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INICIAL DO NOME:

PEDRO ALEXANDRINO OLIVEIRA FILHO

OCORRÊNCIA

Desaparecido em 4 de agosto de 1974 no Araguaia

DADOS PESSOAIS
Filiação: Pedro Alexandrino Oliveira e de Diana Piló Oliveira
Data e local de nascimento: 19 de março de 1947, em Belo Horizonte (MG)
Profissão: Estudante/Bancário
Atuação política: Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do Destacamento B das Forças Guerrilheiras do Araguaia
Data e local da morte/desaparecimento: Desaparecido em 4 de agosto de 1974 no Araguaia
Organização política: Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Arquivos

RELATO DO CASO

Mineiro de Belo Horizonte, Pedro fez o 1º e o 2º graus no Colégio Anchieta, naquela capital.

Foi um filho e um irmão muito amigo, amoroso e alegre. Perto ou longe, participava intensamente da vida da família e tratava as três irmãs, Ângela, Eliana Maria e Diana

Maria, com um carinho incomum. Gostava muito de cantar e fazia serenatas com os seus amigos, inclusive para as próprias irmãs. Duas eram as músicas de sua preferência, as que mais marcaram sua irmã Eliana: Perfídia e Relógio.

Era uma pessoa tranqüila e muito querida por seus inúmeros amigos: Fredinho Silésio,

Leonardo Andrade, Didiu e muitos outros.

Pedro trabalhou no antigo Banco Hipotecário, hoje Banco do Estado de Minas Gerais e, quando foi transferido para São Paulo (SP), em 1967, lá terminou seus estudos, fazendo também um curso de inglês. Estudante universitário, Pedro participou ativamente do movimento estudantil na capital paulista.

Retornou a Belo Horizonte em 1969, onde já era procurado. Pedro Alexandrino passou

o Natal de 1969 com a família, almoçando com todos na casa dos avós.

Foi preso em dezembro do mesmo ano, na casa de sua irmã Ângela, no bairro Gutierrez, para onde foi quando se sentiu seguido e ameaçado. Ainda no interior da casa de Ângela, que se encontrava no trabalho, levou coronhadas na cabeça e pontapés, foi colocado nu e espancado na frente de suas duas sobrinhas, de 3 e 4 anos de idade.

Levado para o DOPS/MG foi torturado com choques elétricos, pau-de-arara, palmatória, simulação de enforcamento e outras atrocidades.

Quando foi solto, estava surdo de um ouvido e o outro se encontrava em estado lastimável. Logo depois, mudou-se para o Sudeste do Pará, em uma região próxima ao rio Araguaia.

Pedrinho – como era carinhosamente chamado pela família – ou Peri, como era chamado pelos companheiros, ao transferir-se para lá, foi residir na região do rio Gameleira.

A partir desse período, a família não teve mais paz: a casa onde moravam era freqüentemente invadida por policiais à procura de Pedro Alexandrino. Sua mãe, Diana, não suportando as constantes violências, resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro, para tentar descobrir o paradeiro de seu filho. Procurou por ele com o casal Edgar e Cirene (hoje falecidos), que buscavam notícias de dois filhos e uma nora, também desaparecidos na Guerrilha do Araguaia (Elmo Corrêa, Maria Célia Corrêa e Telma Regina Cordeiro Corrêa). Entraram em contato com entidades de direitos humanos, em São Paulo, Brasília e Genebra (Suíça), com a Comissão Justiça e Paz do Rio de Janeiro, a Associação Americana de Juristas, a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Grupos Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás e com o Instituto Médico Legal de Minas Gerais.

Nessa ocasião, a família soube que ele tinha uma namorada, Tuca (Luisa Augusta Garlippe, também desaparecida em junho de 1974), enfermeira do Hospital das Clínicas de São Paulo e que havia ido com ele para o Pará.

As cartas escritas por Pedro Alexandrino para a família eram extremamente afetivas e

carinhosas. As saudades eram sempre imensas e a vontade de poder abraçar, beijar, sorrir e cantar com as irmãs era seu cuidado constante. Sempre se colocava como um grande amigo e companheiro delas, para o que viessem a precisar algum dia.

