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INICIAL DO NOME:

SUELY YUMIKO KANAYAMA

OCORRÊNCIA

Setembro de 1974 no Araguaia

DADOS PESSOAIS
Filiação: Yutaka Kanayama e Emi Noguchi
Data e local de nascimento: 25 de maio de 1948, em Coronel Macedo (SP)
Profissão: Estudante
Atuação política: Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento B das Forças Guerrilheiras do Araguaia.
Data e local da morte/desaparecimento: Setembro de 1974 no Araguaia
Organização política: Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

RELATO DO CASO

Era a primeira filha de um casal de imigrantes japoneses. Com 4 anos de idade, mudou-se com a família para Avaré (SP). Em 1965, vieram para a capital paulista residir no bairro de Santo Amaro.

Suely terminou o colegial na Escola Alberto Levy em 1967. Em seguida, ingressou na Universidade de São Paulo, sendo aprovada no vestibular para licenciatura em língua portuguesa e germânica. Durante o período de 1967 a 1969 fez curso de língua japonesa como cadeira opcional.

Na USP, tornou-se amiga de Rioko Kaiano e, juntas, ingressaram na Ação Popular (AP). Mais tarde, outra nikkei, Nair Kobashi, as convidou para militarem no PCdoB. Passaram, então, a serem chamadas de o “exército japonês”.

Em fins de 1967, e nos anos que se seguiram, as principais lideranças estudantis foram perseguidas e passaram a viver na clandestinidade ou no exterior, e novas lideranças surgiram. Suely foi uma delas. Matriculou-se pela última vez na USP em 1970, porém para continuar a luta política ingressou na militância política clandestina.

Chegou à região próxima do rio Araguaia, no Sudeste do Pará, em fins de 1971, sendo uma das últimas a integrar-se ao destacamento B.

De acordo com a reportagem publicada no Diário Nippak, de 28 de julho de 1979, no artigo “Yumiko, a Nissei Guerrilheira”, Suely foi morta com rajadas de metralhadoras disparadas por diversos militares, deixando seu corpo irreconhecível. Foi enterrada em Xambioá (TO) e seus restos mortais foram, posteriormente, exumados por estranhos. E acrescenta:

Além desses dados, pouco se sabe de sua vida, uma vez que até mesmo seus familiares, inclusive seu irmão, localizado por nós, recusam-se a lembrar e falar dela, e mesmo seus pais já não se encontram mais em São Paulo.

Tudo o que se referia a Suely Yumiko parece ter sido apagado, nem mesmo seus documentos na faculdade se pode encontrar, além dos pedidos de matrículas e que era portadora de identidade RG - 4.134.859, mas o espaço para a fotografia está em branco.

Em outro trecho do mesmo jornal, lê-se:

“José Genoino Neto, […] contava-nos […] que, conversando com a sua mãe, a senhora Emi, que reside no Sul do país, disse que ouviu um emocionante depoimento. Ao relatar toda a história da guerrilha do Araguaia e finalmente tomar conhecimento do que realmente a sua filha Yumiko acreditava, ela diria que “estava muito feliz em saber destas coisas”. Apesar de toda a sua dor, concluiu que “estava aliviada e contente por saber que ela tinha morrido feliz, pelo que sempre acreditou”.

Suely Yumiko 4 anos após a morte tinha sido compreendida, senão pela família toda, pelo menos pela sua própria mãe, que, apesar de não ter recebido quase nenhuma notícia de sua filha desde o início de 1971 – somente boatos de que sua filha teria se tornado prostituta –, guardava a confiança até aquele momento do encontro com Genoino Neto”.

Consta a seguinte citação a seu respeito no Relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo que escapou do cerco militar à região da guerrilha em 1974:

“[Suely] havia saído [junto com José Maurílio Patrício] antes do dia 25/12/73, para buscar Cilon [da Cunha Brum] e José Lima Piauhy Dourado. Deveriam retornar dia 28/12 ao local onde houve o tiroteio do dia 25/12.

Desde o relatado, não foram mais vistos”.

Sobre a ocultação do cadáver de Suely, o coronel da Aeronáutica Pedro Cabral afirmou em entrevista à revista Veja, em 13 de outubro de 1993:

“Suely havia sido morta no final de 1974. Seu corpo estava enterrado num local chamado Bacaba, onde, sob a coordenação do Centro de Informações do Exército – CIE foram construídas celas e se interrogavam os prisioneiros. Durante a operação limpeza, sua cova foi aberta e o corpo de Suely desenterrado. Intacto, sem roupa, a pele muito branca não apresentava nenhum sinal de decomposição, apenas marcas de bala […]. Desenterrado, o corpo de Suely foi colocado num saco plástico e levado até meu helicóptero que o transportou para um ponto ao sul da Serra das Andorinhas, a 100 km de distância. Ali […] fizeram uma pilha de cadáveres […] também desenterrados de suas covas originais. Cobertos com pneus velhos e gasolina, foram incendiados”.

