foram baleados. O major foi ferido na perna esquerda, o capitão na coxa esquerda e o cabo no braço esquerdo, com fratura exposta. O elemento, após ferir os militares, foi fuzilado e morto por agentes que participavam da diligência. O “aparelho” foi denunciado por um jovem de uns 20 anos presumíveis, que se encontra preso na Vila Militar e sua identidade está sendo mantida em sigilo”.

Segundo depoimento de Demétrio Delizoicov, irmão de Eremias, na Audiência da Comissão Estadual da Verdade em 16 de outubro de 2013, o jovem que teria denunciado o aparelho no qual Eremias vivia foi Carlos Minc.

Demétrio afirmou na Audiência que: “(...) tem uma história muito comprida para que a gente saiba disso. Essa história primeiramente foi obtida quando meus pais, nos anos de 1975 ou 1976, no calvário de melhor esclarecer a morte e desaparecimento, fizeram a trajetória toda de São Paulo até o Rio, onde o Eremias viveu. E localizaram, como está escrito em alguns dos documentos, localizaram a vizinha da casa onde o Eremias foi morto. Ela já não morava naquela casa, mas através de informações meus pais localizaram. E esse dado que haveria um jovem ensanguentado numa viatura, foi a primeira vez que nós soubemos, foi por essa informação da vizinha, que haveria alguém então que estaria apontando a casa. O que supusemos, um companheiro que, preso, sob tortura precisou fazer isso. Dez anos depois o Sargento Nóbrega já retorna do exílio e contata meus pais. Foi uma situação muito interessante, muito emocionante, boa parte disso que está escrito no depoimento ele relatou para meus pais. Essa história que ele teria levado meu irmão para ter um encontro com meu pai foi um encontro, mas um encontro que meu pai nunca soube, foi um encontro que na verdade foi simplesmente para meu irmão ver meu pai. (...) Um encontro para que meu irmão pudesse ver meu pai, na verdade não houve uma conversa entre eles. O Eremias já estava clandestino, ainda em São Paulo, já morando com o Nóbrega. Esse é o relato do Nóbrega, em 1985, quando procura minha família para relatar, enfim, a situação toda, e ele descreve isso, que esse episódio no qual ele se refere aqui, que o Eremias estava com muitas saudades e que então os dois, o Eremias deitado no carro, escondido, para ver meu pai. (...) [o encontro teria ocorrido] entre março, quando o Eremias se despede de casa e outubro, quer dizer, até a data da morte. Penso que isso deva ter ocorrido entre março e junho, porque em junho eu ainda encontrava com Eremias em São Paulo. (...) [ao ser questionado se o encontro teria ocorrido Demétrio respondeu] Nós não sabíamos, e o que o Nóbrega informa para meu pai é que ele levou o Eremias para ver meu pai, mas de longe, não houve encontro entre os dois. Pelo menos meu pai não relatou isso. (...) [o encontro] foi em São Paulo. Por esse motivo que, em 1985, no retorno do Nóbrega do exílio, da Europa, da Suécia, ele encontra meus pais, ele sabia o local por conta disso, a informação é que ele procura na lista telefônica, liga para o telefone e a pessoa com quem ele fala já não era mais, era outro parente que informou onde é que meus pais estavam morando. Então é um pouco essa história. A história toda do Nóbrega que reportei é exatamente para dar essa resposta. O Nóbrega informa naquela reunião que teve em 1985 com meus pais, eu estava presente, que a pessoa que teria informado o local teria sido o Carlos Minc. [Demétrio narra que ao questionar Carlos Minc sobre o tema ele respondeu] “Demétrio, aquele período nós fazíamos tantos erros que isso pode ter acontecido mesmo, mas não lembro o caso”. Ele não teve coragem de me relatar, eu compreendo isso”.

O jornal O Estado de S. Paulo, de 21 de outubro, publicou que o morto naquele tiroteio fora identificado como o sargento José de Araújo Nóbrega, militante da VPR, e que o corpo fora reconhecido por seu irmão no IML, levado ao reconhecimento após permanecer preso por 48 horas. Em 6 de fevereiro de 1970, o Diário da Noite publicou que o DOPS/SP esclarecera que o morto não era o sargento Nóbrega e sim Geremias Dezoiko [sic].