Perguntava pelos sobrinhos, queria notícias de todos. De seus projetos pessoais e de sua vida, pouco falava. Mas falava de sua caminhada, de seu compromisso com o povo brasileiro, do significado da luta política, da importância da honestidade, da seriedade, do crescimento interior, de atitudes decentes e até da vontade de ter um filho um dia. Dizia em uma das cartas: “Tudo do amanhã está sempre no campo das possibilidades, é de hoje que temos a certeza, é hoje que criamos as condições objetivas para o amanhã”.

De acordo com o Relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo

Arroyo, que escapou do cerco militar à região da guerrilha no início de 1974, em 30 de dezembro de 1973 Pedro estava vivo.

O relatório do Ministério da Marinha encaminhado ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em 1993, afirma que “[…] foi morto em 4 de agosto de 1974, em Xambioá”. O relatório do Ministério do Exército afirma que Pedro Alexandrino Oliveira Filho participou da Guerrilha do Araguaia, usando os codinomes de Moisés, Chico e Peri, sem esclarecer sobre o seu paradeiro.

No Livro do jornalista Leonencio Nossa, “Mata! O Major Curió e as guerrilhas no Araguaia”, temos: “Pedro Alexandrino, o Peri, perdera os reflexos, cambaleava na mata próxima de São Geraldo. A garrucha não funcionava mais. Paraquedistas o encontraram na selva. O guerrilheiro mineiro foi executado com tiro na cabeça. O tenente-coronel Léo Frederico Cinelli, que tudo anotava naqueles dias finais de combate, nada publicou sobre a morte do jovem de 27 anos, companheiro de Tuca” (p. 212).

Em matéria do jornal O Estado de S. Paulo, de 4 de março de 2004, temos as seguintes informações sobre Pedro Alexandrino:

“Dois corpos crivados de balas foram despejados na pista. Sem camisa, vestiam bermudas jeans desfiadas, presas com cintos de couro. Um deles estava descalço, o outro usava tênis Topa Tudo. Foram chutados pelos militares. Um soldado pegou o facão e abriu um buraco no peito de um dos mortos. “Tem gordura aí?”, zombou.

O cadáver com o peito aberto a facão era do guerrilheiro Peri, de 27 anos, disfarce do bancário Pedro Alexandrino de Oliveira Filho. O outro era de Batista, um dos poucos camponeses que os membros do PC do B conseguiram cooptar para a luta. Os dois foram mortos juntos. Batista, conforme relatos de agricultores da região, foi preso com a guerrilheira Áurea [Áurea Eliza Pereira Valadão] perto da casa de uma camponesa amiga. O soldado Antônio Fonseca e um colega foram escalados para sepultar os corpos numa cova dentro da base. Eles já estavam duros, conta. Fonseca pegou Peri pelos cabelos, levantou-o e jogou-o nas costas. O colega fez o mesmo com Batista. Ambos foram largados no mesmo buraco, um por cima do outro. Para cobrir os corpos foi usado um pano com listras vermelhas e brancas. Um camponês que estava preso na base encheu a cova de terra.”

Em abril de 1995, durante um debate no Center for Strategic International Studies, em

Washington, o então presidente Fernando Henrique Cardoso foi interpelado publicamente pela irmã de Pedro Alexandrino, a professora Ângela de Oliveira Harkavy, da George Mason University, sobre o destino de seu irmão e dos demais desaparecidos políticos. O presidente lhe respondeu não dispor das informações naquele momento, mas prometeu procurá-la para responder aos familiares dos desaparecidos, que ainda não foram informados.

Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pela desaparição de 62 pessoas na região do Araguaia no caso Gomes Lund e Outros (“Guerrilha do Araguaia”) VS. Brasil, dentre elas está Pedro Alexandrino. A sentença obriga o Estado Brasileiro a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas.

Seu nome consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I da lei 9.140/95. Na CEMDP, o caso de Pedro foi protocolado com o número 112/96.

