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INICIAL DO NOME:

JUAN ANTONIO CARRASCO FORRASTAL

OCORRÊNCIA

morte em 28 de outubro de 1972

DADOS PESSOAIS
Filiação: Olga Forrastal de Carrasco e Antônio Carrasco de Bustillo
Data e local de nascimento: 30/01/1945, La Paz (Bolívia)
Profissão: Estudante
Atuação política: não definida
Data e local da morte/desaparecimento: morte em 28 de outubro de 1972
Organização política: Nenhuma / Não consta.

RELATO DO CASO

Nascido em La Paz, Bolívia, Juan Antonio chegou ao Brasil, junto ao irmão Jorge Forrastal, com o objetivo de se tornar físico, financiado com bolsa de estudos concedida pela embaixada do Brasil na Bolívia e tratar da hemofilia. Alguns anos depois deixaria o país com graves e irreversíveis sequelas físicas e psicológicas, depois de ser seviciado nas dependências do II Exército e no Quartel de Quintaúna em Osasco, em 1968. Tentou tirar a própria vida cortando os pulsos e, alguns meses depois suicidou-se no Hospital da Cruz Vermelha de Madri, em 1972.

 

A saga dos irmãos Forrastal começou quando Jorge, residente do Conjunto Residencial da USP, foi preso durante a invasão do CRUSP em 1968. Após a publicação do AI-5, o CRUSP foi ocupado pelo Exército, Aeronáutica e Força Pública em 17 de dezembro de 1968. Na ocasião, Jorge estava entre os cerca de 800 estudantes detidos.

 

Ao saber da prisão do irmão, Juan Antonio segue ao II Exército à sua procura e também acaba preso. Na prisão, arrancaram-lhe a bengala e a perna mecânica e, por ser hemofílico, os golpes sofridos lhe causaram derrames pelo corpo inteiro.

 

Quando souberam do paradeiro dos filhos, os pais, Olga e Antonio Carrasco, que residiam no Brasil, solicitam auxílio ao consulado boliviano. Alegando que Juan corria risco de vida, devido à saúde debilitada, o cônsul boliviano em São Paulo, Alberto Del Caprio, conseguiu que o jovem fosse removido para o Hospital das Clínicas por um curto período, mas ele logo voltou para a guarda do exército, no Hospital Militar do Cambuci. Mesmo internado e debilitado, Juan continua a sofrer tortura psicológica. Tiros disparados na madrugada e ameaça à vida dos pais faziam parte da rotina.

 

Transferidos para o Quartel de Quintaúna, os irmãos teriam sido estuprados e torturados, sob as ordens do Coronel Albin. Libertados poucos dias antes do início do ano letivo de 1969, os irmãos retornam para a casa. Depois desses episódios, Jorge conseguiu continuar os estudos e formou-se em engenharia, passando a trabalhar em Curitiba. Um ano depois, morreu em um acidente automobilístico.

 

Abalado com a prisão, o abandono dos estudos, as torturas e a morte do irmão, Juan sofre com sucessivas crises e internações. Em depoimento à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) a amiga da família, Mary Deheza Balderrama, relata: “Não era mais o mesmo. O moço alegre, otimista e confiante, cedera lugar a outro com graves alterações psíquicas, amedrontado com tudo, não podia ver um militar. Mesmo faltando apenas um ano para terminar o curso de Física Nuclear, não queria mais voltar às aulas nem lecionar conforme fazia antes”. Nesse período tenta suicidar-se ao menos duas vezes. Seus pais o levaram para casa, mas como não apresentava melhora, foi internado no Hospital Psiquiátrico da Vila Mariana.

 

Depois de ser internado novamente, desta no Hospital das Clínicas de São Paulo, a família o levou para Espanha, na tentativa de recuperá-lo. No dia 28 de outubro de 1972, depois de 12 dias internado no Hospital da Cruz Vermelha em Madri, entrou em delírio e, num momento em que a mãe estava na sala de visitantes, ficou sozinho e desligou todos os aparelhos que o mantinha vivo.

Inicialmente, o pedido de reconhecimento do caso de Juan como vítima da ditadura militar ingressou na Comissão, mas nem sequer chegou a ser protocolado, tendo a família sido informada de que a morte por suicídio no exterior, mesmo que resultado de seqüelas de tortura, não se enquadrava na Lei nº 9.140/95. Com a ampliação do benefício por meio da Lei nº 10.085, em 2004, os pais solicitaram nova avaliação, sendo então o processo protocolado e deferido por unanimidade em sessão do dia 16/2/2006.

 

Fontes investigadas:

 

Conclusões da CEMDP; Projeto Brasil Nunca Mais Digital; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE. Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 72ª Audiência Pública da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva em 12 de agosto de 2013 em homenagem à Antonio Benetazzo e Juan Antonio Forrastal; “Torturas do exército levaram aluno Juan Forrastal ao suicídio.” Sansão, Luiza. Revista Adusp. Outubro/ 2012.

 

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

Órgão / Período

Nome

Função

conduta

Vivo/data do óbito

Observações

     

 

      II Exército-SP

 

 

Sebastião Alvim

 

Coronel de Artilharia do Exército

Presidiu o IPM CRUSP (1968-1969)

 

 

Coronel Alvim é acusado de ser um dos principais responsáveis pelas torturas conduzidas no navio-prisão Raul Soares em Santos/SP. Informação da 72º audiência Pública da CVRP.

 

DOCUMENTOS CONSULTADOS

  1. Documentação principal

 

 

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observações

Anexo

Pedido de reconhecimento e indenização junto à comissão de ex-presos políticos da secretaria de justiça e cidadania do estado de São Paulo

 

Pedido efetuado pela mãe de Juan Antonio, Olga Forrastal.

001-Comissao-indenizacao-SP.pdf e 001-Comissao-indenizacao-SP-2.pdf

Inquérito Policial Militar (IPM) CRUSP – 1968-1969

II Exército

Não há menções à prisão de Jorge Forrastal, detido na operação.

002-IPM-CRUSP.pdf

Artigo acadêmico sobre a morte de Juan Antonio Forrastal

 

“Torturas do exército levaram aluno Juan Forrastal ao suicídio.” Sansão, Luiza. Revista Adusp. Outubro/ 2012

003-artigoLuizaSansao.pdf

 

 

 

2. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

 

Documento

Fonte

Observação

Anexo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

 

 

Nome

Relação com o morto / desaparecido

Informação

Fonte

Mary Deheza Balderrama

Amiga da família Forrastal

Testemunha o quadro depressivo de Juan depois das prisões e torturas

Depoimento à CEMDP; Caso 167/04

 

 

 

 

 

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

 

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

 

 

 

 

 

 

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Juan Antonio Forrastal suicidou-se em decorrência dos graves danos físicos e psicológicos causados pelas sessões de tortura no Brasil. Há a necessidade de reconhecer todos os envolvidos na detenção e nas sevícias cometidas contra Juan Antonio.

Recomendações: Que o Estado brasileiro reconheça e declare a condição de anistiado político de José Lavecchia, pedindo oficialmente perdão pelos atos de exceção e violações de direitos humanos que foram praticados contra esse desaparecido político.

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