Na CEMDP, o caso levou mais de um ano para ser votado após o indeferimento apresentado pelo relator Paulo Gustavo Gonet Branco, em 18 de março de 1996, quando Suzana K. Lisbôa pediu vistas. A discussão que se estabeleceu fez com que, sob a orientação do presidente Miguel Reale Júnior, fosse feito o primeiro dos muitos pedidos de vistas que se sucederam nos trabalhos da Comissão.

Suzana K. Lisbôa apresentou seu relatório em 2 de outubro de 1997, do qual fez parte o parecer do perito Celso Nenevê. Luis Francisco Carvalho Filho, que não participara da primeira discussão, também pediu vistas e, em dezembro, o caso foi finalmente votado.

Paulo Gustavo Gonet Branco votou pelo indeferimento por considerar que as informações constantes dos autos levavam a crer que a morte de Eremias ocorrera em função de tiroteio com as forças de segurança. Reconheceu o ataque maciço e o emprego de potente material de destruição, mas concluiu não ser possível afirmar que a morte se dera quando os agentes dominavam, sem resistência, o local.

Suzana K. Lisbôa questionou se estariam realmente os órgãos de segurança confusos em relação à identidade do morto, conforme demonstram as muitas matérias divulgadas na imprensa, ressaltando parecer impossível que a diferença de mais de dez anos entre Eremias e o sargento Nóbrega não tenha sido notada pelos legistas que examinaram o corpo. E, ainda, que não tenham os órgãos de segurança providenciado a retificação dos registros de óbito e tampouco possibilitado que o corpo fosse entregue à família.

O parecer do perito Celso Nenevê, feito a pedido da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, analisa os laudos de perícia e de exame cadavérico comparando-os com as fotos. Nenevê identificou ferimentos não descritos no laudo, e se deteve na análise dos ferimentos lacerocontusos, já que, das 19 lesões produzidas por projéteis de arma de fogo, nada pôde afirmar quanto à reação vital, em virtude da qualidade e distância em que foram feitas as fotos. Os peritos descrevem 29 impactos de projéteis nos diversos cômodos da residência, mas estranhamente não verificaram ou não descreveram os disparos feitos do interior para o exterior. Ressalta que a posição do corpo, pela foto, não é compatível com sua posição de repouso final, nem tampouco é condizente com a mancha de sangue que aparece na parede. A descrição de tiros nas janelas e, até, o ponto de repouso final dos fragmentos de vidro oriundos desses tiros permitem concluir que ali não houve explosão capaz de causar as lesões descritas. Pelos documentos apresentados, portanto, não foi possível ao perito entender a dinâmica do ocorrido, pois, se a explosão que mutilou o cérebro e grande parte do corpo de Eremias não ocorreu na casa, mas teria lhe causado morte cerebral, isso o impossibilitaria de efetuar qualquer disparo. O perito concluiu que:

A vítima apresenta contusões profundas com rupturas de órgãos, dilacerações do tecido muscular e fragmentação de tecidos ósseos, em diversas regiões anatômicas do corpo, com características daquelas produzidas por onda de choque, oriunda da detonação de artefato explosivo.

Dada a ausência de fragmentos do invólucro, ou de outros elementos componentes deste artefato, no interior do cômodo ou da residência, ou ainda no interior do corpo, é indicativo que o artefato que gerou as lesões com sua explosão não seja do tipo fragmentável, salientando-se que as granadas, quer do tipo ofensiva ou defensiva, salvo melhor juízo, iriam gerar fragmentação.

Pelo descrito, e pelo que pode ser observado nas fotografias do local, a residência em apreço não porta características que em seu interior tenha ocorrido uma explosão, uma vez não ter sido verificado o quebramento das vidraças, ausência da descrição de um epicentro desta explosão no local, ou danos no piso, paredes ou demais estruturas, bem como a presença de fragmentos de terra no interior do pescoço da vítima, muito provavelmente levados pela onda de choque, sendo que terra é um elemento que não é comum no interior de uma residência.

Dada a grande intensidade das lesões que experimentou a vítima em função da onda de choque, é praticamente certo o estado de, no mínimo, morte cerebral da vítima, o que, após as suas produções, imped[ira]m que ele apresentasse condições de ataque, defesa ou fuga. Isto posto, e em tendo acontecido as lesões pela onda de choque em primeiro lugar, as quais mutilaram o cérebro e grande parte do corpo, seria praticamente impossível que ele tivesse efetuado algum disparo, [... e, conclui,] onde estas lesões se produziram já que a residência não foi este local, e ainda como foi ter naquele local após a explosão, estes são questionamentos que não puderam ser esclarecidos pela falta de elementos materiais no caso”.