Em carta conjunta escrita por Diana Piló Oliveira e Carmen Navarro Rivas, mães de Pedro Alexandrino Oliveira Filho e Hélio Luiz Navarro de Magalhães (também desaparecido em março de 1974), respectivamente, elas pedem à CEMDP não o pagamento de indenização previsto em lei, mas que as autoridades dêem notícias que possam esclarecer o mistério que envolve o desaparecimento de seus filhos e, se estiverem mortos, a localização de seus restos mortais.

Em sua homenagem, as cidades de Belo Horizonte e Campinas deram seu nome a ruas situadas nos bairros Braúnas e Vila Esperança, respectivamente.

 

Fontes investigadas:

 

Conclusões da CEMDP; Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil – 1964-1985, IEVE; Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Contribuição da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 31ª audiência pública sobre os casos dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, nascidos em São Paulo ou que tiveram atuação política principalmente nesse Estado: Antonio Guilherme Ribeiro Ribas, Gilberto Olimpio Maria, Miguel Pereira dos Santos, Manoel José Nurchis, Orlando Momente, Cilon da Cunha Brum, Pedro Alexandrino Oliveira Filho, Jaime Petit da Silva, Lucio Petit da Silva, realizada no dia 12/04/2013; Operação Araguaia: os arquivos secretos da Guerrilha. 5ª edição Taís Morais e Eumano Silva, 2012, São Paulo; Mata! O Major Curió e as Guerrilhas do Araguaia/ Leonencio Nossa -1ªed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

 

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

Órgão / Período

 

Nome

 

  •  
  •  

Vivo/data do óbito

  •  

PRESIDENCIA DA REPUBLICA FEDERATICA DO BRASIL 1974-1979

ERNESTO GEISEL

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Responsável pela adoção de uma política de extermínio das Forças Guerrilheiras do Araguaia

Morto

“Antes de tomar posse, em 16 de fevereiro de 1974, [Ernesto] Geisel chamou o general Dale Coutinho para uma conversa. Velhos amigos, falaram de política e de combate à subversão. O jornalista Elio Gaspari, em A Ditadura Derrotada, reproduz o dialogo: “Ah, o negocio melhorou muito. Agora, melhorou, aqui entre nós, foi quando nós começamos a matar. Começamos a matar” - afirmou Coutinho. “Porque antigamente você prendia o sujeito e o sujeito ia lá pra fora (…) Ô Coutinho, esse troço de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser”, respondeu Geisel. […] Ao concordar com o método de eliminação de adversário sugerido pelo general, o futuro presidente autorizou a linha-dura a continuar o extermínio. No mesmo encontro, Geisel convida Dale Coutinho para substituir o irmão Orlando no Ministério do Exército.” Informação consta no livro Operação Araguaia (p. 492)

CENTRO DE INFORMAÇÃO DO EXÉRCITO (CIE)

LÉO FREDERICO

CINELLI

Tenente-coronel do Exército do Centro de Triagem e Informações (ss)

Sequestro, assassinato e desparecimento forçado de guerilheiros no Araguaia.

 

Informação no livro “Mata! O major Curió e as Guerrilhas no Araguaia” p. 212.

CENTRO DE INFORMAÇÃO DO EXÉRCITO (CIE) 1969-1974

Milton Tavares de Souza

General e diretor do Centro de

Informações do Exército

Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia

Morto

“Miltinho era o general Milton Tavares de Souza, também conhecido como “Caveirinha”. Foi diretor do Centro de

Informações do Exército enquanto Orlando Geisel era Ministro do Exército, durante o governo Médici. Nessa função, foi

responsável pela política de eliminação física dos inimigos do regime. Foi ainda responsável em 1969 pela organização

dos DOI-CODI em todo o Brasil e das operações Bandeirantes e Marajoara, que prepararam o terreno para os

desmantelamento da Guerrilha do Araguaia” Informação consta no depoimento dado pelo coronel do Exército Paulo Malhães a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014 (p. 54).

