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INICIAL DO NOME:

TITO DE ALENCAR LIMA

OCORRÊNCIA

Suicidou-se em 7 de agosto de 1974, no exílio, na França

DADOS PESSOAIS
Filiação: Ildefonso Rodrigues de Lima e Laura de Alencar Lima
Data e local de nascimento: 14 de setembro de 1945, em Fortaleza (CE)
Profissão: Frade dominicano
Atuação política: Juventude Estudantil Católica (JEC), militante da Ação Católica
Data e local da morte/desaparecimento: Suicidou-se em 7 de agosto de 1974, no exílio, na França
Organização política: Ação Católica.

RELATO DO CASO

Frei Tito de Alencar Lima nasceu em 14 de setembro de 1945, em Fortaleza (CE), filho caçula de Ildefonso Rodrigues de Lima e Laura de Alencar Lima. Suicidou-se em 10 de agosto de 1974, no exílio, na França (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Era frade dominicano. Estudou em Fortaleza com os padres jesuítas. Iniciou sua militância na União Cearense de Estudantes Secundaristas e, a seguir, foi dirigente da Juventude Estudantil Católica (JEC). Em 1965, ingressou na Ordem dos Dominicanos, sendo ordenado sacerdote em 1967. Também foi aluno de Ciências Sociais da USP (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Como militante da Ação Católica, foi seu coordenador para a região Nordeste. Foi preso em 12 de outubro de 1968 no sítio onde teve início o XXX Congresso da UNE, na cidade de lbiúna (SP) (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592). Juntamente com Tito, foram presos e fichados no DEOPS mais de 700 estudantes universitários.

Foi preso novamente em 4 de novembro de 1969, em companhia de outros dominicanos acusados de terem ligações com a Ação Libertadora Nacional (ALN) e seu dirigente, Carlos Marighella, assassinado pela equipe do delegado Sérgio P. Fleury, do DOPS/SP, no mesmo dia (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Frei Tito foi torturado pela equipe do delegado do DOPS Sérgio Fernando Paranhos Fleury e, depois, foi transferido para o Presídio Tiradentes, onde permaneceu até 17 de fevereiro de 1970. Nesse dia, foi levado para a sede da Oban (posteriormente reorganizada como DOI-CODI), onde o torturador capitão Maurício Lopes Lima lhe disse ao chegar: “Agora você vai conhecer a sucursal do inferno” (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Tito foi torturado no pau-de-arara com choques elétricos em diversas partes do corpo; levou socos, pauladas, “telefones”; enfrentou um “corredor polonês” e foi queimado com cigarros (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592). Tito foi o primeiro dos frades a ser levado para novos interrogatórios sob tortura porque o dono do sítio de Ibiúna fora preso e os militares descobriram que fora Tito quem intermediara o empréstimo do local para sediar o Congresso da UNE.

Tentou o suicídio com uma gilete, sendo conduzido ao Hospital Central do Exército, no bairro do Cambuci, onde ficou cerca de uma semana (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592). Com esse ato, evitou que seus confrades voltassem a ser interrogados e torturados no DOI-CODI.

As torturas sofridas por Frei Tito foram relatadas em documento redigido por ele, anexado ao seu caso na CEMDP:

Na quinta-feira, três policiais acordaram-me à mesma hora do dia anterior. De estômago vazio, fui para a sala de interrogatórios. Um capitão cercado por sua equipe voltou às mesmas perguntas – Vai ter que falar senão só sai morto daqui – gritou. Logo depois vi que isto não era apenas uma ameaça, era quase uma certeza. Sentaram-me na Cadeira do Dragão (com chapas metálicas e fios), descarregaram choques nas mãos e um na orelha esquerda. A cada descarga, eu estremecia todo, como se o organismo fosse se decompor.

Da sessão de choques, passaram-me ao pau de arara. Uma hora depois, com o corpo todo ferido e sangrando, desmaiei. Fui desamarrado e reanimado. Era impossível saber qual parte do corpo doía mais: tudo parecia massacrado. Mesmo que quisesse, não poderia responder às perguntas: o raciocínio não se ordenava mais, restava apenas o desejo de perder novamente os sentidos. Isso durou até as dez horas, quando chegou o Capitão Albernaz. Nosso assunto agora é especial, disse o Capitão Albernaz, e ligou os fios em meus membros. Quando venho para a OBAN – disse – deixo o coração em casa. Tenho verdadeiro pavor a padre e para matar terrorista nada me impede. A certa altura, o Capitão Albernaz mandou que eu abrisse a boca para receber “a hóstia sagrada”. Introduziu um fio elétrico. Fiquei com a boca toda inchada, sem poder falar direito (apud Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

 

Banido do país em 13 de janeiro de 1971, com mais 69 presos políticos trocados pelo embaixador suíço sequestrado, Giovanni Enrico Bucher, foi para o Chile e depois para a Itália e a França. Até junho de 1973, viveu no convento S. Jacques, em Paris, onde tentou retomar seus estudos na Sorbonne. Depois, mudou-se para o convento dominicano de Sainte-Marie de la Tourette, em Eveux, província de Lyon. Em 23 de fevereiro de 1973, estando no exílio, foi condenado na 2ª Auditoria Militar de São Paulo a um ano e meio de reclusão (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Em 10 de agosto de 1974, enforcou-se em uma árvore perto de Villefranche-sur-Saône, conforme foi retratado no filme Batismo de Sangue de Helvécio Ratton, produzido em 2006. Foi enterrado no cemitério de Sainte Marie de la Tourette (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Em 25 de março de 1983, suas cinzas, ao lado dos restos mortais de Alexandre Vannuchi Leme, foram recebidos na Catedral da Sé em São Paulo (SP), onde foi realizada uma celebração litúrgica com a presença de D. Paulo Evaristo Arns, em homenagem aos dois. A seguir, suas cinzas foram enterradas no jazigo da família, em 26 de agosto do mesmo ano, em Fortaleza (CE) (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