O brasilianista Jeffrey Lesser, no livro Uma Diáspora Descontente, escreveu o seguinte relato:

“A “luta até a morte”, semelhante a de um kamikaze, também foi importante para Célia Abe Oi, jornalista da Página Um e hoje diretora do Museu da Imigração Japonesa de São Paulo. Ela me disse: “Yumiko foi uma heroína para nós”. Quando lhe perguntei o que ela queria dizer com isso, ela explicou que Kamayana representava o “caminho do

samurai”, que significa levar algo até seu limite máximo, e também que ela era uma pessoa com um senso de brasilidade forte ao ponto de torná-la disposta a dar a vida por seu país”.

Em artigo assinado por Vasconcelos Quadros intitulado “Memorial Araguaia”, (edição No Mínimo 20/01/2005), temos:

“’Jonas’ conta ter convivido na base militar de Xambioá com outros dois guerrilheiros que estão desaparecidos. Um deles foi Cilon da Cunha Brum, conhecido por ‘Comprido’ ou ‘Simão’, natural de São Sepé, no Rio Grande do Sul, ex-estudante de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, preso e desaparecido desde o Natal de 1973. Suely Yumiko Kamayama, a ‘Chica’, paulista de Coronel Macedo, ex-estudante de Licenciatura em Língua Portuguesa e Germânica da Universidade de São Paulo, também faz parte das memórias de ‘Jonas’. A versão dele, de que teria visto ‘Chica’ na prisão, contraria outros relatos. No livro ‘Dos filhos deste solo’, de autoria do secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e do jornalista Carlos Tibúrcio, consta que ela foi cercada por uma tropa militar no início de 1974 e metralhada por resistir à rendição. Seu corpo teria sido perfurado por cerca de 100 tiros.”

O relatório do Ministério da Aeronáutica entregue ao ministro da Justiça Maurício Corrêa, em 1993, afirma que “[…] cercada pelas forças de segurança, foi morta ao recusar sua rendição”.

O relatório do Ministério da Marinha, de mesma data, afirma que “[…] foi morta em setembro de 1974”.

No Relatório Parcial da Investigação sobre a Guerrilha do Araguaia – Ministério Público Federal – janeiro de 2002, temos: “Sueli Yomiko Kanayama (referida pelo depoente como uma ‘japonezinha’) foi enterrada na cabeceira da pista de pouso da Bacaba”.

Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pela desaparição de 62 pessoas na região do Araguaia no caso Gomes Lund e Outros (“Guerrilha do Araguaia”) VS. Brasil, dentre elas está Suely. A sentença obriga o Estado Brasileiro a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas.

Seu nome consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I da lei 9.140/95. Na CEMDP, o caso de Suely foi protocolado com o número 126/96.

Em sua homenagem, a cidade de Campinas (SP) deu seu nome a uma rua localizada no bairro Residencial Cosmo.

Fontes investigadas:

Conclusões da CEMDP; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE; Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 18ª audiência pública sobre os casos das mulheres paulistas desaparecidas no Araguaia, Helenira Resende de Souza Nazareth, Luiza Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama, realizada no dia 07/03/2013; livro Operação Araguaia: os arquivos secretos da Guerrilha. 5ª edição Taís Morais e Eumano Silva, 2012, São Paulo: Geração Editorial.; livro “Mata! O major Curió e as Guerrilhas no Araguaia” / Leonencio Nossa – 1º edição – São Paulo: Companhia das letras, 2012.

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

Órgão / Período

Nome

Função

conduta

Vivo/data do óbito

Observações

PRESIDENCIA DA REPUBLICA FEDERATICA DO BRASIL 1974-1979

ERNESTO GEISEL

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Responsável pela adoção de uma política de extermínio das Forças Guerrilheiras do Araguaia