Gabinete Militar 1974-1979

Hugo de Andrade Abreu

Chefe Gabinete militar de 1974-1979 e Comandante da Brigada Pára-Quedista

Desaparição forçada dos guerrilheiros e guerrilheiras no Araguaia

Morto

A reunião, confirmada pelo coronel Sebastião “Curió” Rodrigues, do Centro de Informações do Exército (CIE), mudou a postura do governo. A partir do final de 1973, não restariam mais sobreviventes nas guerrilhas. Transferido para a direção da Polícia Federal, Bandeira foi substituído no Araguaia pelo general Hugo Abreu, da Brigada de Pára-quedistas. O general Milton Tavares, chefe do CIE, comandava as ações de extermínio. A missão ficou dividida entre os três ministros militares e a orientação era não deixar rastros. O CIE encarregou-se do Araguaia e dos militantes caçados pelos órgãos de repressão do Cone Sul. Com Geisel no poder (1974-1979), um grupo do DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo deveria exterminar os sobreviventes do PCdoB e o Comitê Central do PCB.” Informação consta na matéria “A Ordem é matar” da Revista ISTOÉ de 24/03/2004

COMANDO MILITAR DO PLANALTO

OLAVO VIANNA MOOG

General e Comandante do Comando Militar do Planalto

Utilização de bombas napalm contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia

Vivo

Informação no relatório “Araguaia I” produzido por Claudio Fonteles para a Comissão Nacional da Verdade (p.8)

ESTADO-MAIOR DAS FORÇAS ARMADAS

ALVARO DE SOUZA PINHEIRO

Coronel de infantaria, atuava como oficial de ligação do Exército Brasileiro junto ao Centro de Armas Combinadas e à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA. Atualmente é General de Brigada (reserva)

Utilização de bombas napalm contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia

Vivo

Informação consta no anexo 004.

 

DOCUMENTOS CONSULTADOS

1. Documentação principal

 

Identificação do documento

 

Órgão da repressão

 

Observações

Anexo

Dossiê para Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)

 

Documento encaminhado à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos por Diana Piló Oliveira, mãe de Pedro Alexandrino Oliveira Filho, no dia 09/02/1996

001-dossie_cemdp.pdf

Foto Pedro Alexandrino

 

 

003-foto_pedro_alexandrino.pdf

Artigo escrito pelo general da brigada na reserva, Álvaro de Souza Pinheiro, para a série "Guerrilha na Amazônia: uma experiência no passado, o presente e o futuro" (publicado originalmente na: Military Review 1º Trim 95 Ed Português)

Estado-Maior das Forças Aramadas

Informações sobre o uso de bombas napalm durante a Guerrilha do Araguaia “Concepção equivocada nos níveis operacional e tático. O planejamento e a condução das

operações inicialmente desencadeadas no "Bico do Papagaio" partiram do pressuposto que as

ações de contra-guerrilha a serem executadas seriam aquelas que normalmente são

desencadeadas contra forças já no estágio de Exército de Libertação Nacional, to tipo "martelobigorna",

"pistão-cilindro", etc. Uma das primeiras operações efetuadas na área foi uma ação de

vasculhamento na única serra existente na região, a serra das Andorinhas, que se caracterizava

por não ter cobertura vegetal. Após ser bombardeada com napalm pela Força Aérea, a serra foi

objeto de uma vigorosa ação de cerco e busca efetuada por um grande efetivo. E o resultado foi

nulo porque os guerrilheiros nunca lá estiveram. Por outro lado, no terreno de selva, as patrulhas

se deslocavam com um efetivo de pelotão, 35 a 40 homens, pelas trilhas, enquanto os grupos da

guerrilha se deslocavam através selva, com um efetivo de 5 a no máximo 10 elementos. Dessa

forma as ações iniciais se mostraram extremamente ineficazes.”

004-artigo_cel_alvaro_napalm.pdf

31ª audiência pública sobre os casos dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia realizada no dia 12/04/2013.