Apontando a falsidade da versão oficial, a conselheira Suzana K. Lisbôa respondeu ao questionamento feito por Paulo Gustavo Gonet Branco, ressaltando que, segundo a perícia, teriam sido disparados três tiros da arma encontrada junto a Eremias, e foram três os policiais feridos. Pergunta a conselheira: teria Eremias, com cada um dos tiros, cercado, sob cerrado tiroteio, granada detonada na casa, conseguido a extrema proeza de acertar os policiais, um na perna esquerda, outro na coxa esquerda e outro no braço esquerdo? E mesmo que tivesse Eremias, mais do que exímio atirador, acertado os três policiais, o que examina a CEMDP são as circunstâncias da morte dos militantes. “A violência extrema que se evidencia nas fotos e no laudo falam por si”, concluiu ao pedir a aprovação do requerimento.

O conselheiro Luís Francisco Carvalho Filho acompanhou o voto de Suzana K. Lisbôa, ressaltando as evidências demonstradas pelo laudo de Nenevê e que, “[...] mesmo admitindo, em tese, que o militante resistira armado ao cerco da polícia política, a prova dos autos aponta para uma execução, não para a imobilização e detenção do infrator, como autoriza e autorizava a lei em vigor”. Destacou que a versão oficial não merece credibilidade, pois os fatos não aconteceram como relatados pelas autoridades militares. Agregou que “[...] a prova material indica intenção nítida de eliminar, não de dominar e conter, ainda que em virtude da alegada reação da vítima, capaz de atingir três agentes. O excesso é inquestionável e injustificável”.

O caso foi finalmente deferido em 2 de dezembro de 1997, por 4 votos a favor e 2 contra, os do relator Paulo Gustavo Gonet Branco e o do general Oswaldo Pereira Gomes.

Os familiares de Eremias, ao receberem a indenização, doaram o valor para a criação do site www.desaparecidospoliticos.org.br, organizado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. A comissão passou a denominar o acervo custodiado de Centro de Documentação Eremias Delizoicov.

Seus companheiros da VPR homenagearam-no dando seu nome a um dos campos de treinamento de guerrilha, no Vale do Ribeira (SP).

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo realizou a 87ª audiência pública sobre o caso realizada no dia 16 de outubro de 2013 na Assembleia Legislativa e no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo. (ver transcrições em anexo)

Fontes investigadas:

Conclusões da CEMDP (Direito à Memória e à Verdade); Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE. Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 87ª audiência pública sobre o caso de Eremias Delizoicov, realizada no dia 16/10/2013 (duas audiências, uma na Assembleia Legislativa e outra no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo).

 

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

 

Órgão / Período

Nome

Função

conduta

Vivo/data do óbito

Observações

DOI-Codi do I Exército - RJ

Ênio de Albuquerque Lacerda

Major

Assassinato, ocultação de cadáver

morto

Dossiê, p. 157

ICE/RJ

Elias Freitas

Médico legista

Falsificação de laudo necroscópico

 

Dossiê, p. 157

ICE/RJ

Hygino de Carvalho Hércules

Médico legista

Falsificação de laudo necroscópico

 

Dossiê, p. 157

DOI-Codi do I Exército – RJ

Ary Pereira de Carvalho

Tenente-coronel

Ocultação de cadáver

 

Dossiê, p. 157

DOI-Codi do I Exército - RJ

Syseno Sarmento

General

Ocultação de cadáver

Morto

Comandante do DOI-Codi do I Exército. Informação do Dossiê, p. 157

DOI-Codi do I Exército - RJ

Ailton Guimarães Jorge

Capitão

Captura, assassinato, ocultação de cadáver

Vivo

Dossiê, p 157

DOI-Codi do I Exército - RJ

Mario Antonio Poverolli

Cabo

Captura, assassinato, ocultação de cadáver

Vivo

Dossiê, p. 157

           

DOCUMENTOS CONSULTADOS

  1. Documentação principal

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observações

Anexo

Foto vivo

   

002-foto-vivo.pdf

Dossiê para a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos

 

Documento encaminhado à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos por Jorge Delizoicov e Liubov Gradinar Delizoicov em 17/02/1996

003-dossie-cemdp.pdf

004-dossie-cemdp.pdf

Breve biografia de Eremias Delizoicov

 