Morto

“Antes de tomar posse, em 16 de fevereiro de 1974, [Ernesto] Geisel chamou o general Dale Coutinho para uma conversa. Velhos amigos, falaram de política e de combate à subversão. O jornalista Elio Gaspari, em A Ditadura Derrotada, reproduz o dialogo: “Ah, o negocio melhorou muito. Agora, melhorou, aqui entre nós, foi quando nós começamos a matar. Começamos a matar” - afirmou Coutinho. “Porque antigamente você prendia o sujeito e o sujeito ia lá pra fora (…) Ô Coutinho, esse troço de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser”, respondeu Geisel. […] Ao concordar com o método de eliminação de adversário sugerido pelo general, o futuro presidente autorizou a linha-dura a continuar o extermínio. No mesmo encontro, Geisel convida Dale Coutinho para substituir o irmão Orlando no Ministério do Exército.” Informação consta no livro Operação Araguaia: os arquivos secretos da Guerrilha. 5ª edição Taís Morais e Eumano Silva, 2012, São Paulo: Geração Editorial. (p. 492)

CENTRO DE INFORMAÇÃO DO EXÉRCITO (CIE)

Pedro Corrêa Cabral

Coronel da Aeronáutica

Ocultação de cadáver

 

Informação Revista Veja de 13 de outubro de 1993.

CENTRO DE INFORMAÇÃO DO EXÉRCITO (CIE) 1969-1974

Milton Tavares de Souza

General e diretor do Centro de

Informações do Exército

Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia

Morto

“Miltinho era o general Milton Tavares de Souza, também conhecido como “Caveirinha”. Foi diretor do Centro de

Informações do Exército enquanto Orlando Geisel era Ministro do Exército, durante o governo Médici. Nessa função, foi

responsável pela política de eliminação física dos inimigos do regime. Foi ainda responsável em 1969 pela organização

dos DOI-CODI em todo o Brasil e das operações Bandeirantes e Marajoara, que prepararam o terreno para os

desmantelamento da Guerrilha do Araguaia” Informação consta no depoimento dado pelo coronel do Exército Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014 (p. 54).

Gabinete Militar 1974-1979

Hugo de Andrade Abreu

Chefe Gabinete militar de 1974-1979 e Comandante da Brigada Pára-Quedista

Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia

Morto

“A reunião, confirmada pelo coronel Sebastião “Curió” Rodrigues, do Centro de Informações do Exército (CIE), mudou a postura do governo. A partir do final de 1973, não restariam mais sobreviventes nas guerrilhas. Transferido para a direção da Polícia Federal, Bandeira foi substituído no Araguaia pelo general Hugo Abreu, da Brigada de Pára-quedistas. O general Milton Tavares, chefe do CIE, comandava as ações de extermínio. A missão ficou dividida entre os três ministros militares e a orientação era não deixar rastros. O CIE encarregou-se do Araguaia e dos militantes caçados pelos órgãos de repressão do Cone Sul. Com Geisel no poder (1974-1979), um grupo do DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo deveria exterminar os sobreviventes do PCdoB e o Comitê Central do PCB.” Informação consta na matéria “A Ordem é matar” da Revista ISTOÉ de 24/03/2004

CENTRO DE INFORMAÇÃO DO EXÉRCITO (CIE)

SEBASTIÃO RODRIGUES DE MOURA –“MAJOR CURIÓ”

Tenente-coronel do Exército

Tortura

Vivo

“O mateiro José Veloso, que teve um filho batizado por Curió, lembra que estava numa patrulha na mata quando passou por outra, de Ringo- um militar magro, ruivo, com mais de quarenta anos- e Toyota- baixo, forte, mais novo. Os dois estavam com Chica, a franzina descendente de japoneses. A guerrilheira pediu para fazer necessidades. Ringo permitiu: ‘Se correr, eu te mato’, ‘Mata logo, desgraçado. Não tem de matar?’. Chica estava sem um dedo. Quando o perdeu, a Comissão Militar da guerrilheira fez um elogio a ela por ato de bravura, com direito a um destacamento perfilado. Presa pelos militares, foi levada para Bacaba. O sargento João Santa Cruz relatou que a guerrilheira foi interrogada na base e depois recebeu injeção letã. É certo que ela foi torturada. Curió participou de um interrogatório de Chica na base.” Informação no livro “Mata! O major Curió e as Guerrilhas no Araguaia” (p. 204-205)

COMANDO MILITAR DO PLANALTO

OLAVO VIANNA MOOG

General e Comandante do Comando Militar do Planalto

Utilização de bombas napalm contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia

Vivo

Informação no relatório “Araguaia I” produzido por Cláudio Fonteles para a Comissão Nacional da Verdade (p.8)

 

  1. DOCUMENTOS CONSULTADOS

 

  1. Documentação principal

 

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observações

Anexo

Dossiê para Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)

 

Documento encaminhado à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos por Orlando Tetsuo Kanayama, irmão de Suely Yumiko Kanayama, no dia 05/02/1996.