 

Comissão da Verdade do Estado de São Paulo: 31ª audiência pública sobre os casos dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia realizada no dia 12/04/2013.

005-audiencia_comissao_sp-n31.pdf

Fichas entregues ao jornal O Globo, em 1996, por militar (anônimo) que participou da Guerrilha do Araguaia

 

Consta uma ficha com os dados pessoais de Pedro Alexandrino

006-fichas_entregues_jornal_ globo_1996.pdf

Relatórios dos Ministérios Militares entregues ao deputado federal Nilmário Miranda, presidente da Comissão de Representação Externa da Câmara, em 1993

 

Relatório da Marinha afirma que Pedro Alexandrino de Oliveira foi “Morto em 4 AGO 74”

007-relatorio_marinha_pedro.pdf

Comissão Nacional da Verdade

 

Cadeia de Comando Guerrilha do Araguaia

008-cadeia_comando_araguaia.pdf

 

2. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

Documento

Fonte

Observações

Anexo

Ficha dados físicos Pedro Alexandrino Oliveira Filho

Dossiê para Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)

 

002-dossie_cemdp_ficha_dados_fisicos.pdf

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

Nome

Relação com o morto / desaparecido

Informação

 

Fonte

 

ÂNGELO ARROYO

Dirigente do Partido Comunista do Brasil

Consta no relatório que escapou do cerco militar à região da guerrilha no início de 1974, em 30 de dezembro de 1973 Pedro estava vivo

Relatório Arroyo (1974)

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

Nome

Órgão/Função

Informação

Fonte

PAULO MALHÃES

Coronel do Exército e agente do Centro de

Inteligência do Exército (CIE)

 

“a participação durante a Guerrilha do Araguaia, como repórter infiltrado da Presidência, na região, e a posterior

atuação na Operação Limpeza que desenterrou e lançou no Rio Araguaia os restos mortais dos guerrilheiros. Para [Paulo] Malhães era ‘apenas um trabalho científico, adquirido em cursos de aperfeiçoamento’. Em suas próprias

palavras:

‘Quando o troço virou guerra, guerra mesmo, é que as coisas mudaram. Porque a gente também foi aprender fora, alguma coisa. Aí os perfis das prisões daqui mudaram; a forma de contato com os presos mudaram;

surgiu a necessidade de aparelhos; porque - isso foi uma grande lição que eu aprendi - o que causa maior pavor, não é você matar a pessoa. É você fazer ela desaparecer. O destino fica incerto. O seu destino como... fica incerto. O que aconteceu, o que irá acontecer comigo? Eu vou morrer? Não vou morrer? Entendeu? O pavor é muito maior com o desaparecimento do que com a morte. Já quando você desaparece - isso é ensinamento estrangeiro – quando você desaparece, você causa um impacto muito mais violento no grupo. Cadê o

fulano? Não sei, ninguém viu, ninguém sabe. Como? O cara sumiu como?” (p. 2) e “Malhães: ‘Quando nós chegamos, eles nos chamavam de a Força. Não tinha nome porque não sabiam se era Exército, Marinha, Aeronáutica’

CEV-RJ: ‘Os moradores ou os guerrilheiros?’

Malhães: ‘Os moradores. Chegou a Força. Então víamos quem era o

campeiro, perguntávamos se o campeiro queria trabalhar, pagava ao campeiro, ele era remunerado, é logico, e ele passava a trabalhar em uma destas zebras. E foi o que acabou com eles lá. CEV-RJ:

‘Os senhores montaram quantas zebras?’ Malhães:

‘Ah, era variável à beça..’. CEV-RJ:

‘Mas, apesar do lugar, a técnica é muito similar com o que o senhor já

vinha acumulando com conhecimento, mapeamento?’ Malhães: ‘Mas, ali era procurar o guerrilheiro, não queria saber quem era. Se ali passava guerrilheiro, nós íamos pegar o guerrilheiro ali.

CEV-RJ: ‘Mas, este apoio local, o senhor acha que isto foi uma boa tática que vocês usaram?’