Escrita pelo seu irmão Demétrio Delizoicov Neto

003-dossie-cemdp.pdf (páginas 65-70)

87ª Audiência da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo

 

Realizada no dia 16/10/2013 no Auditório Paulo Kobayashi na Assembleia Legislativa

Audiencia-da-Comissao-da-Verdade n87.pdf

87ª Audiência da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo

 

Realizada no dia 16/10/2013 no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo

Audiencia-da-Comissao-da-Verdade -IF-SP.pdf

Documentação de Eremias Delizoicov

 

Arquivo da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos – IEVE

005-documentacao-arquivo-ieve.pdf

       

 

2. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

Documento

Fonte

Observação

Anexo

Fotos de Eremias morto

   

001-foto-morto.pdf

Certidão de óbito em nome de José Araujo de Nóbrega

 

A certidão de óbito de Eremias  foi lavrada falsamente em nome de José Araujo de Nóbrega cujo declarante foi Antonio Rubens Bastos – segundo o documento Eremias teria falecido em 16/10/1969 na Rua Jacopi, nº 59 no Rio de Janeiro. O atestado de óbito foi firmado por Elias Freitas e a causa da morte teria sido ferimento transfixante da cabeça com dilaceração do encéfalo.  

003-dossie-cemdp.pdf (p. 10)

Certidão de óbito retificada de Eremias Delizoicov

 

No ano de 1993 a família de Eremias conseguiu a retificação de sua certidão de óbito para constar o nome correto do falecido

003-dossie-cemdp.pdf (p. 71 e 72)

Ofício do Cemitério de São Francisco Xavier (RJ)

 

No livro de óbitos nº 452, fls. 139 consta o sepultamento no dia 21/10/1969 na sepultura rasa nº 59.262 da quadra 45 do Cemitério de José Araujo da Nóbrega cujo funeral foi pago pelo termo nº 4874 por Francisco Araujo Nóbrega.

Consta no documento também que em 21/10/1974 expirou-se o prazo legal de vigência (5 anos) sem que os familiares fossem ao cemitério para as devidas providências, e que o corpo foi mantido sepultado na mesma rasa até 22/05/1975, sendo  que após esse prazo os despojos foram exumados e recolhidos ao ossário geral e incinerados.   

003-dossie-cemdp.pdf (p. 13)

Laudo necroscópico em nome de José Araujo de Nóbrega

 

O laudo foi firmado pelos médicos legistas Elias Freitas e Hygino de Carvalho Hércules (mas há uma informação de que foi necropsiado em 17/10/1969 pelos dois médicos legistas citados e pelo médico José Alves de Assumpção Menezes)

003-dossie-cemdp.pdf (p. 60-63)

       


3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

Nome

Relação com o morto / desaparecido

Informação

Fonte

José Araújo de Nóbrega

Ex-militante político da VPR

Narra que teria visto o cerco policial no aparelho no qual morava com Eremias.

Carta lida na 87ª Audiência da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo

       

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

       

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Eremias Delizoicov é considerado desaparecido político, por não ter sido entregue os restos mortais aos seus familiares, não permitindo o seu sepultamento até os dias de hoje. Conforme o exposto no parágrafo 103 da Sentença da Corte Interamericana no Caso Gomes Lund e outros: “adicionalmente, no Direito Internacional, a jurisprudência deste Tribunal foi precursora da consolidação de uma perspectiva abrangente da gravidade e do caráter continuado ou permanente da figura do desaparecimento forçado de pessoas, na qual o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subseqüente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade (...)”.

No parágrafo 110 do mesmo documento é mencionado que: “(...) pode-se concluir que os atos que constituem o desaparecimento forçado têm caráter permanente e que suas conseqüências acarretam uma pluriofensividade aos direitos das pessoas reconhecidos na Convenção Americana, enquanto não se conheça o paradeiro da vítima ou se encontrem seus restos, motivo pelo qual os Estados têm o dever correlato de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis, conforme as obrigações decorrentes da Convenção Americana”.  (Sentença da Corte Interamericana, p. 38 e 41, publicação da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo).

Recomendações: Retificação do atestado de óbito; responsabilização dos agentes públicos citados nesse relatório e demais envolvidos; que o Estado brasileiro reconheça e declare a condição de anistiado político de Eremias Delizoicov, pedindo oficialmente perdão pelos atos de exceção e violações de direitos humanos que foram praticados contra esse desaparecido político.

 

 

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