001-dossie_cemdp.pdf

Certidão de óbito

 

Declarante Orlando Tetsuo Kanayama em 11/01/1996. Registro de óbito segundo a Lei 9140, de 04/12/1995 “que deu como causa da morte: reconhecida como morta pessoas desaparecidas em razão da participação atividades políticas”

001-dossie_cemdp.pdf (p. 2)

Relatórios dos Ministérios Militares entregues ao deputado federal Nilmário Miranda, presidente da Comissão de Representação Externa da Câmara, em 1993

 

Relatório afirma que Suely Yumiko Kanayama está “desaparecida na região do Araguaia”

002-relatorio_ministerios_militares.pdf

Depoimento de Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014

Centro de Inteligência do Exército (CIE)

Coronel do Exército e agente do Centro de Inteligência do Exército (CIE) afirma a responsabilidade do general Milton Tavares de Souza na política de eliminação física dos inimigos do regime

003- depoimento_paulo_malhaes.pdf (p.54)

Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 18ª audiência pública sobre os casos das mulheres paulistas desaparecidas no Araguaia, Helenira Resende de Souza Nazareth, Luiza Augusta Garlippe, Maria Lucia Petit da Silva, Suely Yumiko Kanayama, realizada no dia 07/03/2013.

 

 

004-audiencia_publica_comissao_estadual_sp.pdf

Comissão Nacional da Verdade

 

Cadeia de Comando Guerrilha do Araguaia

005-cadeia_comando_araguaia.pdf

 

 

  1. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

 

 

Documento

Fonte

Observação

Anexo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

 

Nome

Relação com o morto / desaparecido

Informação

Fonte

ÂNGELO ARROYO

Dirigente do Partido Comunista do Brasil

“[Suely] havia saído [junto com José Maurílio Patrício] antes do dia 25/12/73, para buscar Cilon [da Cunha Brum] e José Lima Piauhy Dourado. Deveriam retornar dia 28/12 ao local onde houve o tiroteio do dia 25/12.”

 

Relatório Arroyo (1974)

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

 

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

Pedro Corrêa Cabral

Centro de Informações do Exército/ Coronel da Aeronáutica

“Suely havia sido morta no final de 1974. Seu corpo estava enterrado num local chamado Bacaba, onde, sob a coordenação do Centro de Informações do Exército – CIE foram construídas celas e se interrogavam os prisioneiros. Durante a operação limpeza, sua cova foi aberta e o corpo de Suely desenterrado. Intacto, sem roupa, a pele muito branca não apresentava nenhum sinal de decomposição, apenas marcas de bala […]. Desenterrado, o corpo de Suely foi colocado num saco plástico e levado até meu helicóptero que o transportou para um ponto ao sul da Serra das Andorinhas, a 100 km de distância. Ali […] fizeram uma pilha de cadáveres […] também desenterrados de suas covas originais. Cobertos com pneus velhos e gasolina, foram incendiados.”

 

Informação Revista Veja de 13 de outubro de 1993.

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Suely Yumiko Kanayama é considerada desaparecida política, por não ter sido entregue os restos mortais aos seus familiares, não permitindo o seu sepultamento até os dias de hoje. Conforme o exposto no parágrafo 103 da Sentença da Corte Interamericana no Caso Gomes Lund e outros: “adicionalmente, no Direito Internacional, a jurisprudência deste Tribunal foi precursora da consolidação de uma perspectiva abrangente da gravidade e do caráter continuado ou permanente da figura do desaparecimento forçado de pessoas, na qual o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subseqüente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade (...)”.

No parágrafo 110 do mesmo documento é mencionado que: “(...) pode-se concluir que os atos que constituem o desaparecimento forçado têm caráter permanente e que suas consequências acarretam uma pluriofensividade aos direitos das pessoas reconhecidos na Convenção Americana, enquanto não se conheça o paradeiro da vítima ou se encontrem seus restos, motivo pelo qual os Estados têm o dever correlato de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis, conforme as obrigações decorrentes da Convenção Americana”.  (Sentença da Corte Interamericana, p. 38 e 41, publicação da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo).

Recomendações: Investigação das circunstâncias da prisão, morte e desaparecimento de Suely Yumiko Kanayama; localização dos seus restos mortais e responsabilização dos agentes da repressão envolvidos no caso, conforme sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o Estado Brasileiro “a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas”; Retificação e indicação da causa mortis no atestado de óbito; que o Brasil realize um ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional e de pedido oficial de desculpas pelas graves violações de direitos humanos perpetradas contra as vítimas do presente caso, especificamente, pela denegação de justiça, como regulamenta o parágrafo 275 da Sentença da Corte Interamericana.

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