Malhães: ‘Foi a melhor coisa que nós descobrimos na vida para guerrear no

mato. Você conheceu a selva amazônica, você sabe que o dia vai clarear às 10hs da manhã, se clarear um pouquinho, vai escurecer antes das quatro da tarde, aquelas árvores gigantescas fecham. Você anda de lama até aqui...né?

Se você andou no meio do mato’

CEV-RJ: ‘Andei lá, tudo.’

Malhães: ‘Você sabe que anda de lama de folha. Não é lama de terra, é lama das folhas que caem, apodrecem e faz uma lama. Então, é difícil. A guerrilha,

tanto é que o americano perdeu na guerrilha. Perdeu porque o americano, como perde em tudo quanto é país que ele ocupa, ele erra em um principio

básico e aí.. porque ele quer fazer daquele lugar que ele ocupa o mesmo

estilo de vida que o americano tem nos Estados Unidos. Ele jamais vai

conseguir convencer aquela população a aceitar aquele estilo de vida. Então foi

o grande erro deles..’

CEV-RJ: ‘O senhor não ficou muito tempo lá, não é?’

Malhães: ‘Não, eu ia de vez em quando.’ CEV-RJ:

‘Já no final, meados de 70?’

Malhães:

‘Depois da passagem das tropas. Logo depois vieram as zebras.

Aí eu já estava começando as zebras. Porque o general Bandeira, que era o

comandante da região, no caso, comandante de guerra da região, era também meu chapa. Porque tudo é amizade que você vai fazendo. Vão gostando do seu trabalho, o cara passa admirar você, embora seja coronel, seja general..’

CEV-RJ: ‘E foram lhe dando espaço?’

Malhães: ‘... então, ele passa a acreditar no seu trabalho. Então, o general Bandeira era muito meu amigo, era amigo do Curió...

CEV-RJ: ‘O senhor tinha relação boa com o Curió também?’

Malhães: ‘Tinha. Eu sacaneava muito o Curió. Brincava muito com ele. Por

que o Curió era muito fantasioso. Não sei se ainda é. Ele era muito fantasioso.

Ele fazia grandiosidade de bobo. Quando a gente ia ver na realidade, não era nada daquilo. Eu sacaneava muito ele, brincava muito com ele. Mas ele era trabalhador” (p.14)

Depoimento dado a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro publicado dia 30/05/2014.

 

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”

 

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Pedro Alexandrino Oliveira Filho é considerado desaparecido político, por não ter sido entregue os restos mortais aos seus familiares, não permitindo o seu sepultamento até os dias de hoje. Conforme o exposto no parágrafo 103 da Sentença da Corte Interamericana no Caso Gomes Lund e outros: “adicionalmente, no Direito Internacional, a jurisprudência deste Tribunal foi precursora da consolidação de uma perspectiva abrangente da gravidade e do caráter continuado ou permanente da figura do desaparecimento forçado de pessoas, na qual o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subseqüente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade (...)”.

No parágrafo 110 do mesmo documento é mencionado que: “(...) pode-se concluir que os atos que constituem o desaparecimento forçado têm caráter permanente e que suas consequências acarretam uma pluriofensividade aos direitos das pessoas reconhecidos na Convenção Americana, enquanto não se conheça o paradeiro da vítima ou se encontrem seus restos, motivo pelo qual os Estados têm o dever correlato de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis, conforme as obrigações decorrentes da Convenção Americana”.  (Sentença da Corte Interamericana, p. 38 e 41, publicação da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo).

Recomendações: Investigação das circunstâncias da prisão, morte e desaparecimento de Pedro Alexandrino Oliveira Filho, localização dos seus restos mortais e responsabilização dos agentes da repressão envolvidos no caso, conforme sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o Estado Brasileiro “a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas”; Retificação e indicação da causa mortis no atestado de óbito; que o Brasil realize um ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional e de pedido oficial de desculpas pelas graves violações de direitos humanos perpetradas contra as vítimas do presente caso, especificamente, pela denegação de justiça, como regulamenta o parágrafo 275 da Sentença da Corte Interamericana.

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