A relatora do caso na CEMDP, Maria Eliane Menezes de Farias, destacou vários registros da participação de Tito de Alencar Lima em atividades políticas, chamando a atenção para as inúmeras brutalidades sofridas que teriam culminado em seu suicídio, demonstrando o nexo causal entre o suicídio e as torturas e perseguições por motivação política, na forma do disposto no art. 4º, I, “d”, da lei 9.140/95 (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Ao elaborar seu voto, Maria Eliane Menezes de Farias afirmou que:

[…] a vasta documentação acostada aos autos confirma os fatos quanto à militância política de Tito de Alencar Lima, seu sofrimento e morte, por suicídio, em consequência das sequelas resultantes de atos de tortura praticados por agentes do poder público. Provada a relação de causa e efeito entre a prisão, tortura e posterior desequilíbrio psíquico que levou Frei Tito ao suicídio, reconheço-o como vítima da ditadura militar (apud Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

 

O seu caso foi aprovado por unanimidade em 10 de agosto de 2004. Em sua homenagem, a cidade de Belo Horizonte deu o seu nome a uma rua localizada no bairro Goiânia (Direito à memória e à verdade, 2007, p. 392-393; Dossiê Ditadura, 2009, p. 591-592).

Fontes e documentos consultados: Dossiê Ditadura – Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964-1985), IEVE, 2009, p. 591-592. Direito à memória e à verdade – Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Brasília: 2007, p. 392-393. Um homem torturado – Nos passo de frei Tito de Alencar. Leneide Duarte-Plon Clarisse Meireles. Rio de janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2014.

IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES DA MORTE\DESAPARECIMENTO

  1.  

 

Órgão/Período

Nome

Função

Conduta

Vivo/óbito

Observações

 

Nelson Guimarães

Juiz auditor

 

 

Encaminhou Frei Tito para a Oban.

DOPS-SP/1970

Sérgio Fernando Paranhos Fleury

Delegado/Torturador

Tortura.

 

 

DOI-CODI/1970

Maurício Lopes Lima

Capitão/Torturador

Tortura.

 

Chefe da equipe de torturadores.

DOI-CODI/1970

Benoni de Arruda Albernaz

Capitão/Torturador

Tortura.

 

 

 

 

 

 

  1. DOCUMENTOS CONSULTADOS

 

  1. Documentação principal

 

Identificação do documento

Órgão da repressão

Observações

Anexo

Documentos do Dossiê da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos e do arquivo do Instituto de Estudos da Violência do Estado (IEVE).

 

Consta no conjunto de documentos do Dossiê da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos, dentre documentos referentes à morte de Frei Tito e notícias sobre o caso, nas folhas  42 e 43, certidão de nascimento de Tito de Alencar Lima, na folha 44 seu título eleitoral.

Folhas 72 à 75 depoimento de Frei Tito sobre a sua prisão e tortura. Folhas 76 à 85 depoimentos sobre o caso.

Das folhas 230 à 252, Arquivo do Instituto de Estudos sobre a Violência no Estado,  documentos referentes à Frei Tito no DOPS.

001-Tito-de-Alencar-Lima.pdf

Depoimento do Frei Tito de Alencar Lima no Chile em 1971

 

Frei Tito de Alencar Lima declara em depoimento no Chile em 1971 ter sofrido tortura, no documentário “Brazil, a report on torture” de Saul Landaue Haskell Wexler.

002-Frei-Tito-Depoimento-no-Chile-1971.mp4

Documentário sobre Frei Tito, 1983

 

Documentário sobre o caso de Frei Tito de Alencar Lima, de Marlene França, 1983.

003-Frei-Tito-Marlene-França-1983.mp4

 

 

2. Prova pericial e documental (inclusive fotos e vídeos) sobre a morte/desaparecimento

 

Documento

Fonte

Observação

Anexo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3. Testemunhos sobre a prisão, morte/desaparecimento

 

Nome

Relação com o morto/desaparecido

Informação

Fonte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4. Depoimento de agentes da repressão sobre a morte/desaparecimento

 

Nome

Órgão / Função

Informação

Fonte com referências

 

 

 

 

 

 

 

 

OBS: Em anexo cópias de todos os documentos reunidos pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O CASO

Conclusão: Tito de Alencar Lima foi perseguido, preso e torturado por parte de agentes públicos vinculados à repressão política, que resultaram em abalo físico e mental, ocasionando seu suicídio.

Recomendações: Desde que Tito de Alencar Lima foi reconhecido como preso e morto sob a responsabilidade do estado, nos termos da Lei 9.140/95, cabe a este esclarecer em que circunstâncias se deram sua prisão e responsabilizar os agentes públicos  que  cometeram tais crimes. 

Ação Católica.

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